A Referência do Wrestling Português – Entrevista a Bruno “Bammer” Brito

    BnR: Como nasceu a ideia de criar uma Academia de Wrestling em Portugal?

    B: Nós treinávamos no ginásio do Tarzan Taborda e na altura em que fui para o Canadá, existia uma pessoa disposta a comprar um ringue na América e trazê-lo para Portugal. Quando vim do Canadá, percebi que não queria seguir a carreira de Wrestling profissionalmente, mas percebi que gostava de ensinar os meus amigos para que eles pudessem ensinar outras pessoas. O ringue foi para o Centro Shotokai de Queluz, que nos deu as boas-vindas e ofereceu-nos tudo e o Wrestling seria uma modalidade do Centro. Comecei o projecto com mais duas pessoas. O site da Academia já existia, eu tinha comprado um domínio para colocar notícias de Wrestling mas quando começou a haver treinos comecei a anunciá-los no site. Começou comigo a passar o conhecimento aos meus amigos mais próximos, alguns deles depois passaram a ser professores e com muita aprendizagem começamos a criar os cursos e as aulas. Ao início éramos apenas amigos que gostavam de Wrestling e não sabíamos como o fazer, mas agora já temos um programa para os alunos, prever o que podem ser daqui a seis meses, também já passaram tantos alunos que acaba por ser mais fácil perceber a margem de progressão.

    BnR: O Wrestling Portugal, ou Academia, nasceu em 2007, numa altura em que se dava o boom do Wrestling em Portugal. Isso ajudou ao crescimento do Wrestling Portugal?

    B: Sim, sem dúvida. Ao início tivemos aulas com 12 ou 15 pessoas, motivadas pelos shows na Sic Radical, pelos shows no MEO Arena e a linguagem do Wrestling era mais popular. Já tivemos alturas com quatro ou cinco alunos, tempos mais difíceis, e neste momento estamos numa boa fase, mas eu diria que era muito mais fácil em 2007.

    BnR: Quais são as características que levam a que se escolha um lutador para ser campeão do Wrestling Portugal?

    B: São necessários vários requisitos tanto dentro como fora do ringue. No ringue tens de ter um bom combate, tens de ser versátil e contar uma história, tens de ser corajoso, ter uma boa condição física. Fora do ringue, tens de ser respeitado no balneário, as pessoas à volta têm de aceitar trabalhar para o campeão no espectáculo, tens de ser um exemplo para o restante plantel. Depois há também a questão de aceitação do público. Podes ser um grande lutador e seres respeitado no balneário mas se o público não quer saber de ti, não é possível ser o cabeça de cartaz. Não podemos ter um lutador a fechar os espectáculos que as pessoas não queiram saber dele. É uma mistura disto tudo que faz um campeão.

    BnR: Que evolução teve a Academia durante estes 10 anos?

    B: Foi complicado, foi um caminho atribulado. Na altura em que eu fui para a Suíça, tínhamos poucos alunos, cerca de quatro ou cinco. Nesse período em que estive fora, cheguei a ouvir falar de treinos com dois ou três. Na altura já não éramos uma modalidade, pagávamos para estar no espaço, já não dava lucro e sentimos que era a altura de fechar e seguir com a nossa vida. Na altura em que voltei para Portugal, reparei que havia pessoas a regressar e começamos a fazer shows com mais regularidade para perceber se isso trazia mais público. Neste momento estamos numa boa fase, houve fases em que as coisas não estavam a correr bem, chegamos a perder o nosso ringue, tivemos de adquirir outro mas demorou um ano a chegar e durante esse período treinávamos em colchões e a dizer aos alunos que o ringue estava a chegar. Isso foi uma boa prova de fé deles. Houve dificuldades mas estamos numa boa fase. No último treino tivemos 15 alunos, não são todos os treinos assim mas temos sempre 10 a 12 pessoas, desde o inicio de 2017. Vamos tentar continuar assim, mas da mesma forma que agora digo que está tudo bem, daqui a um ano podemos fechar. Pode parecer uma surpresa, mas não conseguimos controlar tudo.

    BnR: Em Maio, Carlito e Chris Masters vêm a Portugal num show que junta wrestlers portugueses com estrangeiros. A TNA também já participou num show em conjunto com o Wrestling Portugal. Sentes que o futuro passa por protocolos com associações de Wrestling estrangeiras para dar mais visibilidade ao que se faz em Portugal?

    B: Sim. Infelizmente há muito pouco hábito de misturar as entidades. Quando a TNA veio cá, com o Impacto Total, os portugueses lutaram à parte do roster da TNA. Em relação a esse evento em Maio, haverá colegas portugueses a lutar com estrangeiros mas não é algo frequente. Tem de estar muito bem treinado para tal e neste momento há mais pessoas capazes disso do que há 10 anos atrás. Tinhas alguns lutadores que passaram pelo estrangeiro, mas não tinhas lutadores que pudessem lutar com um americano e dessem garantias de um bom combate e agora já tens. Vamos ter mais misturas no futuro mas se isso significa maior crescimento não sei. Vai mostrar que somos mais profissionais no ringue mas não sei se trará mais pessoas para a bancada. Se eu lutasse com o Carlito não sei se isso ia trazer mais pessoas. Acho que preferiam ver o Carlito contra o Chris Masters. Temos sempre de medir bem as coisas. Haverá sempre um headliner contra outro headliner que têm de ser americanos e pelo meio teremos americanos contra portugueses, o que é positivo.

    BnR: Referiste que haverá combates entre portugueses e estrangeiros. Como é que se prepara um combate entre dois lutadores cuja língua é diferente e que não treinam todos os dias em conjunto?

    B: Não é muito diferente. Já lutei com estrangeiros antes, como o Neville da WWE, que fala inglês mas com um sotaque muito acentuado, já lutei com irlandeses, escoceses e até com um chinês que falava italiano. Se houver a barreira linguística, fala-se por gestos no balneário e tenta-se não inventar no ringue, fazendo um combate básico e quanto mais juntos estivermos no ringue, no sentido de proximidade física, melhor as coisas correm. O problema surge quanto te afastas, quando há um Irish Whip à corda ou uma corrida para o canto e se ninguém souber o que vai acontecer, estamos tramados. Mas assumindo que tratas dessa parte no balneário, seja com gestos ou com vídeos, os lutadores sabem o que fazer e tudo vai correr bem. Se a pessoa falar inglês, é quase como trabalhares com alguém que já conheces. A única diferença é que a pessoa pode ser mais bruta ou menos bruta no contacto, mas adaptas-te.

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    Sérgio Conceição: «O resultado da eliminatória é justo»

    Sérgio Conceição já reagiu ao desafio entre o FC...

    Favoritos para vencer os prémios individuais | NBA 2023-2024

    A fase regular da NBA terminou. Depois de 82...

    Quem vai conseguir contratar Carlos Sainz?

    Ainda não tinha começado a temporada de 2024 e...