A Referência do Wrestling Português – Entrevista a Bruno “Bammer” Brito

    BnR: Voltando à tua carreira, que desafios tiveste de enfrentar ao começares a praticar Wrestling?

    B: A nível de técnica não tive grandes dificuldades. Aprender as manobras, na minha opinião, não é difícil. Senti-me sempre com uma aptidão para as coisas. O mais difícil foi fora do ringue. Em primeiro lugar, toda a questão sobre os preconceitos do Wrestling e levar com a família a dizer que isto não fazia sentido. É sempre difícil e causa algum desgaste. A alimentação também foi outra dificuldade. Quando comecei, com 18 anos, tinha 75 quilos, comia pouco e comia mal e ter essa disciplina foi complicado.

    BnR: Falaste dos preconceitos sobre o Wrestling. Ainda existem pessoas a dizer que Wrestling é falso, que é tudo combinado e que os golpes são a fingir. Como respondes a essas opiniões?

    B: Em Portugal há mais isso, na América já não há tanto porque a América está muito mais exposta ao Wrestling. Há dois caminhos para responder a isso. Pode ser pelo caminho da arte e pelo caminho do cinema. O caminho do cinema é tu saberes que o que vês não é 100% real mas tu quereres acreditar que é e deixas-te levar. Se a historia e os actores forem bons, tu vais acabar por te envolver e nem vais pensar que o que estás a ver não é real. O Wrestling também consegue ser assim, se os lutadores derem um bom combate, se a história for interessante, nem te lembras que estás a ver duas pessoas que se for preciso vão jantar fora depois do combate. Depois temos a questão da arte que para mim é mais importante. Quando estou a ver Wrestling, principalmente o Wrestling japonês, vejo duas pessoas que estão a tentar ganhar o combate e que usam os golpes como palavras para contar uma história e é assim que tento fazer nos meus combates. Eu gosto de contar uma história única em cada combate, e isso para mim é um processo criativo e artístico, daí também ser arte.

    BnR: Foi fácil conciliar o Wrestling e a tua vida profissional?

    B: Sim, foi, porque o Wrestling nacional não tinha evoluído muito. Na altura, ia treinar à escola do Tarzan Taborda, aos fins-de-semana, e durante a semana fazia musculação. Era fácil porque o Wrestling era ao fim de semana, nunca falhava treinos, tinha notas decentes, senti sempre uma facilidade no que toca a ligar o meu curso, marketing, ao Wrestling. Acho que o Wrestling é uma grande escola de marketing.

    Bammer enquanto campeão Fonte: Facebook Oficial de Bruno "Bammer" Brito
    Bammer enquanto campeão
    Fonte: Facebook Oficial de Bruno “Bammer” Brito

    BnR: A WWE era o teu sonho? Chegaste a achar que era possível chegar lá?

    B: Sim, antes de ir para o Canadá era esse o meu objectivo. Queria ser campeão Intercontinental. Sabia que ia ser difícil ser campeão Mundial, pois não tinha o carisma, não tinha o look, mas sentia que podia chegar ao título Intercontinental, pois esse título era associado ao lutador mais técnico. Pelo caminho é que percebi que aquilo era um bocado aborrecido, pois ou estava todo o dia na estrada ou estava a fazer tempo para o combate, que eram 5 ou 10 minutos. Todos os dias serem passados assim passou a ser difícil. Mesmo quando estava no treino estava aborrecido e o treino era de três horas. Pensava que se me aborrecia assim, sendo o treino de três horas, como seria num dia de combate, em que lutava 10 minutos e no resto do dia não acontecia nada. Também tem que ver com a idade, fui para lá com 23 anos, estava à espera de muita coisa. Olhando para trás percebo que ia ser mais do que suportável, arranjava um hobbie ou algo para matar tempo.

    BnR: Os wrestlers passam muito tempo juntos, mesmo fora do ringue. Isso é benéfico ou conviver sempre com as mesmas pessoas a certa altura pode desgastar as relações e o desempenho dentro do ringue?

    B: Os lutadores passam mais tempo com eles do que a família. Acabam por criar os seus grupos, viajam em conjunto. Mas isto é mais no circuito americano, onde tens cidades com seis horas de distância. Em Portugal é diferente. Podes ter uma data no Algarve, outra no Alentejo, mas andas no máximo três horas de carro. E em Portugal acabas por conhecer toda a gente do meio. Depois fazes o mesmo que fazes nas empresas. Tens um plantel de 12 ou 15 pessoas e a malta que se conhece melhor acaba por fazer um grupo, cada grupo almoça num sítio, uns vão num carro, outros noutro. Mas não existem grandes picardias nem grande competição, porque não há muito dinheiro em jogo.

    BnR: Foste campeão durante seis anos. Sentes que és uma referência no Wrestling em Portugal?

    B: Depende do que entendermos como referência. Referência é a minha alcunha no Wrestling português, é um facto, mas essa alcunha foi me dada por eu ser o que se deve esperar de um wrestler dentro do ringue. Tecnicamente, sou superior aos outros wrestlers, a nível de visual, tenho mais 20 quilos do que os restantes. Mas se isso se reflecte em notoriedade, eu diria que não. Tens o Luís Salvador, que também já deu muito ao Wrestling nacional, através do Wrestling.pt, uma marca que é bastante popular.

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