As naturalizações e o futuro do futebol russo

    O experiente guarda-redes do FC Lokomotiv Moscovo é tido por muitos como um dos melhores da sua posição a actuar no futebol russo e é, ao mesmo tempo, visto como uma alternativa segura a Igor Akinfeev, guardião do PFC CSKA Moscovo, que está longe de estar a viver os melhores anos da sua carreira. Guilherme, por sua parte, está também longe de ser um guarda-redes capaz de reunir consensos e algumas das suas exibições mais recentes têm deixado muito a desejar. Há um par de semanas atrás, aquando da visita da sua equipa ao terreno FC Terek, Guilherme contribuiu, e de que forma, para a vitória do emblema tchetcheno com uma abordagem extremamente infeliz ao lance que deu origem ao segundo golo da equipa caseira apontado pelo versátil médio polaco Maciej Rybus.

    A chamada de Guilherme torna-se um pouco mais questionável se considerarmos a quantidade de guarda-redes russos de qualidade que estão ou estariam à disposição de Leonid Slutsky, caso este assim o entendesse. Para além de Yuri Lodigin, do FC Zenit, e de Stanislav Kritsyuk, do FC Krasnodar, que também integram o lote de escolhidos para os jogos de preparação da próxima semana, Slutsky tem ainda à disposição guarda-redes como Artem Rebrov, capitão e titular indiscutível do FC Spartak Moscovo, Aleksandr Selikhov, titular do FC Amkar e presença habitual na selecção de Sub-21, Soslan Dzhanaev, dono da baliza do FC Rostov e também ele antigo internacional russo noutros escalões (é o guarda-redes menos batido da liga russa, com apenas 16 golos sofridos em 21 jogos), e até mesmo Anton Mitryushkin, titular indiscutível em todos os escalões de formação russos nos últimos anos, que, apesar de não ter minutos esta temporada, mudou-se recentemente para o FC Sion em busca de relançar a sua carreira longe do seu país natal.

    A temática das naturalizações não deixa indiferentes os jogadores da selecção russa e mesmo entre eles as opiniões estão claramente divididas. O gigante do FC Zenit Artem Dzyuba e o poderoso médio defensivo do FC Lokomotiv Moscovo Dmitriy Tarasov são totalmente contra a entrada de jogadores estrangeiros na Sbornaya, enquanto Alan Dzagoev e Aleksandr Kokorin olham com bons olhos para essa possibilidade.

    Vitaly Mutko, o homem à frente dos destinos do futebol russo Fonte: alchetron.com
    Vitaly Mutko, o homem à frente dos destinos do futebol russo
    Fonte: alchetron.com

    Independentemente da qualidade daqueles que já chegaram e de outros que irão eventualmente chegar em breve, há no caso particular da selecção russa um ou outro aspecto a reter. A Federação Russa em toda a sua imensidão conta com umas boas dezenas de academias de futebol de elevada qualidade, com clubes de dimensão mundial que já conquistaram e/ou atingiram finais ou fases avançadas de competições internacionais e, acima de tudo, conta com um número de praticantes da modalidade bastante elevado, o que logo à partida proporciona uma renovação permanente da estrutura, não só da selecção principal como de todas as selecções jovens. O problema russo é, no entanto, estrutural, e, à semelhança daquilo que acontece noutros países europeus, muitos desses jovens nunca atingem o seu pleno potencial porque não lhes são dadas as oportunidades necessárias nas primeiras equipas dos seus respectivos clubes, acabando os mesmos muitas das vezes emprestados a emblemas de escalões secundários, onde acabam por ter uma margem de evolução muito baixa.

    O futebol russo carece de uma estrutura capaz e de uma liderança coerente, algo que não acontece desde que Vitaly Mutko assumiu o poder. Uma que não procure esconder os embaraços de uma gestão, que chega a ser ruinosa, com faits divers como este da naturalização de jogadores (que pouco ou nada contribui ou contribuirá para o engrandecimento da selecção nacional e do futebol do país), passando para o exterior uma imagem de harmonia, organização e planificação para o futuro que na verdade não existe.

    Foto de Capa: varvara.wordpress.com 

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    Joel Amorim
    Joel Amorimhttp://www.bolanarede.pt
    Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.