– A caminhada na Suíça até chegar a terras germânicas, com uma paragem na Ucrânia –
«Havia jogos que Olympistadion chegava a ter 70 mil espetadores e num jogo da Segunda Liga é algo incrível».
BnR: Depois de duas boas temporadas no FC Chaisso, acabou por representar o Fussballclub Zurich onde ganhou dois campeonatos. O Zurich já não vencia um campeonato desde 1980/81, ou seja, há 25 anos. Acha que ficará para sempre marcado na história do clube?
Raffael: Sem dúvida! Acredito que sim porque quando um jogador ganha um título importante como este fica marcado na história do clube e como falou já há imenso tempo que o Fussballclub Zurich não vencia um campeonato suíço e ganhámos duas vezes consecutivas. Houve até uma festa, em 2006, que o clube organizou pois fazia dez anos que tínhamos conquistado o título, recebi o convite mas, infelizmente, não consegui ir. Mas percebesse que ficamos para sempre marcados na história e eles [os adeptos do Fussballclub Zurich] têm um respeito e um reconhecimento grande sobre essa conquista.
BnR: Após ter sido campeão há tanto tempo [25 anos], como foram os festejos dos adeptos após essa conquista?
Raffael: Foi algo incrível por vários motivos, mas aquilo que me recordo mais é da forma como acabámos por ganhar o campeonato. Foi um jogo emocionante pois ganhámos ao FC Basel no último minuto e torná-mo-nos campeões suíços.
BnR: A grande caminhada pela Suíça levou-o a assinar pelo Hertha BSC. Na época 2009/10, a equipa chegou à Fase de Grupos da Liga Europa, mas acabou por descer de divisão. Sentiu que foi o pior momento da sua carreira?
Raffael: Sim, acredito que sim. Quando o clube acabou despromovido para a segunda divisão, estava a jogar com o meu irmão [Ronny] e foi um momento muito difícil. Já tínhamos jogado dois anos juntos no Hertha BSC e tinha a certeza que com este momento difícil, que é uma descida de divisão, não iria mais jogar com o meu irmão. A partir deste momento, já estava destinado que tinha acabado ali aquele momento de partilhar o campo com o meu irmão. Foi muito triste a situação e acredito que tenha sido o pior momento da minha carreira sim.
BnR: Na época seguinte, o Hertha BSC vence a 2.ª divisão e sobe de novo à 1. Bundesliga. O plantel quando desceu de divisão sentiu que estava em dívida para com o clube e que tinham de fazer de tudo para voltar a pô-lo no sítio onde merece?
Raffael: Sim, sem dúvida, porque o Hertha BSC sempre foi uma equipa de tradição no Futebol alemão e que sempre faz boas campanhas na 1. Bundesliga. O grande objetivo da época seguinte [época 2010/11] era mesmo esse: voltar a meter o clube na Primeira Divisão, onde merece estar, a competir com as maiores potências alemãs da altura. Uma coisa muito impressionante foi os adeptos estarem com a equipa, e foi algo que não esperava ver. Havia jogos que Olympistadion [atualmente, com capacidade para 74.475 espetadores] chegava a ter 70 mil espetadores, e num jogo da Segunda Liga é algo incrível. Foi nesse momento que percebemos que os adeptos estavam juntos connosco para fazermos o nosso trabalho.
BnR: Depois de cinco anos no Hertha BSC, assinou pelo FK Dínamo de Kiev, mas a experiência foi curta. O que falhou na Ucrânia para, em apenas um ano, voltar novamente à Alemanha para representar o FC Schalke 04?
Raffael: Esperava uma coisa quando cheguei ao clube. Primeiro de tudo, foi muito complexo a ida para a Ucrânia porque a negociação demorou muito tempo a ser feita, perdi a pré-época toda e isso tudo atrapalhou a minha adaptação. Queria ir para o clube, mas só que não sabia quando ia. Por isso, fiquei à espera de respostas e a treinar à parte. Até aqui tudo bem e fui para o clube. Quando cheguei o campeonato ucraniano já tinha começado, fui treinando e recuperando a minha forma aos poucos. Quando estava na minha melhor forma acabei por me lesionar e era algo raro na minha vida como atleta. A adaptação ao campeonato e ao país não foi a melhor, e a minha família também não, e tudo não correu bem. A única coisa boa foi que joguei com um português: o Miguel Veloso, que é uma excelente pessoa. Também havia muitos brasileiros que me ajudaram e por esse lado foi bom.
BnR: O facto de haver pessoas no clube que falavam a mesma língua e tinham uma cultura semelhante ajudou, de certa forma, o percurso não ser tão mau na Ucrânia?
Raffael: Sem dúvida! Havia jogadores brasileiros que já estavam há imenso tempo no país e já dominavam bem a língua. Eram eles que me ajudavam quando tinha dificuldades e também me aconselhavam a fazer o meu quotidiano na cidade de Kiev.