«Estou a mostrar que já poderia estar há mais tempo na Primeira Liga» – Entrevista BnR com Rafael Barbosa

    – Um Paços para entrar na Linha –

     «Vítor Oliveira é um senhor do balneário»

    Bola na Rede: Foste depois para o Portimonense com a intenção de te afirmares na Primeira Liga, mas as coisas não correram bem. Acabas por jogar no Paços de Ferreira e no Estoril, que eram clubes de Segunda Liga e não Primeira. Viste isso como um impasse no teu desenvolvimento?

    Rafael Barbosa: Sim. Antes de ir para o Portimonense tinha feito, se calhar, a minha melhor época até àquela altura. As perspetivas eram muito boas e, na altura, no Portimonense, não correu bem por vários motivos que não é preciso mencionar. A ida para o Paços foi onde voltei a ter felicidade em jogar. Andei muito tempo desanimado e pensei em muita coisa. O Paços voltou-me a transmitir felicidade e estou-lhes muito grato por isso. Fui campeão da Segunda Liga. No ano a seguir, houve a possibilidade de ficar no Paços, mas, por outras coisas extrafutebol, acabei por não ficar. Depois, por outras coisas extrafutebol também, não surgiu nenhum clube de Primeira Liga e acabei por ir para o Estoril, um clube que ia lutar por subir de divisão. O campeonato não acabou. Estávamos perto, podia acontecer muita coisa, faltavam 30 pontos. Foram experiências em que estive bem, mas senti que foi um impasse na minha carreira por todos esses motivos. Antes de ir para o Portimonense, sentia que a minha fase na Segunda Liga tinha acabado. Queria-me afirmar rapidamente na Primeira Liga do futebol português. Não surgiu dessa forma, surgiu de outra. Outros chegam lá mais depressa, eu tive que percorrer o meu caminho de forma diferente. Agora, acho que estou a mostrar todo o meu valor.

    Bola na Rede: Mas a abordagem de jogares uma Segunda Liga com um Estoril ou um Paços é diferente do que jogares com uma equipa B.

    Rafael Barbosa: Sim, é diferente. Na equipa B, tens a exigência de seres cada vez melhor, mas não tens um grande objetivo. O objetivo é não descer de divisão. Tanto no Estoril como no Paços, principalmente no Paços, o objetivo era a subida de divisão e notava-se que, nos treinos, nos jogos, era tudo muito exigente. É totalmente diferente, claro.

    Bola na Rede: Como é que o Paços te conseguiu voltar a pôr a jogar de uma forma alegre?

    Rafael Barbosa: Tinha passado uma má fase. Depois de tudo o que aconteceu em Portimão, treinava na academia [do Sporting], estava lá nos sub-23. Não treinava à parte, mas não fazia grandes coisas com a equipa. Tive três meses muito difíceis, em que a minha cabeça não soube gerir as coisas da melhor forma e perdi a alegria, porque é o meu trabalho, é o que mais gosto de fazer. A ida para o Paços de Ferreira foi muito importante para mim. Voltei a jogar, voltei a sentir-me valorizado, voltei a sentir-me importante. Aí voltei a ganhar a alegria que tinha em jogar futebol e em ser jogador. Lembrei-me, mais uma vez, porque é que tinha seguido o meu sonho e porque é que tinha saído de casa tão cedo. É por isso que digo que em Paços voltei a ser feliz.

    Bola na Rede: O mister Vítor Oliveira teve um papel importante nisso?

    Rafael Barbosa: Sim, o mister Vítor Oliveira foi muito importante na minha ida para o Paços e foi muito importante na minha afirmação. Dava-me muitos conselhos. Quando eu estava com a cabeça já meia “lixada” ele já sabia o que me dizer, o que é que ia na minha cabeça, não precisava de lhe dizer nada. Ele a nós tratava-nos como filhos. Dava-nos reprimendas, dava-nos duras, mas tratava-nos como filhos. É um senhor do balneário, sabia gerir muito bem um plantel, por isso é que teve todas as suas conquistas.

    Bola na Rede: O que é que ele te ensinou do jogo que tu ainda não sabias?

    Rafael Barbosa: Ensinou-me a jogar muito melhor na posição onde mais gosto de jogar. Foi com ele que aprendi certos movimentos. Gosto de ser aquele médio que joga mais subido, pode ser número 10 ou médio interior, mas mais subido. Foi ele que me ensinou a jogar mais entre linhas e agora é o sítio que mais gosto de jogar. Ele ensinou-me que a bola é que vem ter comigo, que tenho que esperar por ela. Não tinha que ir com marcação, porque se não o jogo ficava muito fechado. Principalmente, mudou muitas coisas na minha forma de pensar e isso mexeu muito comigo.

    Bola na Rede: É a tal coisa de esperar pela bola na zona onde costuma andar o árbitro.

    Rafael Barbosa: Naquela posição, ele não gostava que eu viesse, porque arrastava marcação e o jogo ficava muito fechado. Queria que eu esperasse e era aí que se criavam desequilíbrios. Hoje em dia, acho que sou muito forte nesse aspeto.

    Bola na Rede: É mais difícil jogar na Segunda Liga do que na Primeira?

    Rafael Barbosa: Não acho que seja mais difícil jogar na Segunda Liga. Há menos espaço para pensar, acho que o jogo é um pouco mais agressivo, menos intenso, mas mais agressivo. Há menos espaço para jogar, porque os campos são mais pequenos. Os campos da Primeira Liga são muito maiores. Na Primeira Liga, se tu falhas, a qualquer momento, pode ser golo do adversário, na Segunda Liga, não há tanto isso.

    Bola na Rede: O Estoril também era uma equipa que gostava de dominar o jogo e que privilegiava muito a bola. Adequavas-te a esse estilo…

    Rafael Barbosa: Apanhámos o mister Tiago Fernandes e o mister Pedro Duarte que são dois treinadores que privilegiavam a bola. É onde me sinto melhor: no jogo de apoios, com a equipa em posse.

    Bola na Rede: O que o Estoril está a fazer este ano acaba por vir no seguimento daquilo que vocês fizeram na época passada.

    Rafael Barbosa: Acho que agora estão a fazer muito melhor que nós no ano passado. Está muito bem sincronizada aquela equipa, o seu treinador, a direção. Além de estarem a jogar muito bem, sente-se a união que há entre eles todos. Às vezes, uma equipa nem precisa de ter tanto talento, o que nem é o caso, acho que eles têm muito talento, mas principalmente a união que eles têm… [suspiro] Podem fazer estragos a qualquer equipa e é o que está a acontecer. Fico muito feliz por eles.

    Bola na Rede: Quem são as tuas apostas para subir de divisão este ano?

    Rafael Barbosa: Uma é o Estoril. Aquilo está muito complicado. Acho que pode ser o Chaves. O Estoril e o Chaves.

    Bola na Rede: Porquê?

    Rafael Barbosa: O Estoril é óbvio, por toda a sua superioridade. O Chaves acho que está a começar a crescer, já está a poucos pontos. Também gostava que o Vizela subisse, porque é uma equipa que o ano passado estava no Campeonato de Portugal e também parece ser uma equipa muito unida, com o seu treinador [Álvaro Pacheco] muito característico. Acho que o Chaves é uma equipa mais experiente e pode dizer qualquer coisa ali na luta. O Feirense também. A minha aposta é o Estoril e o Chaves.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.