Dia 18 de abril de 2018. Uma bola cruzada cai na área. A confusão é grande, mas há um jogador, de vermelha e branca vestida, que toca na redondinha. Ela lá se foi a arrastar até se aninhar nas redes da baliza. Vibram onze jogadores. Vibra um estádio com alguns milhares. Vibram as Caldas da Rainha. Vibra Portugal. Foi o momento mais alto da história do Caldas Sport Clube. E quem melhor para falar sobre ele do que o treinador e o capitão de equipa? Quase dois meses depois do fim da histórica caminhada na taça da equipa amadora, José Vala, o mister, e Rui Almeida, o comandante, falaram aos nossos microfones.
Bola na Rede (BnR): Quais são os principais desafios ao jogar no Caldas?
José Vala & Rui Almeida (J&R): O principal desafio é sempre conseguir conciliar o futebol com a nossa atividade profissional e termos de lidar diariamente com as dificuldades inerentes ao facto de sermos amadores.
BnR: Qual é o “truque” que vocês arranjam para conciliar essas três vidas: a profissional, a desportiva e a pessoal?
J&R: No Caldas, ou noutro clube qualquer que funcione como o Caldas, não é fácil. É essencial gostar daquilo que se faz e alguns dos jogadores têm a ambição de chegar longe, ambição essa que também é extremamente importante. Acima de tudo, é gostar disto e dedicarmo-nos ao máximo. E tentar, obviamente, ser profissional também na nossa outra profissão.
BnR: Tudo isto foi um sonho tornado realidade ou nem nos melhores sonhos imaginavam isto?
J&R: Eu acho que nem nos melhores sonhos, porque isto foi, inclusive, muito mais do que aquilo que passou para a comunicação social. Quem vive nas Caldas e quem esteve presente naqueles jogos – em que disputámos, até, três prolongamentos – conquistou memórias que irão perdurar para o resto da vida. Uma equipa amadora conseguir isto e o clube conseguir alcançar essa proximidade com a cidade foi o nosso maior feito. Atualmente – e é meramente um número, mas dá para as pessoas perceberem – foram vendidas duas mil camisolas do clube. Isto tem um impacto brutal.
BnR: Um dos vossos principais trunfos, e falou-se muito disso, foi o facto de o Caldas ter jogado em casa. O que é que a “Mata Encantada” tem que os outros campos não tenham?
J&R: É especial! A partir de certa altura começou a ser ainda mais especial. Desde a primeira reportagem que fizeram connosco, quando atribuíram esse nome da “Mata Encantada”, começou-se a interiorizar que ela era especial e começámos a sentir que os adversários tinham algum receio. O Rui até disse uma vez que “eles sabem que têm de vir à Mata Encantada e que não é fácil”.
BnR: Os adversários tinham medo de jogar com o Caldas ou na “Mata Encantada”?
J&R: Não sei! Isso aí tens de perguntar a eles! [risos] Eu lembro-me de que no princípio falavam muito do estado do nosso relvado: de facto, no jogo contra o Farense o relvado estava um lamaçal. Havia muita gente que dizia que nós ganhávamos por causa disso. Acho que provámos, na eliminatória frente ao Aves, que não era por causa disso que vencíamos os jogos. Quem se queixa mais do nosso relvado somos nós próprios, porque a nossa forma de jogo não se adapta a esse tipo de terreno.