– Herói em tempos de pandemia –
BnR: Vi no teu Instagram que leiloaste uma das tuas camisolas autografadas pelo Cristiano Ronaldo, para ajudar as pessoas afetadas pelo coronavírus.
M: Sim, o meu objetivo foi angariar dinheiro ao leiloar a camisola. Olhei para a camisola e pensei que é “apenas” uma camisola, e eu felizmente tenho muitas assinadas pelo Cristiano. E pensei, não sou o Cristiano Ronaldo, mas com o pouco que tenho posso ajudar os mais afetados pelo Covid-19. O exemplo de humanidade que ele foi para mim há uns anos inspirou-me a ser eu a ajudar desta vez os mais necessitados.
BnR: Como está a situação em Aceh?
M: Está a ser difícil para muitas pessoas. Há muitas famílias com dificuldades, pois há muitos infetados aqui na zona.
BnR: Quanto dinheiro angariaste com a camisola?
M: Foram cerca de 12.000€.
BnR: É muito dinheiro.
M: Sim, sobretudo para a realidade na Indonésia é muito dinheiro mesmo. Pude ajudar muitas pessoas e elas ficaram felizes com isso. Aqui na Indonésia toda a gente adora o Cristiano Ronaldo e esperam ansiosamente que ele possa vir cá visitar, sobretudo em Aceh [onde Martunis mora].
BnR: Foi um gesto de uma enorme generosidade da tua parte. São precisos mais exemplos desses para se acreditar mais na Humanidade.
M: Sim. Talvez o Cristiano saiba deste gesto, espero que ele fique orgulhoso. Gostava muito de estar com ele outra vez em breve.
BnR: Há pouco dizias que querias muito voltar a Lisboa e podias trabalhar em qualquer coisa. À parte do futebol, em que outras áreas estarias disponível para trabalhar?
M: Qualquer área, posso trabalhar em qualquer oportunidade que surja. Posso treinar e trabalhar ao mesmo tempo. Casei há três meses, por isso sinto ainda mais a necessidade de voltar para Lisboa e arranjar um trabalho para conseguir dar melhores condições de vida à minha mulher e à minha família. A minha situação aqui na Indonésia não é muito boa, é difícil receber bem. Aqui, infelizmente, não é bom para se ganhar dinheiro ou arranjar um trabalho decente.
BnR: Planeias ter filhos em breve?
M: Sim, mas tenho que melhorar a minha situação de vida.
BnR: Se for um rapaz, vais chamar-lhe Cristiano?
M: [Martunis ri sem parar] Sim, sim.
BnR: És religioso?
M: Sim, sou Muçulmano.
BnR: Como foi manteres a prática religiosa aqui em Portugal?
M: Foi fácil, muito fácil. Senti-me sempre confortável com isso e sempre respeitaram a minha crença. Para mim nem faz sentido categorizar as pessoas pela religião, somos todos iguais como seres humanos.
BnR: Percebo o que dizes. Eu sou católico e o meu avô era judeu, na minha família sempre me ensinaram a respeitar as diferentes religiões.
M: O Cristiano também é católico como tu.
BnR: Sim. E a verdade é que a base destas três religiões de que falámos é a mesma: o amor. Não é o ódio ou as guerras que tantas vezes se propagam.
M: Exatamente. Estamos todos ligados pela humanidade, independentemente da religião.
BnR: Qual a maior aprendizagem que retiras do futebol?
M: A maior aprendizagem foi que o futebol é um processo. E tens que trabalhar arduamente nesse processo e naquela que é a tua realidade se queres ser bem-sucedido. Nada se consegue sem prática e hard work. Esta é uma grande lição que não aprendi em nenhuma escola mas sim no futebol.