O Sr. Doutor das Águas Livres- Entrevista Mário Bonança

    Opinião acerca da Natação portuguesa

    BnR: Dado que já compete em provas de alto nível desde 2005, acredita que os campeonatos nacionais estão ao nível das provas internacionais, em termos de organização e competitividade?

    M.B.: Em termos de organização, penso que sim. Agora, em termos de competitividade, ainda está um pouco aquém do que se verifica num plano internacional.

    BnR: O nosso país ainda não conquistou qualquer medalha olímpica. Na sua visão, o que acha que tem faltado aos nossos atletas para atingir tal menção honrosa?

    M.B.: É difícil dizer o que é que falta. Apesar de haver uma enorme vontade e motivação, eu acho que falta algum trabalho e disciplina aos atletas portugueses. Ultimamente, até têm aparecido bons resultados com o meu colega Alexis Santos. O Alexis é um exemplo do que é que um nadador português deve perseguir, uma vez que tentou ir para fora do país treinar durante 1 ano com os melhores, tendo sido uma experiência bastante positiva para ele, voltou e teve uma boa participação em provas internacionais, atingindo até nos Jogos do Rio uma meia-final olímpica. No caso do Alexis, vejo aqui condições para ele poder ambicionar uma final olímpica em Tóquio. Mas, estamos apenas a falar de um nadador. É muito castigador o que vou dizer, mas a Natação portuguesa neste momento está refém de somente um nadador que possa fazer algo de diferente, e esse nadador é o Alexis.

     

    Mário Bonança durante uma prova de Águas Abertas
    Mário Bonança durante uma prova de Águas Abertas

    BnR: Os nossos atletas paralímpicos costumam ter excelentes resultados nos Jogos Paralímpicos. Acredita que todos eles são um forte exemplo de inspiração para todos nós, sabendo que, apesar de ter algumas limitações, se esforçam imenso para conseguir honrar a nossa bandeira?

    M.B.: Sim, de facto, são um exemplo com mais que provas dadas. A Natação paralímpica é muito inspiradora para todos, não só para os nadadores das diferentes disciplinas, mas também para os de outras modalidades. Ser paralímpico em Portugal é muitíssimo complicado, mas do que ser um atleta de alto rendimento sem deficiências. Uma pessoa com deficiências tem muitas dificuldades em conseguir singrar no desporto nacional, quanto mais num patamar internacional. É preciso muita força de vontade para vencer as adversidades, e creio que os nossos atletas têm imensa, daí os ótimos resultados já alcançados.

    BnR: Apesar de já serem notórias algumas boas instalações existentes em Portugal para a prática da Natação, o Futebol continua a manter a preferência entre o público português. Tem alguma esperança que no futuro se assista a um aumento do número de pessoas a ter a Natação como desporto favorito e praticado?

    M.B.: Penso que isso nunca irá acontecer. É possível que algumas pessoas se comecem a interessar mais pela Natação quando existir um resultado de nível numa final dos Jogos Olímpicos como a conquista duma medalha, um pouco à semelhança do verificado em 2000 com o Nuno Delgado, quando foi medalha de bronze nos Jogos de Sidney. Essa ocorrência catapultou o Judo nacional para outra dimensão. Será que é isso que falta à Natação portuguesa? Não sei se será esse ímpeto que falta, mas sou de opinião de que a mentalidade “futeboleira” portuguesa vai continuar a imperar com certeza, já que existem pessoas que vivem para alimentar o Futebol, não sabendo, por vezes, o que está por detrás do trabalho exigido numa modalidade individual como é a Natação ou o Atletismo, logo não tendo essa mesma noção, vão manter a sua ligação ao Futebol.

    Nota: Todas as fotos foram gentilmente cedidas por Mário Bonança

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    Guilherme Costa
    Guilherme Costahttp://www.bolanarede.pt
    O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.