«Defrontei o Maradona quando ele estava no Sevilla, aliás, até tenho a fotografia» – Entrevista BnR com Carlos Xavier

    Esta semana entrevistámos Carlos Xavier, internacional A por Portugal e antigo jogador do Sporting, Académica e Real Sociedad. Nesta animada conversa passámos em revista a sua carreira como jogador, desde os primeiros anos no Sporting e a famosa dobradinha em 81/82, passando pelo empréstimo à Académica onde jogou com o seu irmão gémeo, a primeira chamada à seleção, em que foram buscá-lo a casa às três da manhã, e a aventura na Real Sociedad, onde defrontou Maradona e Simeone, marcou ao Real Madrid e ajudou o clube a chegar à UEFA. Por fim, o regresso ao “seu” Sporting, a tempo ainda de conquistar uma Taça de Portugal e uma Supertaça.

    – Os primeiros anos de Sporting –

    Bola na Rede [BnR]: O Carlos chega ao Sporting em 1980. Quem era o treinador na altura?

    Carlos Xavier [CX]: Eu chego em juvenil ainda mas como sénior, nessa época de estreia, era o Fernando Mendes, que saiu e eu subo e faço a minha estreia com o Radisić, que era o Preparador Físico. Ele gostava de mim e acaba a época, faz seis meses para aí, e depois chega o Allison, o inglês. Aí é que eu acabei por ficar no Sporting porque tinha subido dos juniores e havia uma série de jogadores que estavam para ser dispensados. E ele disse “não, não, eu quero vê-los a todos”, e depois pôs no círculo central do campo sete ou oito miúdos só toque e passa, controlo e passe. Passado meia hora disse, quero este, este e este, e eu fui um deles. Foi assim que fiquei no Sporting.

    BnR: Como era o ambiente do grupo?

    CX: Era muito bom, muito bom. Basicamente só tínhamos um estrangeiro que era o Mészáros, guarda-redes, o resto era tudo portugueses. Um ou outro brasileiro mas era malta mesmo da casa. Recebiam muito bem os mais novos, aliás, havia um respeito enorme. Tratávamos os jogadores mais velhos por “senhor”, o Sr. Vaz, o Sr. Bastos, um bocadinho mais tarde o Sr. Damas e depois o Sr. Jordão e o Sr. Manuel Fernandes. Era um ambiente totalmente diferente do que é hoje.

    BnR: Como é que era ser treinado pelo Malcolm Allison?

    CX: Foi um treinador que me marcou, eu com 20 anos e ele lançou-me na equipa. Na altura para se lançar um jovem era raro, bastante raro. Muitas vezes eram emprestados e depois voltavam e ele teve a coragem de me lançar e numa posição que era estranha para alguns jovens, líbero. Antigamente usava-se muito o líbero e geralmente eram jogadores mais credenciados e com mais traquejo. Ele sabia que eu tinha algumas qualidades e então lançou-me, juntamente com o Eurico, a central.

    BnR: Conseguiu a dobradinha em 81/82, que memórias tem dessas conquistas?

    CX: É a única memória que eu tenho de ser campeão. Foi um ano em que correu tudo muito bem, ganhamos o Campeonato, a Taça e depois ganhamos a Supertaça. Tínhamos uma equipa muito combativa.

    BnR: Quem era o plantel dessa época, lembra-se?

    CX: Lembro-me perfeitamente. A equipa normalmente era Mészáros na baliza, o Ademar ou o Barão a defesa direito, eu e o Eurico no meio e o Inácio a defesa esquerdo. Depois no meio-campo era o Virgílio, Nogueira, o Ademar, depois à frente era o Jordão, Manuel Fernandes e Oliveira, que resolviam. Eram oito combatentes e três estrelas que resolviam jogos.

    BnR: Depois o Sporting ganha a Supertaça ao Braga, quando ainda se jogava a duas mãos, como foram esses jogos?

    CX: Creio que perdemos o primeiro jogo em Braga e depois demos a volta em Alvalade. Chegamos a esta Supertaça porque ganhamos a Taça de Portugal no ano anterior também frente ao Braga, por 4-0. Eu não joguei a final porque vinha do Torneio de Toulon, eu e o Mário Jorge, e não jogámos essa final da Taça.

    BnR: O Carlos só joga na 2ª mão, em Alvalade, quando o Sporting cilindra por 6-1. Qual era o estado de espírito antes do jogo?

    CX: Eu lembro-me que contra o Braga, e não foi só nesse jogo, houve um jogo também que ganhámos 8-1, a ganhar 2-1 ao intervalo e depois marcámos seis na segunda parte. O Braga era uma equipa que nos calhava bem na altura, uma equipa difícil e com bons jogadores mas que nós se marcássemos primeiro… Não me lembro de muita coisa dessa altura mas lembro-me que essencialmente era nas segundas partes que nós sobressaíamos. Porque a nossa condição física… o nosso preparador físico era o Radisić, que foi campeão europeu de atletismo, e dava-nos umas tareias. Por isso é que fisicamente éramos muito fortes, corríamos, corríamos, chegávamos à segunda parte e parecia que estávamos a voar.

    Carlos Xavier começou e terminou a carreira pelo Sporting
    Fonte: Carlos Xavier

    BnR: Na sua primeira passagem pelo Sporting, está um ano emprestado à Académica. Como surge este empréstimo?

    CX: Esse empréstimo surgiu porque na altura estava o Manuel José no Sporting e eu confrontei-o uma vez ou outra porque não jogava muito. Ele não encaixou e decidiu ceder-me. Fui para a Académica porque estava lá o meu irmão em Coimbra.

    BnR: Nesta época acabou por jogar com o seu irmão Pedro, entendiam-se bem em campo?

    CX: Bem, muito bem. Ele jogava a ponta-de-lança só que nesse ano teve uma lesão, foi operado e teve muito tempo parado mas ainda acabámos por jogar juntos. Desde o berço que andávamos sempre juntos e entendíamo-nos por assobio [Carlos faz uma pausa para imitar o assobio], já sabíamos que era para pôr lá a bola. Ainda hoje quando jogamos com os amigos o assobio está sempre presente.

    BnR: E fora do campo?

    CX: Sim, sempre. Ainda hoje estamos juntos praticamente todos os dias, vemo-nos sempre.

    BnR: Em 87, nova conquista da Supertaça, desta vez frente ao rival Benfica. Foi a Supertaça que soube melhor ganhar?

    CX: Foi, porque lá ganhámos 3-0, também era a duas mãos. Em Alvalade também ganhámos, 1-0.

    BnR: Como foi o jogo na Luz?

    CX: Foi um jogo fabuloso que fizemos. Aliás, no ano anterior foi o ano em que, salvo erro, fomos tirar o campeonato ao Benfica, fomos ganhar à Luz 2-1. O Benfica se ganhasse era campeão mas acabou por ser o Porto. Nós fazíamos sempre bons jogos na Luz, recordo-me perfeitamente que o jogo era mais fácil lá do que em Alvalade. Mas relativamente a esta Supertaça, correu-nos bem em casa, 3-0, e o Benfica depois teve que ir à procura do resultado mas nós conseguimos gerir melhor a vantagem.

    BnR: Na pesquisa para esta entrevista, li que o John Toshack disse um dia que o Carlos conseguia abrir uma garrafa de Sumol com os pés. Que episódio foi este?

    CX: Precisamente, foi o segundo treinador que me marcou e que teve comigo no Sporting, e foi ele que me levou para a Real Sociedad porque já conhecia as minhas características. Se bem que, quando ele cá esteve, eu jogava na posição de defesa direito mas sempre ao ataque, só atacava. Nós jogávamos com três centrais, nem defendíamos, e ele via que eu tinha atributos técnicos e gostava muito de mim porque tinha alguma facilidade de pôr a bola onde queria, passava bem a bola e ele então disse isso. Houve alguém que disse também, já não me lembro quem foi… Já sei, foi o agente Carlos Janela, que disse que se a bola tivesse um formato tipo de melão, dava-a ao Carlos Xavier para ela ficar direitinha (risos).

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