Após ter assistido aos dois jogos da selecção nacional no início deste mês fiquei com um misto de sentimentos. A equipa das quinas realizou duas exibições francamente positivas contra a vice-campeã mundial e contra uma selecção italiana que, apesar de atravessar um processo de renovação, não deixa de ser um adversário de respeito.
No entanto, não deixei de ficar com a sensação de que estas mudanças, para melhor, que houve no nosso jogo, pecam por tardias. E, antes de mais, devo desde dizer que não me estou a referir à ausência de Cristiano Ronaldo. Uma maior fluidez da equipa na sua ausência não era de todo uma novidade. As mudanças a que me refiro passam por outros aspetos.
Como cheguei a falar aqui, a principal crítica que deixei a Fernando Santos no Mundial foi o facto de este ter tentado replicar o modelo que fez sucesso em 2016, quando vários jogadores que conheciam esse modelo estiveram longe de ter o desempenho da temporada 2015/2016. Jogadores como José Fonte, Raphael Guerreiro, João Mário e Adrien Silva tinham tido épocas muito abaixo do nível já demonstrado e o modelo ressentiu-se fortemente disso.
Nos últimos jogos, Fernando Santos lançou João Cancelo, Rúben Dias, Rúben Neves e Pizzi no onze titular e estas mudanças acabaram por fazer a diferença na forma de jogar da equipa das quinas. Principalmente numa selecção nacional, o modelo de jogo da equipa deve ajustar-se aos jogadores que tem à disposição. Houve mais jogo interior, maior ligação entre setores e acima de tudo, maior confiança dos seus intérpretes.
Dadas as circunstâncias, existem questões que eu entendo que devem ser colocadas na mesa: Por que é que o João Cancelo e o Rúben Neves ficaram de fora do Mundial? Porque é que o Rúben Dias não jogou na Rússia? Porque é que teimamos em apostar na continuidade?
Destes dois jogos retira-se uma lição muito importante: a melhor forma de um modelo funcionar numa selecção nacional não é apostar nos jogadores que estão mais habituados a este, mas sim apostar naqueles que estão em melhores condições físicas e anímicas para o executar.
Agora, resta saber se estes sinais positivos são sol de pouca dura ou se vieram para ficar. Veremos isso nos próximos jogos. Compete a Fernando Santos ter a sabedoria para apostar nos jogadores que poderão dar mais garantias.
Foto de Capa: Carlos Silva/Bola na Rede