O Steaua Bucuresti de Valentin e o FCSB de Becali

    Helmuth Duckadam, o gigante guarda-redes romeno que defendeu todas as grandes penalidades apontadas pelo FC Barcelona na final de 1986, garante de forma categórica que Valentin nunca usou o facto de ser filho do presidente para manipular resultados, nem muito menos usou a sua influência junto da família e do partido para alterar fosse o que fosse. Duckadam garante que Valentin era um amigo para todos e falava de coração aberto com todos. Este sentimento de Duckadam é partilhado pela maioria dos antigos companheiros que ainda hoje em dia mantêm uma relação de amizade com Valentin.

    Outro grande nome do futebol romeno, Marius Lacatus, acredita que Valentin fez com poucos recursos pelo Steaua Bucuresti aquilo que Silvio Berlusconi fez pelo AC Milan com quantias astronómicas de dinheiro.

    Valentin terá alegadamente chegado a um acordo de princípio com a Juventus no final da década de 1980 para a venda do lendário Gheorghe Hagi. O acordo que, para além da óbvia componente financeira, traria benefícios para o próprio país, uma vez que os dirigentes do emblema italiano se haviam comprometido a instalar uma unidade fabril da FIAT nos arredores da capital romena, algo que, tivesse acontecido, teria sido inédito naqueles tempos. A transferência, no entanto, terá sido bloqueada pelo aparelho do partido e pelo respectivo governo romeno liderado com mão de ferro pelo seu próprio pai.

    Valentin Ceausescu (na fila do meio com casaco em xadrez) com equipa do Steaua Bucuresti em 1986 Fonte: FC Steaua Bucuresti
    Valentin Ceausescu (na fila do meio com casaco em xadrez) com equipa do Steaua Bucuresti em 1986
    Fonte: FC Steaua Bucuresti

    Após a morte por fuzilamento dos seus pais, Valentin terá escapado à morte certa à custa dos seus jogadores, que não só o defenderam publicamente, como lhe deram abrigo nas suas próprias casas, nos tempos agitados que se seguiram à queda do ditadura de Ceausescu. Valentin deixou de ter uma presença activa no futebol na Roménia pós-Ceausescu, ainda que aqui e ali servisse de mentor tanto a Bölöni como a Piturca, quando estes lideravam a selecção romena. Valentin manteve até aos dias de hoje uma vida modesta e longe do rebuliço dos meios de comunicação, dedicando-se quase em exclusivo ao seu trabalho como físico nuclear, sendo apenas visto em público enquanto toma café com os seus antigos jogadores e amigos ligados ao futebol romeno.

    É difícil, ou praticamente impossível, tecer comparações entre o actual FCSB de Gigi Becali e o Steaua Bucuresti de Valentin Ceausescu. Valentin liderava e organizava uma equipa recheada de grandes jogadores e com uma vontade férrea em se afirmar numa Europa do futebol, também ela dividida por ideologia política, e que venceu, entre outras coisas, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus e uma Supertaça Europeia, enquanto Becali comanda uma equipa que, apesar de muitos recursos financeiros ao dispor, prima pela desorganização e pela instabilidade constante, limitando-se a conquistar títulos domésticos, ainda que não de forma consecutiva nem consistente.

    O FCSB dos dias de hoje, ao contrário do Steaua Bucuresti dos anos 80, pouco poderá fazer diante do melhor Sporting CP, que, num dia de total acerto, ultrapassará o outrora poderoso emblema romeno sem grandes complicações à mistura. O futebol, no entanto, não é uma ciência exacta e os leões não deverão ser condescendentes, uma vez que e, como afirmou Nicolae Dica recentemente, a presença na fase de grupos da Liga dos Campeões é um dos grandes objectivos da equipa.

    Foto de Capa: FC Steaua Bucuresti

    Em parceria com O Bloco de Leste

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    Joel Amorim
    Joel Amorimhttp://www.bolanarede.pt
    Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.