É a partir daqui que parte muita da criação ofensiva do Atalanta, com Gomez a assumir a batuta que o número 10 lhe exige de forma a explorar o espaço deixado por Petagna (referência ofensiva que normalmente descai para uma das elas) para a entrada de Kurtic, médio ofensivo/segundo avançado esloveno com boa estampa física, que lhe permite ganhar muito jogo àereo, e um faro para golo bastante apurado, a que não será alheia a sua noção do processo ofensivo e que lhe permite posicionar-se de forma privilegiada. Para criar, assistir ou marcar. Ele é, no fundo, o principal alvo da construção ofensiva, ainda que seja Petagna, no papel, o ponta-de-lança.
Esta verticalidade dá à equipa pouco tempo de jogo em posse mas, por norma, fá-lo com eficácia. E é aí que reside o principal trunfo desta Atalanta. Racionalização da posse de bola que, porém, não pode ficar dissociada do correspondente amparo táctico que o meio-campo e as alas lhe conferem.
Conti e Spinazzola são dois laterais com plena noção tática, compensando a dificuldade em envolver-se no processo ofensivo com uma disponibilidade organizacional incrível para jogadores de ala, lendo com mestria todos os momentos do jogo, especialmente o senegalês. No centro, uma autêntica sociedade de recuperação de bolas, com Kessié e Freuler em grande plano.
O primeiro, costa-marfinense de 20 anos, é mesmo uma das revelações do momento da Serie A pela disponibilidade física que empresta à equipa; o segundo, suíço de 24, é certinho como um relógio do seu país, cortando linhas de passe ao adversário.
Os dois são a essência deste Atalanta a jogar sem bola e um sem o outro não fazem sentido. Freuler potencia a agressividade de Kessié e potencia as poucas bolas que passam, e Kessié “poupa” muito trabalho físico ao seu companheiro de sector.
O 3x4x2x1 compacto (que pode assumir a forma do 3x4x1x2 quando Gomez apoia Petagna de forma mais declarada) do qual parte esta Atalanta veio com algum “pó” desde os anos 80, e encravou um bocadinho no início, mas, agora, depois de lapidado, vai fazendo ver ao mundo futebolístico o quão recompensadoras podem ser a persistência e a crença (não só da parte do treinador, como também da direcção) num modelo de jogo.
Foto de capa: IlGiorno.it