Faltou ali qualquer coisa…

    Uma surpresa táctica falhada, um árbitro com fobia a grandes penalidades, muitas oportunidades falhadas, uma pitada de classe e a sorte do jogo a sorrir a apenas um dos lados. Assim foi a estória do grande clássico espanhol da noite passada, que viu o Barcelona bater o Real Madrid por duas bolas a uma. Um resultado que acaba por ser justo, dado que o Barcelona foi a equipa que apresentou um futebol mais consistente e objectivo durante os 90 minutos. Do lado madrileno, uma segunda parte muito melhor do que a primeira, mas em que faltou alguém com clarividência para “desengatar” o nulo no marcador…

    Uma surpresa táctica falhada

    Se a equipa do Barcelona se apresentou em campo naquele que já é o seu sistema habitual, o mesmo não se pode dizer do Real Madrid. Um meio-campo claramente defensivo, com Khedira e Modric no miolo apoiados por Sergio Ramos a trinco, e uma frente de ataque com 3 “cavalos de corrida”, passo a expressão. Ronaldo, Dí Maria e Bale, com o argentino a encostar a um dos lados e com Bale e Ronaldo a alternarem entre a frente de ataque e a ala restante. Ainda que em termos teóricos esta pudesse ser uma táctica inteligente – aposta clara num meio campo que conseguisse recuperar a bola e lançar rápido para o trio ofensivo com velocidade e capacidade técnica em sobra – a verdade é que o futebol está longe de ser matemática. Como tal, o resultado foi uma primeira parte em que o Barcelona esteve mais forte, com os madrilenos a terem francas dificuldades em sair para o ataque. Iniesta, o grande comandante do ataque do Barça, aproveitou um espaço à entrada da área madrilena para servir Neymar, que com um ressalto feliz conseguiu bater Diégo Lopez à passagem do 19º minuto.

    Neymar radiante depois de ter marcado o primeiro golo da partida / Fonte: http://static.guim.co.uk/
    Neymar radiante depois de ter marcado o primeiro golo da partida / Fonte: http://static.guim.co.uk/

    Um árbitro com fobia a grandes penalidades

    Foram 3 as situações de grande penalidade que ficaram por marcar pelo árbitro Undiano Mallenco. Se o resultado ficou em 2 a 1 a favor dos catalães, nesta “categoria” foi o Real que ganhou, com dois penaltis por assinalar contra um do Barcelona. Em cima do final da primeira parte, um cruzamento tenso de Ronaldo pela esquerda resulta num remate à queima-roupa por parte de Khedira, que termina com uma grande defesa de Valdez. Na confusão junto à linha de golo, Adriano toca com o braço na bola e permite ao guarda-redes da casa agarrar a bola perdida. Ainda que algo discutível é difícil de ver e Adriano não tem propriamente intenção de jogar a bola com o braço, a situação era para penálti. Já na segunda parte, Pepe (sempre ele) pisa Fábregas na área merengue e o árbitro manda seguir. Lance novamente duvidoso dado que Fábregas consegue fazer o passe antes de sofrer a carga, mas mais um penalti que fica por assinalar. 71 minutos – situação clara de golo, Ronaldo em posição perigosíssima quando Mascherano dá um encontrão ao jogador português que cai redondo no chão. Será que é desta ? Nem por isso. O árbitro espanhol manda jogar, deixando para trás o capitão madrileno a barafustar. Se as outras situações podem suscitar algumas dúvidas, esta é para grande penalidade claríssima. Não sei se Undiano Mallenco tem alguma espécie de complexo em apontar para a marca de penalti, mas deu a impressão que não o faria nem que os jogadores praticassem boxe no meio da área.

    Ronaldo inconsolável depois do árbitro não ter assinalado penalty pela carga de Mascherano / Fonte: Albert Gea/Reuters
    Ronaldo inconsolável depois do árbitro não ter assinalado penalty pela carga de Mascherano / Fonte: Albert Gea/Reuters

    Muitas oportunidades falhadas

    Depois de uma primeira parte com domínio catalão e poucas oportunidades de golo, a segunda foi quase o contrário. O Real Madrid voltou ao seu sistema mais tradicional, com Benzema a render Bale na frente de ataque, Illarramendi a entrar para o lugar de Sérgio de Ramos e Ronaldo a encostar à ala esquerda. Khedira teve nova oportunidade para empatar aos 59 minutos prefere cruzar em vez de rematar, e 5 minutos depois é Ronaldo que com um tiro fulminante em passada vê Valdez fazer a segunda grande intervenção da noite. Do outro lado, um Barça menos dominante mas nem por isso menos perigoso. O jogo estava mais aberto e fluído, e quase que se conseguia cheirar o golo em Camp Nou.

    Uma pitada de classe

    Aos 72 minutos, foi a vez de Benzema tentar a sua sorte – tiraço do meio da rua e a barra a roubar aquele que teria sido um dos melhores golos da carreira do ponta-de-lança francês. E como já diz a velha máxima do futebol, quem não marca, sofre. A dez minutos dos 90, Alexis Sanchez, que entretanto entrara para o lugar de Fábregas, faz um chapéu perfeito a Valdés naquele que foi o golo da partida. 2 a 0 para o Barcelona, é a festa total nas bancadas, um golo para ver e rever. Mas o futebol bonito não ficou por aqui. 3 minutos depois Daniel Alves arranca no lado direito do campo, faz um túnel a Ronaldo (Que maldade, Sancidino!) e atira para a defesa de Diégo Lopez. O capitão português seguiu o exemplo e após grande arrancada no lado esquerdo serve Jesé que remata por entre as pernas de Valdez e fixa o resultado final em duas bolas a uma.

    Sanchez marca chapéu de antologia / Fonte: AFP/Getty Images
    Sanchez marca chapéu de antologia

    A sorte do jogo… e mais algumas coisas.

    O Barcelona foi o justo vencedor da partida, ainda que tenha contado com a sorte do jogo e beneficiado dos erros de arbitragem. Numa noite em que se esperava mais um intenso duelo entre os dois melhores do mundo, Messi e Ronaldo tiveram uma noite muito aquém do esperado, ainda que o extremo português tenha feito uma assistência e participado em mais jogadas de perigo do que o argentino. O tiki-taka continua a fazer sorrir os adeptos catalães, e Ancelloti deve ter aprendido que não é com invenções tácticas que vai conseguir derrotar este Barcelona. Mais do que sorte ou boa arbitragem, ficou a sensação de que aquilo que faltou hoje ao Real Madrid foi alguém que conseguisse dar sentido ao ataque da equipa. Alguém que tirasse um coelho da cartola, alguém com uma maior visão de jogo que conseguisse servir Ronaldo e Dí Maria. Alguém que faça aquilo que Iniesta fez hoje com o Barcelona, um líder criativo do meio campo que ponha todos os outros jogar.

    Alguém como… Ozil?

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