«Eusébio, Chalana e o Ronaldo, são os três melhores jogadores portugueses» – Entrevista BnR com Álvaro Magalhães (parte 1)

    -Carreira no SL Benfica-

    BnR: Então como é que acabaste por ir para o Benfica?

    AM: Estava lá também o Toni, que já fazia parte da equipa técnica do Benfica. Como tinha jogado na Académica e era uma lenda do clube, tinha o privilégio de poder entrar no balneário. Quem é que lá estava a liderar a equipa? Mário Wilson, o ‘Capitão’ Mário Wilson, que também foi ele o grande responsável pelo contacto. O Toni entrou no balneário e foi falar com ele, dando-lhe conhecimento de que o Benfica estava interessado nos meus serviços. Entretanto, eu saio do estádio e vou para a Praça da República para jantar qualquer coisa antes de ir reunir com o Sporting. O Toni foi atrás de mim, encostou o carro lá na Praça e chamou-me, nem saiu do carro para não dar muito nas vistas. Disse-me: “Miúdo, sei que o Sporting também está interessado em ti”. Eu conhecia o Toni de o ver jogar e porque colecionava cromos dele, por isso tratei-o por “Senhor”, a educação é assim mesmo, tem de haver respeito. E ele disse: “Eu sei que o Sporting está interessado mas o Benfica também está interessado. Agora depende de ti”. No dia seguinte, o Mário Wilson agarrou em mim, levou-me para o gabinete dele e disse-me que achava que o melhor caminho para mim era ir para o Benfica. Como ele era um benfiquista fanático, foi o grande impulsionador da minha ida para lá.

    BnR: Como decorreu o processo de transferência?

    AM: Sim. O Sporting queria falar primeiro comigo e não falou com a direção, queriam que eu me desvinculasse da Académica mas eu não podia fazer isso porque ainda tinha um ano de contrato. O Benfica falou primeiro com a Académica, chegou a acordo com a direção e os dirigentes da Académica vieram falar comigo. Fomos jantar, aumentaram-me o ordenado como prémio, porque sabiam que eu estava com possibilidades de ir para o Benfica e chegaram a um acordo que foi bom. Deve ter sido porque acabou por pagar os ordenados à equipa da Académica e depois para eu chegar a acordo com o Benfica foi rápido.

    BnR: Lançado por Lajos Baroti, estreias-te pelo Benfica no dia 1 de novembro de 1981, frente ao Sporting, num jogo que terminou 1-1. Que memórias tens da tua estreia?

    AM: Foi giro porque eu nunca tinha jogado a defesa esquerdo. Como treinador digo sempre que um jogador tem que estar disponível para jogar em várias posições. Estar no grupo dos 16 jogadores e depois estar no grupo dos 11, naquela altura, é uma felicidade, ainda por cima num dérbi. O Baroti falou comigo e eu disse que estava disponível, era uma posição que eu desconhecia mas também já tinha jogado a lateral direito. Nós temos que ser polivalentes, se ele me pusesse a avançado não havia problema nenhum, eu queria era jogar. E joguei bem, fui aplaudido pelos adeptos do Benfica, que me caracterizam como um “jogador à Benfica”, pela determinação, pela raça, pela maneira como me entrego ao jogo, e a imagem do jogador à Benfica é essa, não chega só ter bons pés. É preciso coragem e uma parte psicológica muito forte.

    BnR: Foi a única posição que fizeste no Benfica?

    AM: Não, também fui a central com o Humberto Coelho. Eu joguei a defesa esquerdo nesse jogo com o Sporting porque o Pietra se lesionou, quando ele voltou eu fiz dupla com o Humberto porque o Laranjeira também se lesionou.

    BnR: Foi fácil integrares-te no plantel?

    AM: Mais ou menos. Quando eu cheguei ao Estádio da Luz estava perante jogadores de grande qualidade. A mística do Benfica e a educação de um jogador quando chega ao clube naquela altura é tratar os jogadores por “Senhor”, era o “Senhor Coluna”, o “Senhor Simões”, o “Senhor Humberto Coelho”, o “Senhor Nené”, o “Senhor Shéu”… O Shéu, o Nené e o Humberto Coelho foram os primeiros a cumprimentar-me e eu disse-lhes “Senhor”. Eles disseram: “Ok, a partir de hoje somos colegas, é tu para aqui, tu para acolá”. Eles contaram que, quando chegaram, tiveram a mesma atitude que eu tive e então puseram-me à vontade.

    BnR: Como é que foi o primeiro treino?

    AM: Difícil, muito difícil. As pernas tremiam-me por todos os lados. Olhar para aquele estádio… aquilo mete respeito, é impressionante estar lá em baixo e olhar para o estádio, mesmo estando vazio. Eu concentrei-me e disse para mim próprio “Se queres vencer no Benfica, não podes estar nervoso, tens de estar descontraído e ir à luta”. Eu estava na missa a rezar e a pensar que tinha que me preparar para representar um clube como o Benfica, não podia esperar que alguém me viesse dar moral. Eu tinha essa força moral porque, se fui titular da Académica logo no primeiro ano, ia ter algumas dificuldades no Benfica, mas tinha de ser eu próprio a ir buscar forças onde elas não existem.

    Álvaro Magalhães representou o Benfica durante nove épocas
    Fonte: Álvaro Magalhães

    BnR: Quem eram os jogadores com quem tinhas melhor relação?

    AM: Sou uma pessoa reservada mas tinha boa relação com todos os jogadores. O Humberto Coelho foi a pessoa que mais me apoiou, o Shéu também, o Bento e o Nené, os mais experientes. O Humberto Coelho levou-me imensas vezes a almoçar com ele à Tia Matilde, ele ia lá todos os dias. A minha integração foi mais fácil por causa disso, porque ele era o capitão. O Toni também, até pela ligação que tínhamos por causa da Académica, explicou-me o que é o Benfica e a exigência do clube. Depois acabei por pertencer à mesa do Humberto Coelho e foi fundamental. Era o Pietra, Humberto e o Bento. Para mim estar na mesa do capitão é meio caminho andado para ganhar aquela experiência de se estar a representar o Benfica.

    BnR: Na época seguinte chega Sven-Göran Eriksson e o Benfica faz a dobradinha. Que mudanças sentiste com a chegada deste treinador?

    AM: Para mim foi ele que revolucionou o futebol todo em termos de metodologia de treino. Foi ele também que deu uma liberdade e uma maturidade ao jogador português que antes não havia. E tinha uma mentalidade vencedora claro, era um treinador jovem, vinha de um título europeu pelo Gotemburgo e a sorte dele foi também ter no plantel jogadores de nível mundial, com experiência nacional e internacional.

    BnR: Quem eram esses jogadores?

    AM: Bento, Laranjeira, Alhinho, Pietra, Shéu, Nené, César, Carlos Manuel, Diamantino, Chalana… E outros mais. O plantel era um luxo, para ser titular naquela equipa tinha que se trabalhar muito e o Eriksson tirou o maior aproveitamento desses grandes jogadores que o Benfica tinha.

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