«Existe é uma desconfiança generalizada em relação à capacidade intelectual das mulheres nesta área» – Entrevista Cláudia Martins

    BnR: Acha que, num futuro a curto/médio prazo, é possível alterar este paradigma? Se sim, como?

    CM: Não sei se isso acontecerá a curto prazo. Vou fazer dez anos na Antena 1 e neste período a evolução, pelo menos nas rádios nacionais, é inexistente. Espero que o paradigma se altere mas temo que seja um processo lento e que precisa de maior envolvimento da própria comunidade jornalística.

    BnR: Qual foi a situação mais caricata que já viveu na sua carreira?

    CM: Não consigo identificar uma específica. Recordo-me de há uns anos, num estádio e no meu dia de aniversário, o pivot da Antena 1 me ter dado os parabéns em direto e depois, ao intervalo, várias pessoas vieram ter comigo à tribuna de imprensa dar-me os parabéns pois estavam a ouvir a rádio. É, aliás, uma das coisas que mais gosto nesta área, o facto de as pessoas se sentirem nossas “amigas” por nos ouvirem diariamente. Já tive uma situação num estádio em que estava a ser identificada por um delegado da Liga de Clubes por causa do colete de identificação que temos que usar no relvado e quando lhe disse o meu nome ele parou de escrever, cumprimentou-me e disse que me conhece há anos. Já recebi bilhetes com números de telemóvel, piropos, elogios, “declarações de amor”… Estou só a identificar as “boas”. Há situações difíceis e más que prefiro nem lembrar, tento sempre ver o lado positivo.

    BnR; Portugal é Campeão da Europa, no entanto o clima que se vive no país em termos desportivos é de constante tensão e até, por vezes, ódio ligando-se, muitas vezes, mais a polémicas do que propriamente ao jogo. Urge mudar esta mentalidade?

    CM: Absolutamente. Urge. Em Portugal gosta-se mais de clubes do que do jogo. Torna-se uma questão de vida ou de morte e é preciso que esta importância seja desmistificada. É necessário respeitarmos o jogo, os seus protagonistas, percebermos que há muito mais para além daqueles minutos em que existe um desfecho, um resultado final. Percebermos que falamos de pessoas, sejam elas quais forem, jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes, adeptos…são sempre pessoas as que estão envolvidas, não há lados certos ou errados, com ou sem razão, há um ponto comum que é a paixão pelo desporto e isso devia unir-nos, não afastar-nos. É “só” um jogo, mesmo que seja o jogo mais importante das vidas. O desporto tem um poder tremendo numa série de causas, de temas. É um ator importante na mudança social, no desenvolvimento, na inclusão, na integração, na diminuição das desigualdades, na promoção de valores, na quebra de barreiras. É uma linguagem universal. É importante pensarmos no que realmente importa quando falamos de desporto e aproveitarmos o seu melhor, potenciarmos o seu melhor. Creio que temos estado perigosamente a potenciar o seu pior e a ver, consecutivamente, o seu pior lado.

     Foto de Capa: Antena 1

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    Rafael Simões
    Rafael Simõeshttp://www.bolanarede.pt
    Adepto de bom futebol, adora o jogo desde que se lembra de ser gente. Estudante de Comunicação Social, é capaz de passar horas a fio a devorar futebol, considerando-se um romântico do desporto rei. Recusa-se a discutir arbitragens e simpatiza com o Liverpool, muito por culpa da lenda do clube, Steven Gerrard. Espera um dia ser jornalista desportivo e olha para o futebol como uma arte que embeleza a vida.                                                                                                                                                 O Rafael escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.