«Existe é uma desconfiança generalizada em relação à capacidade intelectual das mulheres nesta área» – Entrevista Cláudia Martins

    BnR; A fazer desporto na rádio, segundo sei, é apenas uma de duas jornalistas. Isso traz-lhe pressão acrescida no desempenho da profissão?

    CM: É verdade e enquanto repórter de pista sou a única. Não me traz qualquer pressão, sei bem o que faço, preparo-me para o fazer com total profissionalismo e domínio dos assuntos. A única coisa que sinto não é pressão, é responsabilidade por assumir o “primeiro passo”. O que gostaria é que muitas mais se seguissem. É um dos meus desejos, uma das minhas “batalhas”.

    Cláudia Martins é jornalista na Antena 1
    Fonte: Antena 1

    BnR: Também em outras ocasiões já teve oportunidade de assumir que tem “travado” uma luta contra o preconceito da mulher no Jornalismo de desporto. Quais são, para si, as principais diferenças de tratamento entre homem e mulher que há nesta profissão?

    CM: Relaciona-se um pouco com o que disse acima sobre os rótulos. Há preconceitos, estereótipos criados relativamente ao conhecimento das mulheres sobre o desporto e à sua capacidade intelectual para trabalhar em determinadas áreas temáticas. Costumo brincar e ironicamente dizer que é quase genético: todos os homens nascem a saber de desporto e a saber jogar/praticar algum tipo. As mulheres não, não percebem de desporto, não sabem falar sobre ele e raramente o sabem praticar com excelência. Respondendo especificamente à questão, não existe, ou pelo menos não o sinto muito hoje em dia, um tratamento assumidamente diferente. Existe é uma desconfiança generalizada em relação à capacidade intelectual ou ao conhecimento das mulheres nesta área. Uma espécie de desrespeito generalizado. Isto mostra o caminho que tem que ser desbravado pelas mulheres que trabalham nesta área. Não só têm que ser boas profissionais, têm que provar que o são. É, de uma forma geral, uma exigência muito maior do que a que é feita aos homens.

    BnR: Quais são as principais causas para esta desigualdade? Não será um problema mais sociológico do que propriamente apenas do Jornalismo de desporto?

    CM: É sociológico, claro. É a sociedade que “diz” o que é mais naturalmente masculino e o que é mais relacionado com o feminino. No que diz respeito ao desporto isso vê-se até do ponto de vista dos praticantes, as modalidades mais usuais entre os meninos e as meninas. É algo mais visível em Portugal do que noutros países. É incrível como em 2017 ainda temos que ter estas conversas. E é assim relativamente ao jornalismo de desporto mas poderíamos falar das hierarquias (praticamente em todos os setores), das engenharias, da área tecnológica, da área militar que são setores ainda marcadamente masculinos e é preciso desconstruir os estereótipos em torno deles e das pessoas que neles trabalham.

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    Rafael Simões
    Rafael Simõeshttp://www.bolanarede.pt
    Adepto de bom futebol, adora o jogo desde que se lembra de ser gente. Estudante de Comunicação Social, é capaz de passar horas a fio a devorar futebol, considerando-se um romântico do desporto rei. Recusa-se a discutir arbitragens e simpatiza com o Liverpool, muito por culpa da lenda do clube, Steven Gerrard. Espera um dia ser jornalista desportivo e olha para o futebol como uma arte que embeleza a vida.                                                                                                                                                 O Rafael escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.