Fórum do Treinador 2016: Os Portugueses Lá Fora e o Contexto Selecção

    TREINADORES NO ESTRANGEIRO

    “Está na moda dizer que os jovens têm de sair da zona de conforto. Neste caso [Portugal] é a zona de desconforto”, por falta de oportunidades e dificuldades financeiras. “Zona de conforto é lá fora, onde há dinheiro, condições de trabalho e respeitabilidade da profissão”. Henrique Calisto deu o pontapé de saída no painel que discutiu “Treinadores no Estrangeiro”, composto também por Jaime Pacheco e Nuno Espírito Santo.

    “O sucesso dos treinadores portugueses abre fronteiras e oportunidades, mas o futebol ainda não é a âncora da afirmação de Portugal lá fora, como deveria ser”, porque ainda não se estabeleceu no nosso país uma verdadeira “política económica e diplomática por via do desporto. No Vietname ninguém conhece Portugal, mas toda a gente conhece o Mourinho ou o Ronaldo. Uma delegação diplomática normal leva 30 jornalistas, se levasse o Figo tinha 300”, resume Henrique Calisto.

    Depois de contar a história de um antropólogo australiano que encontrou no aeroporto de Banguecoque e que sabia o nome completo de Eusébio da Silva Ferreira, Henrique Calisto fez notar que o Vietname é o único país asiático cujo nome se escreve em caracteres latinos. “Vejam lá o alcance da presença de Portugal na Ásia e no mundo. Os portugueses estiveram em todo o lado!”. E criticou os críticos do futebol português: “fazemos auto-golos quando criticamos o nosso futebol”. Jaime Pacheco apoiou: “temos de nos valorizar. Todos os portugueses lá fora têm todos sucesso. Todos!”.

    A IDEIA DE TREINADOR-HUMANISTA

    “Fundamental para ganhar são, fala-se muito disso agora, os afectos”. Henrique Calisto salienta a importância da ideia do treinador-humanista, que se embrenha na cultura e se empenha no desenvolvimento social e desportivo das comunidades para onde vai. Num quase espírito de missão. O “Professor Calisto”, como todos lhe chamam, garantiu que “a entrega do treinador português vai para além da exigência ao nível do treino. Além do trabalho e da competência, tem a preocupação da aproximação humana, do relacionamento e até de fazer adequar as infra-estruturas à prática. Outro estrangeiro só pensa no treino e no salário”, disse a propósito de um colega que substituiu no comando técnico da selecção do Vietname.

    “Nós quisemos sempre ter um adjunto vietnamita enquanto lá estávamos para lhes explicar e os ensinar. Íamos a eventos de benemerência com os jogadores, nas escolas e nos hospitais, e eu acompanhava a vida dos jogadores – ia a festas de aniversário e tinha de levar fruta ou whiskey”. A vontade de conhecer a cultura local é determinante para a aceitação. “Rezava com eles – eles ao Deles, eu ao Meu -, mas sentia-se essa partilha. Sabia eu mais do deus deles do que eles e eles ficavam impressionados”, testemunhou Henrique Calisto.

    A LÍNGUA E OS TRADUTORES

    “O diálogo é fácil. Mais inglês, menos inglês, mais intérprete, menos intérprete, o futebol é universal”. É no seu jeito pragmático que Jaime Pacheco encara a barreira linguística.

    Mas foi José Peseiro, já ontem, a falar dos tradutores pela primeira vez. A necessidade de ter intérpretes, que “também têm de ser treinados”, pode dificultar o processo de trabalho. “Explicar o treino e os exercícios é a parte mais fácil. O mais difícil é falar sobre as emoções. Às vezes dizemos em inglês, mas não é a mesma coisa. O risco é ter tradutores que não estejam connosco ou estejam demasiado ligados ao clube”, comentou Peseiro. Sobre isso, Jaime Pacheco disse que teve “a sorte de encontrar sempre tradutores muito leais, percebendo mais ou menos de futebol”.

    Nuno Espírito Santo teve a facilidade de treinar em Espanha, onde já tinha sido jogador. “Dominar o idioma e saber a terminologia do jogador ajuda – eles têm um código muito próprio”, contou.

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