Mundial Futebol Praia’15 – Pegadas de um sonho só nosso!

    cab futebol de praia

    Lembram-se daquele célebre dia 4 de julho de 2004, quando Charisteas fez um golo que gelou o Estádio da Luz e pôs um país em lágrimas? Na altura, era o Euro 2004 que perdíamos. Lembram-se daquela geração de ouro que tivemos em 2011 e que no Mundial de Sub 20 apenas perdeu devido a um golo fortuito em pleno prolongamento? Lembram-se de uma das gerações com mais futuro no futebol português e que perdeu há dias uma final na decisão pelas grandes penalidades? Os três momentos que aqui coloquei são apenas aqueles que mais estão na minha memória e que refletem a tristeza por uma derrota de Portugal.

    É certo que a emoção de uma final em futebol de onze não é sequer comparável com a emoção que senti hoje nas bancadas do Estádio da Praia da Baía, em Espinho. Mas não foi por isso que o nervosismo e ansiedade foram menores. E isso aconteceu porque invariavelmente Portugal tem a tendência de ficar sempre à porta das grandes vitórias. Há quem lhe chame o triste fado lusitano, há quem pense que é o destino e outros, como eu, acreditam que a falta de competência e felicidade em alguns momentos têm andado demasiadas vezes de mãos dadas quando se refere à nossa seleção. Este domingo, eram apenas 9h30 quando cheguei à Praia da Baía. Muito provavelmente, deve-me estar a considerar um louco por ir tão cedo para uma fila quando o primeiro dos dois jogos do dia apenas se disputava às 17 horas. Àquela hora, com o sol ainda escondido por entre as nuvens, não era o primeiro a chegar. Já lá estavam centenas, como se este domingo fosse o dia mais importante das suas vidas. As horas passaram, o calor chegou e com ele veio a enchente que se esperava e que em pouco mais de meia hora encheu por completo o Estádio. O número de adeptos à espera de entrar nas barreiras era proporcional ao tamanho do sonho de todos os portugueses: depois de tantos pontapés ao lado, esta tinha que ser a nossa final e o nosso mundial.

    3 segundos de jogo e primeira explosão de alegria: como em tantas outras ocasiões durante a última década, Madjer arrancou um pontapé de pé esquerdo como só ele sabe. Foi a primeira vez que a bola ficou nas redes do guarda redes Jo. Era o primeiro passo rumo ao título. Para todas aquelas almas que durante horas a fio ali ficaram à espera para entrar no Estádio, não haveria melhor maneira para Portugal retribuir o esforço. De forma categórica, a seleção punha-se numa vantagem que haveria de ser decisiva. No meio destas contas, há que falar igualmente do outro finalista, o Taiti. Uma equipa absolutamente genial e cuja imprevisibilidade do seu jogo foi cativando o público português durante os últimos dez dias. Ganharam à Rússia e eliminaram Irão e Itália para chegarem ao jogo decisivo. Ali, perante milhares de portugueses, viram-se de caras com uma desvantagem precoce. Ainda assim, não foi por isso que a seleção de Tehina Rota abrandou o ritmo. Sem nunca fugirem à sua ideia de jogo, foram para cima de Portugal à procura de um título inédito. O problema para os asiáticos é que esta tarde estava destinada a ser nossa. Tão simples quanto isso.

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    Foram milhares os adeptos na Praia da Baía
    Fonte: lusogolo.com

    Aos 6 minutos de jogo, Madjer, numa assistência brilhante, pôs a bola em Belchior. O movimento, tantas vezes repetido ao longo da competição, finalmente dava frutos. Era o segundo golo de Portugal, num remate colocadíssimo de pé direito do talentoso avançado. Nova explosão de alegria em Espinho e a certeza, para os 3500 adeptos, que a vitória estava mais perto. Desengane-se, porém, quem acha que a final deste domingo foi um mar de rosas para os jogadores portugueses. O Taiti, mesmo em desvantagem numérica, nunca virou a cara à luta e sempre procurou ir à procura de um resultado que fizesse história. Para que isso não tivesse acontecido, em muito contribuiu a qualidade das defesas de Elinton Andrade e a segurança defensiva mais uma vez presente na exibição da seleção nacional. O segundo período chegou e com ele assistiu-se a um ritmo mais calmo imposto por Portugal. Não havia razão para que isso não acontecesse e era inclusive a melhor forma para parar a capacidade ofensiva do Taiti. Percebeu-se ao longo de jogo que este foi um adversário bastante estudado por Mário Narciso: conhecedor de que a seleção do Taiti é uma equipa que gosta mais de explorar os espaços e as transições; decidiu dar a posse de bola ao adversário e explorar as costas do adversário, com a velocidade sobretudo de Belchior. Aos 16 minutos, nova machadada nas aspirações do Taiti. Desta vez, tinha sido a vez de Coimbra faturar, desviando de forma subtil mas decisiva um passe em forma de remate do guarda redes Andrade.

    É certo que ainda faltavam 20 minutos para terminar a partida, mas o 3-0 no marcador indiciava um final feliz para a equipa portuguesa. É caso para dizer que a alegria portuguesa teve o primeiro travão logo no reatamento após o golo de Coimbra. Num remate fortuito – no qual Elinton Andrade não ficou bem na fotografia – Labaste reduziu o marcador, dando justiça àquilo que havia sido a produção ofensiva do Taiti até àquele momento. Com o golo, a motivação dos asiáticos aumentou. A velocidade do seu jogo foi maior e a intensidade com que Labaste, Taiarui, Li Fung Kuee e companhia começaram a trabalhar a jogo ofensivo  tornou-se cada vez mais perigosa para a seleção portuguesa. Por isso, apenas dois minutos após o primeiro golo, Li Fung Kuee – num remate soberbo ao ângulo de baliza de Andrade – reduziu para apenas um golo de diferença o marcador. O Estádio da Praia da Baía gelava e o sofrimento pairava novamente em Espinho.

    Os minutos que se seguiram ao segundo golo do Taiti foram de verdadeiro sufoco para os milhares de adeptos portugueses. Afinal de contas, o triplo falhanço dos jogadores nacionais (Bruno Novo falhou um penálti, Belchior falhou por duas vezes isolado) fez com que o nervosismo se tenha apoderado dos adeptos. Felizmente, esse sentimento acabou por não passar para dentro do campo, visto que Portugal nunca se mostrou verdadeiramente preocupado com a desvantagem mínima no marcador. Bem vistas as coisas, esta também durou apenas dois minutos, visto que Bruno Novo, após um brilhante livre direto, voltou a recolocar Portugal com dois golos de vantagem.

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    Portugal sagrou-se finalmente Campeão do Mundo
    Fonte: Facebook Seleções Portugal

    O terceiro período acabou por não trazer grandes alterações ao figurino geral da partida. No lado português, a tranquilidade pelos dois golos de vantagem fazia com a seleção tenha jogado mais na expetativa do que na procura por mais golos. O Taiti procurava a todo o custo o golo e a verdade é que foram várias as oportunidades que a seleção asiática foi desperdiçando, com Fung Kuee e Labaste como os principais responsáveis. A equipa de Rota haveria de chegar ao 4-3 no marcador, com a estrela da equipa Fung Kuee a desviar da melhor forma um passe do guarda redes Jo. Com todo um terceiro período ainda por disputar, a ansiedade e o nervosismo voltaram a tomar conta dos adeptos. O problema é que, ao contrário do que havia sucedido na primeira ocasião, desta vez a ansiedade também passou para os jogadores portugueses. A verdade é que depois de dois períodos em que a exibição portuguesa tinha roçado a perfeição, o terceiro período acabou por redundar em demasiados erros não forçados dos jogadores portugueses. A qualidade no passe baixou e à medida que os minutos iam passando o espectro do empate ia-se aproximando. Felizmente, os nervos dos milhares de portugueses acabaram por sucumbir à alegria no último minuto de partida, no quinto e decisivo golo português. Com o Taiti completamente balanceado para o ataque, Coimbra decidiu colocar uma bola com conta, peso e medida para o pé esquerdo de Alan. Com um chapéu perfeito ao guarda redes adversário, o veterano da seleção portuguesa dava a alegria final ao público português. A vitória estava conquistada. O título era finalmente nosso.

    Até ao apito final do árbitro da partida, foi apenas o tempo para que o público do Estádio da Baía se enchesse de orgulho pela conquista portuguesa. Depois do título alcançado em 2001 – ainda sem a égide da FIFA – Portugal voltou a ser o capitão maior das areias mundiais. Capitaneado por um soberbo Madjer e liderado por um tremendo Alan, a seleção portuguesa decidiu construir desde o primeiro momento a sua própria sorte. Terminado o Mundial, é caso para dizer que a vitória lusitana foi tremendamente justa, tendo em conta a qualidade com que Portugal brindou quase todos os adversários. E sim, agora podemos ser nós a festejar. Depois de tantas desilusões e finais perdidas, finalmente chegou a nossa hora. Se calhar não foi onde queríamos e como queríamos mas o que interessa é que finalmente aconteceu. Portugal está no topo do mundo do futebol de praia e por isso as nossas pegadas vão ficar na história. Tão simples quanto isso.

     

    P.S – A Rússia terminou o Mundial no terceiro lugar após vitória inequívoca por 5-2 frente à Itália. Os russos foram sempre melhores e a vantagem no marcador apenas peca por escassa. Do lado soviético, marcaram Peremitin (duas vezes), Shaikov, Romanov e Paporotnyi. No lado italiano foi a vez de Palmacci e Marinai fazerem o gosto ao pé.

     

    Figura do Dia: Portugal – Durante o mundial, a seleção liderada por Mário Narciso viveu vários altos e baixos. O jogo frente ao Senegal foi sem dúvida a pedra num sapato que acabou por assentar da melhor forma à nossa seleção. Depois dessa derrota, as exibições vieram em crescendo e a conquista do título mundial é totalmente justa. Portugal é campeão do Mundo!

     

    Fora de Jogo: Demasiada procura e pouca oferta – A partir do momento em que a FPF anunciou que os convites para o campeonato do Mundo seriam grátis, facilmente se percebeu que a confusão para o acesso ao Estádio seria uma constante. Não contesto que os bilhetes fossem grátis mas penso que não fez sentido a FPF não ter posto qualquer limitação no número de convites atribuído por dia. Claramente foi o pior fator deste Mundial.

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