Voar bem alto mesmo com medo de aviões

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    A 8 de Dezembro de 1987, todo o plantel do Alianza Lima, o maior clube peruano, morreu num acidente aéreo. Entre as vítimas estava o guarda-redes José Gonzáles Ganoza, tio de Paolo Guerrero, que, com apenas 3 anos, estava longe de imaginar que viria a ser um dos melhores jogadores peruanos de sempre, apesar das marcas deixadas por esse dia fatídico. Devido à forma como o tio morreu, Guerrero tem pânico de andar de avião e há mesmo relatos de pilotos que foram obrigados a abortar descolagens devido ao desespero do avançado, que já recebeu tratamento psicológico para tentar ultrapassar o problema. Em 2010 o medo atingiu proporções extremas, com o jogador a falhar quatro voos de regresso à Alemanha, onde representava o Hamburgo. Guerrero terá percebido que, para não ser obrigado a acabar a carreira, teria de se mudar para um clube mais perto de casa.

    Aos 31 anos, o peruano é talvez o melhor jogador a actuar no Brasil. Na estreia pelo Flamengo, frente ao Internacional, o avançado marcou um golo e fez uma brilhante assistência na vitória por 2-1 no sempre difícil Beira-Rio, onde os cariocas não venciam há alguns anos. Guerrero não aceitou renovar pelo Corinthians e será a principal estrela do Mengão durante este Brasileirão, transformando uma equipa que não teria grandes ambições numa forte candidata a lutar pelos lugares cimeiros. Mas foi no Timão, outro gigante da América do Sul, que o peruano relançou a carreira e alcançou um estatuto que nunca teve no futebol europeu. Depois de uma fase inicial em que não teve grande impacto, Guerrero assumiu-se como a principal referência da equipa e atingiu um dos pontos altos da carreira quando deu o Mundial de Clubes – título a que os sul-americanos dão muito mais importância do que os europeus – ao Corinthians, marcando o único golo na final contra o Chelsea. As três épocas que passou em São Paulo foram suficientes para se tornar no melhor marcador estrangeiro do clube (superou a marca de Carlos Tévez), ele que nem é um goleador nato.

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    Guerrero não podia ter tido melhor estreia
    Fonte: Facebook do Flamengo

    Em 1923, o uruguaio Pedro Petrone foi o melhor marcador da Copa América. No ano seguinte, repetiu o feito. Foram precisos 91 anos para que outro jogador conseguisse imitar a proeza de ser o melhor marcador em duas edições consecutivas. Era um recorde que parecia impossível de bater, tal a maneira como se prolongou no tempo, mas Paolo Guerrero – que marcou quatro golos, tantos como os de Vargas – aproveitou a prova no Chile para inscrever o seu nome na História da mais antiga competição de selecções do mundo.

    O jogador peruano esteve em grande e provou que a Copa América é mesmo a “sua” competição. Já tinha sido um dos melhores em 2011 e este ano voltou a impressionar, levando a sua selecção a repetir um lugar no pódio. É um avançado versátil e que não se define exclusivamente pelos golos, tendo qualidade técnica, visão de jogo e uma capacidade extraordinária de jogar de costas para a baliza. Na equipa de Gareca, que realizou uma Copa América sensacional, faz a diferença não só pelo seu talento mas também pela forma como se entrega, sacrificando-se pelo colectivo. Se não tivesse assinado pelo Flamengo antes da prova, as exibições de Paolo Guerrero teriam certamente despertado o interesse de vários emblemas do futebol europeu. Mas o medo do peruano, que agora faz algumas viagens amarrado à cadeira, provavelmente levaria a que nem sequer pensasse numa proposta vinda do Velho Continente. Como será se o Peru garantir o apuramento para o Mundial de 2018, a disputar na gigantesca Rússia?

    Foto de Capa: alagoasweb.com

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