Serão João Marques e Rodrigo Gomes jogadores de seleção?

    Escrever sobre João Marques ou Rodrigo Gomes (ambos atletas do GD Estoril Praia) e relacioná-los com a hipotética possibilidade de virem a integrar a convocatória da seleção AA de Portugal era algo, que no início da presente temporada, nunca pensei que viria a acontecer, acreditando que nem o mais fervoroso e parcial adepto estorilista pudesse o equacionar. 

    No entanto, e numa convocatória marcada por alguma polémica sobre o que é o espaço seleção, como deve ser abordado e quais os critérios da escolha dos seus eleitos, o selecionador nacional, acabou por identificar o nome dos dois jovens atletas, numa tentativa de reforçar a sua opinião de que, nas palavras do próprio, “Portugal tem o melhor processo de formação da Europa”, acrescentando, o facto do nosso país ser “um exemplo do que deve ser o futebol de formação, pois cria jogadores de grande nível”

    Não querendo ser injusto para com os atletas, mas tirando já o “elefante da sala”, ambos os atletas não têm a experiência necessária para vir a integrar os convocados da equipa das quinas no presente.

    Se têm talento para poder vir a acontecer no futuro? Sim, acredito que, se não existir nenhum problema alheio ao progresso natural dos dois jogadores, poderão vir a representar a seleção nacional. Além do mais, todo este debate acaba por partir de uma não questão que, principalmente para quem assistiu à conferência de imprensa na íntegra, sabe nunca foi da intenção de Roberto Martinez estimular com as suas declarações, devendo esta sim promover outro tipo de debate, centrado na forma como o selecionador de qualquer país deve olhar para a escolha dos jogadores convocados e da forma como promove a sua rede de observação, algo que Martinez tem vindo a ser acusado que algum conservadorismo.

    Falando dos atletas em si, tanto Rodrigo Gomes como João Marques são dois estreantes na seleção nacional sub-21, sendo recompensados com esta convocatória, fruto do bom momento de forma que atravessam, apesar do atribulado arranque (uma vitória em quatro jogos para a Primeira Liga) realizado pelos comandados de Álvaro Pacheco.

    Natural do Barreiro, João Marques, o novo menino-bonito dos adeptos do “mágico” é um médio ofensivo (podendo também jogar a médio direito ou esquerdo) de 21 anos que, entre sub-23 e plantel sénior, vai para a sua quarta época no Estoril tendo neste início de época marcado três golos e uma assistência, nos seis jogos oficiais já realizados. O seu percurso de formação passou pelo Sporting CP, FC Barreirense e Vitória FC – clube onde se estreou como sénior, na época 2020/2021 – e, até à convocatória do passado dia um de setembro, não contava com qualquer presença em contexto seleção. Será sob as ordens de Rui Jorge que João Marques pode vir a estrear-se por Portugal.

    João Marques com a camisola do Estoril Praia.
    Fonte: Ana Beles/Bola na Rede

    Numa situação distinta encontra-se o seu colega de equipa, Rodrigo Gomes. Natural de Vila Verde, o jovem extremo de 20 anos, já conta com 31 internacionalizações e seis golos marcados nos diferentes escalões da seleção portuguesa e a estreia como sénior foi aos 18 anos no SC Braga, clube onde realizou a maior parte da sua formação, pelas mãos de Carlos Carvalhal em 2020/2021. Visto como uma das pérolas da formação bracarense – à semelhança de Trincão e Pedro Neto – realizou um total de 51 jogos pela equipa principal com a camisola 7 nas suas costas, tendo marcado dois golos e efetuado uma assistência. Nesta época, foi emprestado ao Estoril Praia, onde procura ter mais minutos de utilização, de modo, a poder mostrar todo o talento que lhe é atribuído. 

    Como já referido, no centro de questão, para onde os nomes de João Marques e Rodrigo Gomes foram introduzidos, está a abordagem adotada pelo selecionador para o duplo compromisso com a Eslováquia e Luxemburgo a contar para a qualificação do campeonato da Europa de 2024, onde, na opinião dos portugueses, coloca os interesses do seu próprio sistema tático, convocando jogadores sem ritmo competitivo, tais como João Félix e João Cancelo, ou com poucos minutos, no caso do central Toti Gomes, acima do momento de forma do atleta, como de um clube se tratasse.

    Roberto Martinez, mesmo não tendo assumido publicamente tal metodologia, não é caso único – por exemplo, Luís Enrique adotou postura semelhante enquanto esteve como selecionador de Espanha – nem está mais ou menos certo por o fazer, pois não existe um único modelo de gestão para o espaço seleção. Diga-se também, seja Roberto Martinez, seja Fernando Santos ou outro qualquer selecionador, raros ou até mesmo inexistentes serão os casos onde exista um consenso em torno dos convocados para a seleção.

    No campo teórico do que deveria ser uma seleção nacional, se estes dois atletas apresentassem um momento de forma tal, que justificasse englobá-los nos 24 ou 26 convocados para a seleção portuguesa, eles teriam de ser escolhidos. Preconceito o nosso se o facto de vestirem as cores do Estoril, fosse um fator bloqueador para uma chamada à seleção.

    Veja-se o caso do anterior selecionador italiano, Roberto Mancini, e a sua política de “porta aberta” nos Azzurri. Como defendia publicamente e, se calhar de uma forma um pouco extremada, a seleção é um espaço aberto a qualquer jogador nacional que possa vir a acrescentar valor, independentemente do contexto competitivo onde se insere. Durante o período enquanto selecionador, ficaram célebres a convocatória, do até então desconhecido, Mateo Retegui- avançado ítalo-argentino de 24 anos que, no momento na sua primeira convocatória, jogava no CA Tigre, por empréstimo do  CA Boca Juniors, da liga Argentina – a convocatória de Simone Pafundi (júnior da Atalanta convocado com 16 anos de idade) e a realização dos estágios do projeto “Interesse Nacional” que visava descobrir novos e desconhecidos talentos para a “Squadra Azzurra” e onde participaram, por exemplo, o ex-SL Benfica Cher Ndour e o ex-Vitória SC Ibrahima Bamba.

    Para o João Marques, Rodrigo Gomes e outros tantos atletas lusos, este tipo de estágio seria uma medida interessante a adotar por parte da Federação Portuguesa de Futebol, de maneira a promover um novo espaço de observação, além a convocatória nacional e dos jogos dos respetivos clubes, ajudando o próprio selecionador a conhecer outros atletas, além dos seus já pré-convocados. Vale apena recordar que Portugal, com Fernando Santos como selecionador, chegou a realizar um jogo com Cabo Verde onde fez uma convocatória alternativa de observação, todavia, foi uma situação esporádica.

    Face às críticas recentes, a Roberto Martinez este tipo de iniciativas poderia ser benéfico para desmistificar a ideia de conservadorismo nos eleitos, dando um estímulo aos diversos profissionais de poderem estar perto do contexto de seleção AA que, mesmo para os que já estiveram em outros escalões, acaba por conferir outro peso e responsabilidade para no futuro virem a ser uma presença regular.

    Posto isto e voltando a responder à pergunta do título deste artigo: Não. Tanto o João Marques como o Rodrigo Gomes, ainda não estão num patamar de seleção nacional AA, cabendo-lhes, de momento, desfrutar da experiência nos sub-21 e que após este contexto competitivo podem sonhar em fazer parte dos eleitos para a seleção principal, pois o potencial está todo lá. Para quem propôs esta possibilidade, colocou um caso hipotético que acredito que nem os próprios atletas tenham, no presente, colocado em cima da mesa.

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