Eis a história da superioridade do futebol face à contabilidade: Edmílson Pimenta Gonçalves deu um pontapé nos números e imbuiu-se no futebol. A adaptação a Portugal, para si, foi como solucionar uma equação de primeiro grau. A chegada a França, a princípio, constitui um problema para o qual não tinha resposta, mas, volvidos alguns meses, descortinou a operação aritmética, embora hoje o tivesse resolvido de forma diferente. No FC Porto, observou e contribuiu eficazmente para a geometria do Penta. No Sporting, as contas certas só foram escritas uma vez. E, no Portimonense, os números esconderam-se durante cinco longos meses. Fica – quer neste registo, quer no seu espírito – o desejo de ser o responsável matemático pela sua popularidade no país natal.
– Primeiros passos e primórdios em Portugal –
Bola na Rede [BnR]: Quando é que começaste a jogar futebol?
Edmílson [E]: A paixão pelo futebol cresceu comigo, é praticamente inerente. Comecei a jogar desde muito cedo e sempre tive de conciliar o futebol com o trabalho. Mas, chegou um momento em que tive de optar e fazer a escolha entre a contabilidade e o jogar futebol e eu escolhi a jogar futebol.
BnR: Assinaste o primeiro contrato profissional em 1991, com 19/20 anos. Nessa altura, como me disseste agora mesmo, estavas indeciso entre as duas atividades.
E: Sim, sim. Eu sou técnico de contabilidade e já trabalhava num escritório no ramo. O meu patrão só verificava e assinava. Então, eu tive que optar. Gostava muito de contabilidade, mas gostava mais de futebol. Surgiu a oportunidade do clube da minha cidade e eu assinei, a contragosto dos meus pais. Eles não queriam que eu assinasse, queriam que eu me dedicasse à contabilidade. Decidi jogar e resolvi acertadamente.
BnR: Na altura, eras muito jovem. Sentiste que podias ter sucesso?
E: Sinceramente, não tinha essa noção, não senti que podia chegar ao futebol de alto nível. Eu só gostava de jogar futebol, de estar em contacto com a bola, em marcar golos e de fazer bons jogos. Era uma emoção muito grande para mim. Mas não tinha aquela noção de que podia singrar.
BnR: Chegaste a Portugal em 1993 para vestir as cores do Nacional da Madeira. Por que razão a escolha recaiu sobre Portugal? Por que não escolher o Brasil ou outro país qualquer, dependendo das propostas?
E: Boa pergunta, boa pergunta. Quando eu jogava no Colatina, fui para Minas Gerais, no Democrático e Valadares, eu fiz uma excelente temporada no campeonato. De lá, saíam muitos jogadores para Portugal e para todo o Brasil. O Cruzeiro estava interessado, o Atlético de Mineiro também e surgiu a hipótese do Nacional. O jogador brasileiro tem sempre presente aquela ambição de jogar na Europa e, como surgiu aquela alternativa, eu tinha de escolher e optei pelo Nacional da Madeira.
BnR: Chegado ao Nacional, clube da divisão de Honra à data, conta-nos sobre a tua adaptação às tradições e à cultura portuguesa. Pergunto isto porque a primeira época não foi fácil, quatro golos em 30 jogos…
E: Considero uma boa adaptação. O clima da ilha da Madeira é parecido com o do Brasil e a comida é excelente. Foi muito fácil adaptar-me. A receção da equipa foi fantástica. Praticamente chegado, tive uma lesão no joelho. Rompi os ligamentos do joelho. Estive dois ou três meses parado. Isso condicionou-me um pouco, a mim e à minha forma de contribuir: golos.
BnR: Na época seguinte, 1994/1995, dás o salto para a divisão primodivisionária e ingressas ao serviço do SC Salgueiros. Lá, marcas 15 golos em 35 jogos e realizas uma época muito boa a nível individual, sob a orientação do técnico Mário Reis. O treinador teve um papel preponderante na tua eficácia?
E: Sim, com certeza. O Mário ajudou-me bastante. Foi no Salgueiros que aprendi a jogar de olhos postos no ataque, a finalizar de forma eficaz. Treinávamos muito a finalização. E, apesar de não ter muita liberdade no ataque, eu aprendi a jogar mais atrás e a ter em mente o assistir, o dar aos colegas. Mário Reis foi um dos grandes treinadores que me ajudaram muita na trajetória em Portugal e na Europa.