– O regresso à Feira e a descida de divisão –
“A confiança não existia e as dúvidas e desconfianças aumentavam”
BnR: O bom filho à casa torna e, na temporada passada, voltaste a Santa Maria da Feira, para ajudar o Feirense na luta pela fuga à despromoção. O objetivo não foi conseguido, mas a equipa tentou jogar um futebol positivo. Esta valorização da modalidade é o mais importante para um jogador?
VB: Sim, acredito que é importante para o jogador. Todos nós gostamos de jogar, de ter o domínio. Eu como admirador de Guardiola, Bielsa, Klopp e Sétien acredito que quanto melhor jogas, mais hipóteses tens de vencer. Porém, o mais importante é venceres mais vezes do que as que perdes. Que importa jogares muito bem se não vences? Tem de haver um equilíbrio e uma perceção de determinadas fases da época. Este ano, como disse anteriormente, entrámos numa espiral negativa. Jogos e jogos sem ganhar, a confiança não existia e as dúvidas e desconfianças aumentavam. Se as jornadas passam e acabas por não sair do desconforto da tabela classificava, a qualidade de jogo diminui e os erros individuais acabam por aumentar. Existe o medo de falhar, e isso é o primeiro princípio para que aconteça.
BnR: Já disseste que gostavas de jogar no campeonato inglês ou espanhol. Qual o próximo passo na carreira do menino para quem uma bola de futebol era sempre a melhor prenda?
VB: Uma coisa são os nossos sonhos e outra é a realidade do momento. São dois campeonatos que me apaixonam, por razões distintas. O campeonato inglês pela paixão, intensidade, público. O campeonato espanhol pela qualidade técnica, pela paciência para chegares ao golo e pelo respeito que existe por jogares bom futebol. Não importa só vencer, importa a forma como consegues obter a vitória. Porém, neste momento, tenho mais um ano de contrato com o Feirense. Honestamente, ainda tudo é muito dúbio para mim.
BnR: Ao longo da tua carreira, foste alternando entre defesa e extremo. Qual a posição onde preferes jogar?
VB: Sim é verdade. Mas tudo aconteceu naturalmente. Nunca questionei ninguém para jogar em determinada posição, fui-me adaptando e reinventando-me, e as coisas surgiram. Sou versátil e adapto-me facilmente a outras posições. A posição que mais gosto é estar dentro de campo, é onde sou verdadeiramente feliz. Porém, a posição de médio interior é aquela que mais me fascina, embora nunca lá tenha jogado.
BnR: Sendo um admirador confesso de Dani Alves, presumo que tenhas visto as suas exibições na Copa América. As suas performances vieram demonstrar que o futebol, para além do físico, joga-se (sobretudo) com a cabeça?
VB: Sim, assisti e voltou a ser fenomenal. Espalhou magia. Vi o jogo todo com a Argentina e ele esteve intratável. Assistimos, nos últimos anos, ao físico a impor-se. Porquê? Porque agora temos acesso a tecnologia e somos controlados pelas mais variadas formas. Olhamos demasiado para estatísticas. Se fores rápido, escolhem-te. Se fores alto, igual. Agora, tudo depende da ideia de jogo. Imaginarias um Xavi, um Iniesta, um Verrati, um Kroos ou um Modric, a jogar um jogo de transições? Impossível. Seriam iguais a tantos outros. A bola tem de passar por eles e, nestes casos, é o cérebro a comandar. Por outro lado, olhas para o Marega e sabes que o físico acaba por impor-se, mesmo sabendo o tipo de movimento que ele procura constantemente. Xavi um dia disse “nunca poderemos suplantar a velocidade mental e a inteligência do jogo com habilidades físicas” e eu reitero.