«O guarda-redes português não é devidamente valorizado» – Entrevista BnR com Ricardo Ribeiro

    -A amizade de uma vida, Paços de Ferreira e o futuro-

    Não tenho a mínima dúvida de que, caso o Chiquinho volte ao SL Benfica, irá fazer uma grande época.”

    (BnR): Na Académica, fizeste amizade com um atual craque do Moreirense e do futebol nacional: Francisco Machado, mais conhecido como “Chiquinho”. A tua profecia confirmou-se e ele foi um dos destaques da temporada. Surpreendido?

    (RR): Não, minimamente. Sei perfeitamente a qualidade que ele tem e vi o que ele fez ao longo da temporada. Merece sem dúvida singrar e voar mais alto, como por exemplo no SL Benfica, notícia que tem vindo a ser espalhada e que se poderá concretizar. Não tenho a mínima dúvida de que, caso o Chiquinho volte ao SL Benfica, irá fazer uma grande época. Claro que a dificuldade é acrescida, mas acredito muito nele.

    (BnR): Pelas goleadas que ele te dá no PES, estás rendido ele?

    (RR): (risos) É verdade! (risos) Para quem não jogava PES, ele ganhava-me muitas vezes e eu ficava mesmo chateado. Mas aquilo passava rápido… é muito fácil gostar dele, é uma pessoa por quem tenho um apreço gigante, pela sua forma de lidar com as pessoas e toda a gente gosta dele, não é por acaso.

    (BnR): Volvida a temporada 2017/2018, rumas novamente ao Norte e o destino é FC Paços de Ferreira. Alcanças mais um recorde: manténs a baliza inviolável durante sete jogos. Tinhas em mente bater esse recorde ou nunca tinhas pensado sobre isso?

    (RR): Nunca pensei nisso, nunca me passou pela cabeça. O facto de termos uma defesa muito sólida ajudou a que isso se realizasse. É o que costumo dizer e digo-o, não para ficar bem, mas porque é a verdade: nós começamos logo na frente, os resultados apareceram desde o início e eles não permitiam que os adversários chegassem à nossa baliza e, quando assim é, é muito difícil para a equipa adversária e foi assim durante a época toda, estive 17/18 jogos com a baliza a zero. Isso realça a qualidade da equipa.

    (BnR): Temporada encerrada, subida alcançada. O mister Oliveira é considerado o “papa subidas”. E a ti, podemos chamar-te o mesmo?

    (RR): (risos). Não, não podemos. Ele é o verdadeiro papa subidas, ele tem 11 ou 12 já. É um excelente treinador e faz com que as suas equipas obtenham os resultados a que se propuseram no início da época e, no Paços de Ferreira, não foi exceção. Conseguimos ser campeões, conseguimos subir, conseguimos praticar um bom futebol e, mais importante, reunimos a opinião unânime de subirmos por mérito e não por x ou y porque, da forma que está o futebol, quem ganha, ganha por isto ou por aquilo. Infelizmente, surfamos nesta onda.

    (BnR): Consideras que o Vítor Oliveira é peculiar e diferente de todos os outros treinadores?

    (RR): Considero que aquilo que o distancia do resto é o respeito que ele incute no balneário, porque normalmente existe sempre aquele jogador insatisfeito e, por vezes, as coisas tendem a não correr bem ou o balneário não ser muito bom e ele conseguiu agregar tudo: um grupo fantásticos, de homens, que se respeitavam mutuamente e, nos treinos, toda gente dava o máximo, facto que dificultava a tarefa dele em organizar o onze base.

    (BnR): Na temporada que se avizinha, o teu desejo é permanecer no clube ou encarar outras realidades?

    (RR): O meu desejo é continuar a envergar o símbolo, jogar, voltar a demonstrar o meu valor na primeira liga. Dou o exemplo do Marco, do Santa Clara: tem 31 anos, voltou à primeira liga e fez uma época fantástica. Muitas vezes, o guarda-redes português necessita de maior valorização, porque ele conseguiu, aos 31 anos, demonstrar às pessoas que as suas formas de pensar estão completamente erradas. Nós, guarda-redes portugueses, temos muita qualidade e só precisamos que as pessoas tenham a capacidade de perceber que erramos porque qualquer um erra.

    (BnR): Atuar no estrangeiro é opção viável ou medo escondido?

    (RR): Não tenho medo absolutamente nenhum. Sempre foi o meu sonho e sempre comentei isso com as pessoas que me são mais próximas. Quero jogar fora do país, quero experimentar outras ligas, sempre tive esse pensamento. Surgiram propostas para ir só que, por um ou outro motivo, não fui.

    Ricardo Ribeiro vê com bons olhos uma possível saída para o estrangeiro
    Fonte: Nélson Mota/ Bola na Rede

    (BnR): No momento do “pendurar de chuteiras”, quais são os teus objetivos? Pretendes, de algum modo, continuar ligado ao mundo do futebol?

    (RR): Sinceramente, não faço ideia nem pensei muito nisso. Neste momento, até estou a tirar um curso no Sindicato de Jogadores, o qual já devia ter tirado há muito tempo, mas uma pessoa deixa sempre passar. Gostava de ficar ligado ao futebol porque é o que mais gosto de fazer, mas estou consciente de quem nem todos conseguem isso. Caso não fique, arranjar-se-á outras coisas que se possam fazer, já trabalhei na fábrica dos meus tios, antes de jogar futebol, ajudando-os lá. Só depois de me tornar profissional é que deixei de trabalhar. A mim não me assusta nada.

    (BnR): Prepararás a linha sucessiva de maneira a que ela intercete todas as bolas perigosas que a vida lhes envie?

    (RR): Sempre, isso tem que estar vivo na nossa cabeça. Esta vida não é fácil para ninguém. Vivendo o dia a dia, e, caso apareça algum obstáculo, temos que o contornar e seguir viagem, sempre focados no nosso objetivo. Isso é o mais importante.

    (BnR): Para finalizar, uma última questão. Soube que ias ser pai e, desde já, os meus parabéns! Quanto ao teu filho, quando ele crescer, vais tentar implementar nele o bichinho do futebol?

    (RR): Não, vou deixá-lo fazer o que bem lhe apetecer, deixa-lo ganhar as suas próprias asas. Quero é que ele seja feliz e que siga a vida dele, porque, no futebol, nada é fácil embora as pessoas pensem que o é. O que mais me importa é o seu bem-estar e a sua felicidade.

    Foto de Capa: Nélson Mota/ Bola na Rede

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.