«Ganhei dois Euros com duas seleções diferentes» – Entrevista BnR com Zeca Rodrigues

    – Experiência no Copenhaga –

    BnR: Depois segue-se a mudança para a Dinamarca, onde o clima nada tem a ver com o grego. Foi essa a maior dificuldade na adaptação ao país?

    ZR: Foi, sem dúvida. Aliás, foi e continua a ser (risos). Em comparação à Grécia e a Portugal, é completamente diferente. Há uma altura no Verão em que fica de dia mais tempo e anoitece às 23h, no inverno às 15h já é de noite. É um frio incrível, neve, chuva…podes ir a qualquer lado, mas como eu sofro com o frio e chuva, opto por ficar em casa e mesmo assim custa. Foi o que me custou mais, mas agora já estou mais habituado. Não tive assim muitas dificuldades na mudança, apenas essa na realidade.

    BnR: A estreia pelo Copenhaga foi em grande, com um golo frente ao Midtjylland. Isso foi um bom prenúncio para o início de um novo desafio na carreira?

    ZR: Sim, é sempre bom começar com um golo no primeiro jogo. Lembro-me que na altura já estava aqui há 3/4 dias, e soube que ia jogar a titular e fui considerado o melhor em campo. Marcar um golo na estreia foi um bom presságio do que estava para vir. Não nesse ano, pois esse ano foi complicadíssimo para nós, já que o Midtjylland acabou por ser campeão, conseguiu ultrapassar o Brondby na penúltima jornada, em que o Brondby nesse ano tinha sido a equipa mais forte, só que na reta final deixou-se dormir e o Midtjylland aproveitou. Foi um ano difícil em termos coletivos, mas para mim foi bom pois consegui afirmar-me e mostrar o meu valor, por isso foi importante começar bem.

    Fonte: Arquivo pessoal de Zeca

    BnR: Sendo um dos reforços do Copenhaga nesse ano, recebe logo a braçadeira de capitão. Como aconteceu isso? E qual foi a reação dos teus colegas?

    ZR: Aconteceu ao meu terceiro jogo pelo clube. Nesse jogo, os capitães de equipa não estavam disponíveis para jogar, e o treinador chamou-me ao balneário pois queria falar comigo, e ele é muito direto e diz apenas: “Olha, vais ser capitão no domingo. Tens algum problema com isso?”. “Não tenho problema nenhum, pois fui durante os meus últimos quatro anos tenho sido capitão, mas como é que isto vai ser pelos meus companheiros no balneário?” perguntei. “Não te preocupes com isso, apenas quero saber se tu te sentes bem ou não”. “Sim, não há problema nenhum” (risos). Confesso que não sabia metade dos nomes da equipa e quando fui capitão pela primeira vez. Mas já sabia que a ideia do treinador ao trazer-me para cá era querer que, num futuro próximo, fosse capitão de equipa, mas não pensava que fosse acontecer ao fim de três jogos. E foi uma estreia horrível como capitão, já que perdemos 3-1 frente ao Lyngby. Alguns companheiros olharam para mim de uma forma estupefacta, outros vieram ter comigo e disseram “Tranquilo, não há problema nenhum e estamos contigo” e então foi fácil.

    BnR: Quais são as maiores diferenças entre o futebol dinamarquês e o grego?

    ZR: É muito mais físico, o jogo é sempre a correr, as equipas não param, estão bem preparadas fisicamente, existem jogadores com muita qualidade técnica. As equipas são fortes, e sinto que o jogo físico foi a maior diferença em relação ao futebol grego.

    BnR: E em que é que a experiência na Grécia te ajudou para te ambientares rapidamente ao estilo de jogo dinamarquês?

    ZR: O que a experiência na Grécia me demonstrou foi que eu podia jogar para onde quer que fosse e tinha de que me afirmar o mais rápido possível, e sabia que isso iria acontecer. Na realidade, o que me ajudou muito é a minha maneira de ser, a maneira de trabalhar em que os meus colegas começaram a ver que sou um jogador que trabalha para a equipa porque houve muita história aqui por causa da minha transferência, em que aparecia todos os dias nos jornais, na altura em que cheguei, durante uma, duas semanas, haviam jornalistas a querer falar comigo e os meus colegas pensavam “Este deve achar que é o Ronaldinho, uma estrela” e depois começaram a perceber que não sou desse tipo, que sou um jogador trabalhador e que joga para a equipa. Quando comecei a mostrar a minha qualidade, ganhei a confiança e amizade deles, e aqui tenho um treinador que me dá liberdade para eu criar e fazer as coisas que acho que são melhores dentro de campo. Sinto que é mesmo a pessoa que eu sou e a forma como trabalho que me faz adaptar a qualquer situação.

    BnR: Na época passada, conquistas o primeiro campeonato da carreira. Era um título que já ambicionavas há muito tempo?

    ZR: Sim. Na realidade, uma das coisas que me fez vir para o Copenhaga, à parte do bom contrato que ia ter, era por saber que era um clube vencedor, que lutava para conquistar campeonatos, onde na maioria das vezes acaba por acontecer, e era uma realização poder ganhar um campeonato e poder dizer que fui campeão. E o que queria não era apenas ganhar só um campeonato, era poder ganhar todos os anos em que estou aqui. Sei que é um clube vencedor e provavelmente vai ser o vencedor durante os próximos anos, e isso fez muito a diferença na minha escolha. Foi importante para mim ganhar o campeonato, ainda para mais no meu primeiro ano como capitão de equipa em que fui eleito para tal, e voltou a ser importante poder levantar o troféu de campeão, pois nunca o tinha sido e é para isso que nós também jogamos futebol, para no final da época podermos conquistar títulos e levantar os troféus como capitão, era algo que ambicionava muito e continuo a ambicionar, e sei que vou levantar mais de certeza.

    BnR: Além do título, ganhas ainda o prémio de melhor jogador do campeonato. Consideras que esse foi o teu melhor ano até hoje? E estás na melhor fase da tua carreira?

    ZR: Sim, posso dizer que sim, por causa dos prémios que conquistei, que foi o melhor ano da minha carreira e, para ser sincero, estou a ficar mais velho, mas sinto-me cada vez melhor e a perceber cada momento do futebol. Já não é só aquela coisa de correr de trás para a frente e para todo o lado, agora é com mais calma e experiência, e tenho vindo a desfrutar destes últimos anos e tem sido espetacular. Foi importante para mim ter sido considerado o melhor jogador da Liga no meio de tantos jogadores de qualidade, um jogador que joga na posição de 6 ganhar o prémio de melhor jogador da Liga.

    Fonte: FC Copenhaga

    BnR: Quais são os planos para o futuro?

    ZR: Os planos para o futuro é mais do mesmo: voltar a ganhar o campeonato que este ano está mais difícil, não é impossível, mas sabemos que está difícil e caso não o consigamos, na próxima época de certeza voltar a vencer, jogar nas competições europeias, este ano fizemos uma boa campanha na Liga Europa que ainda estamos em competição, e não sabemos o que vai acontecer, e se passarmos esta fase, faremos história no futebol dinamarquês como a primeira equipa que neste novo formato da Liga Europa chega tão longe. Continuar a ganhar e a estar ao mais alto nível são esses os meus planos para o futuro.

    BnR: Há algum sonho no futebol que tenha ficado por cumprir?

    ZR: O sonho que me ficou por cumprir era ganhar um campeonato pelo Panathinaikos. Não sei se ainda vai ser possível voltar para ganhar, mas é algo que tenho atravessado em mim, que era um sonho que queria cumprir. Agora daqui para a frente o importante é viver o momento e desfrutar. Daqui a três meses, estou a fazer 32 anos e já começas a pensar em desfrutar o momento e do futebol cada vez mais e no dia-a-dia, e no final das contas quando chegar o fim da época puderes dizer que conseguiste ser campeão. E em relação a sonhos grandes, não tenho mais. Tenho uma mágoa por não ter ganho um campeonato com o Panathinaikos, tive um sonho durante muito tempo que era poder vestir a camisola do Sporting e não consegui. Agora o objetivo é estar aqui, ganhar o máximo possível enquanto estiver no Copenhaga, e depois logo se vê onde vou estar.

     

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    Guilherme Costa
    Guilherme Costahttp://www.bolanarede.pt
    O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.