Não vou invadir o terreno do meu colega que vai fazer o flashback do minuto 109 do jogo. Mas o golo acontece numa jogada em que o ponta de lança vem procurar os médios e o espaço criou-se e o golo aconteceu. Uma nova descoberta dos lusitanos, o caminho para se conquistar uma grande prova de seleções.
A 10 de julho, o golo mais importante da história do futebol português teve a assinatura, pela quarta vez ao serviço das quinas, de Éder, que marcou o golo da final do Euro como havia marcado os três anteriores. Com o pé direito.
Encheu o pé e dele saiu a força e o impacto suficientes para bater Lloris, mas o pé direito de Éder também se encheu porque da arrancada até à fração de segundo em que a bola beija a rede, milhões entraram dentro da chuteira e viajaram no interior do esférico à velocidade da esperança e da determinação e grito de um povo que há muito ansiava levantar uma grande taça.
Éderzito, o menino que cresceu longe da família, acostumado ao sofrimento, encontrava na infância a companhia da bola como aquela que o fazia sonhar. Durante outras alturas da vida, pensou muitas vezes em desistir e sofreu só a dor dele.
No caminho até ao Euro, confessou que as críticas o atingiram muito. Foi a bola que o voltou a salvar. Como em criança. Então era uma brincadeira e partir vidros não tinha piada. Dava castigos.
Naquela noite, às 22h18, um remate com força castigou tudo menos Éder, tudo menos quem os rodeava e acreditou sempre nele. No gesto do festejo da hora mais gloriosa do futebol, Éder sinalizou uma fénix. Animal renascido das cinzas. Que melhor forma de falar do momento?
O herói nacional, no final, sorriu, mas houve quem muito chorasse….de alegria, sim, de alegria, não falemos de quem chorou de tristeza. E na vida desta criança que veio pobre para Portugal e foi chegando, por entre tantas agruras, a esta consagração nacional, vemos um perfil de luta e superação de tanto português.
Desde 10 de julho de 2016, Éder fez mais quatro jogos pela seleção, mas não voltou a marcar. Não esteve na Taça das Confederações. Mas espero pelo seu regresso. Hoje eu espero por Éder o tempo que for preciso, nem que seja só pela simples memória de alguém que me fez muito feliz.
Nesta idade moderna, o futebol é um fenómeno que assume um caráter ecossistémico da vida. Está lá tudo dentro das quatro linhas. E lá fica para sempre na história, tal como as naus de outrora, de outros séculos, que ficam e se mostram nas escolas falando do que egrégios avós conquistaram.
Faz hoje um ano que foi dado novo mundo ao mundo. O de Éder. O do futebol português. O da História.
E voltando à metáfora dos futebóis da infância…porque não recuperar o clássico “Chuta daí se és homem!”. Faz hoje um ano que Éder chutou dali! Obrigado, campeão!
Foto de Capa: BPI / Kieran McManus
artigo revisto por: Ana Ferreira