A Senhora do Apito – Entrevista a Filipa Jales

    BnR: Qual foi a melhor partida que já arbitrou? E a pior?

    FJ: Esta é uma questão a que é difícil responder. Não sei se foi o melhor mas o jogo que mais me marcou foi o que colocou frente-a-frente as lendas portuguesas e sul-africanas. É uma sensação indescritível arbitrar os nossos ídolos. Senti-me como uma menina a quem deram um rebuçado.

    Não há piores jogos no rugby, na visão da arbitragem, claro. Temos de entrar em cada jogo como se da final do Campeonato do Mundo se tratasse. Se faltar motivação, o erro é meu e tenho de a ir buscar seja onde for, pois só assim consigo manter os níveis de concentração e respeitar os intervenientes no jogo.

    BnR: Quais as suas grandes ambições enquanto árbitra de rugby?

    FJ: Felizmente já consegui atingir praticamente todas as metas que fui traçando ao longo dos anos. Falharam os Jogos Olímpicos… Aqui já não há segunda oportunidade (a idade não perdoa). A partir de agora, e enquanto as pernas o permitirem, quero cumprir as nomeações nacionais e internacionais mas focar-me no nacional. O rugby já me deu muito e está na hora de retribuir e começar a trabalhar para o futuro da arbitragem em Portugal, por enquanto dentro dos campos, mas no futuro fora deles, dando o meu contributo onde acharem mais necessário.

    BnR: Nos últimos anos tem sido apontada como uma das melhores árbitras de rugby em Portugal, sendo que na época transacta foi considerada pelo Bola na Rede como a melhor. É um objectivo que lhe costuma passar pela mente, este de ser a melhor?

    FJ: Claro que sim, mas não em competição com ninguém! Compito comigo mesma, trabalho para não repetir erros, coloco pressão em mim para elevar os níveis de concentração (funciono melhor sob pressão), mas ao mesmo tempo encaro os jogos de forma ligeira… Aquando do apito inicial, seja que jogo for é só mais um jogo de rugby, e a vida continua da mesma forma findos os oitenta minutos.

    A árbitra assume que o facto de ser mulher influenciou o seu rumo Fonte: Luís Cabelo
    A árbitra assume que o facto de ser mulher influenciou o seu rumo
    Fonte: Luís Cabelo

    BnR: Quais acha serem as principais diferenças entre a Filipa, que é árbitra, e os seus colegas árbitros?

    FJ: Tirando aquelas que estão claramente à vista (risos)… Na minha visão, não há diferenças. Diz quem está envolvido na arbitragem que estou sempre a sorrir dentro de campo e que às vezes sou ”mãezinha” dos jogadores; não digo permissiva, mas compreensiva… Na minha opinião é apenas a minha maneira de ser, seja dentro ou fora de campo. Depois existem as diferenças físicas, claro. Por muito que treine nunca conseguirei acompanhar a velocidade de um jogador em forma, por isso penso um pouco mais nas minhas linhas de corrida e tento agir em antecipação para colmatar a diferença dos índices físicos.

    BnR: Como é um dia normal na vida de Filipa Jales, a árbitra?

    FJ: A Filipa árbitra não se dissocia da Filipa profissional e da Filipa mulher; o rugby está presente no meu dia-a-dia tal como tudo o resto. Treino antes de chegar ao escritório e muitas vezes depois do dia normal de trabalho tenho jogos de treino ou treinos de selecções, falo de rugby todos os dias, penso o rugby todos os dias… Tenho a felicidade de estar integrada numa empresa que valoriza a minha carreira desportiva e me dá liberdade para cumprir os compromissos assumidos com a nossa modalidade, mas mesmo assim ”sacrifico” quase todas as férias em prol do rugby. Os fins-de-semana não são folgas… Antes pelo contrário, são dias de muito trabalho, muitas vezes com deslocações pelo meio. Posso dizer que são mais corridos que os dias da semana. Costumo brincar dizendo que os meus dias deveriam ter quarenta e oito horas, às vezes reclamo da falta de tempo para a família, para os amigos… Mas na verdade é assim que me sinto realizada!

    Há mais de duas décadas ligada ao rugby, a árbitra Filipa Jales deixa em aberto a possibilidade de continuar ligada à modalidade após terminar a carreira. Pelo meio assume já ter concretizado quase todos os objectivos que traçou, mas continua empenhada em melhorar.

    Foto de Capa: Luís Cabelo

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    Ana Cristina Silvério
    Ana Cristina Silvériohttp://www.bolanarede.pt
    A Ana Cristina é uma apaixonada pelo mundo do desporto. Do futebol ao Rugby, passando pelo ténis e pelo surf, gosta de assistir a quase todo o tipo de desportos, mas confessa que lhe dá um prazer especial que os atletas enverguem um leão rampante na camisola.                                                                                                                                                 A Ana não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.