«Nunca mais me esqueço da forma como o João Pinto me recebeu» – Entrevista BnR com João Tomás

    – Início da carreira –

    BnR: Lembras-te da tua estreia como sénior?

    JT: Não… É no Arviscal, mas é curioso, não me lembro.

    BnR: E do primeiro golo?

    JT: Também não (risos).

    BnR: Para quem marca tantos golos é normal não te lembrares de todos…

    JT: Mas lembro-me de um episódio curioso, dos primeiros treinos no Arviscal. Eles tinham umas condições, em termos de estruturas fixas, muito acima da média. Mas muito mesmo, equipar no balneário do Arviscal era uma coisa de sonho para nós naquela altura, o resto era uma desgraça. Eu sempre me dei muito bem com quase todos os roupeiros onde joguei, com o do Arviscal, o do Águas Boas, ainda no outro dia estive com ele e fartei-me de rir, o Luís. Eu tinha dificuldades, nós éramos três filhos, os meus pais eram professores e não havia botas novas sempre. Lembro-me perfeitamente de ter comprado as minhas botas com o dinheiro que ganhava, na altura custavam para aí oito contos. Com o ordenado de um mês não dava para comprar umas botas. Fui à rouparia, vi lá umas botas e eram perfeitas, mas a bota esquerda estava rota à frente. Disse ao roupeiro “Posso ficar com elas?” e ele “Podes, estão aí perdidas”. E eu lembro-me que até estavam um bocadinho grandes, mas eram tão boas, nunca tinha jogado com umas tão boas e usei-as até rebentarem.

    BnR: E mais?

    JT: Outro episódio que recordo, já no meu segundo ano de sénior. Eu passei a ganhar sete contos e quinhentos e tinha um prémio, não me recordo do valor certo, mas, para teres uma ideia, deu para comprar um carro. Comprei um Renault 5 por 30 contos, 150 euros. E na altura estava muito na moda… Tu tens que idade?

    BnR: 27 anos.

    JT: Então não te lembras disso. Na altura, foi quando apareceram os primeiros kispos da Duffy, aqueles de penas, muito grossos. Ainda o tenho e, como não tinha dinheiro, combinei com umas pessoas amigas de uma loja lá em Oliveira do Bairro pagar aquilo em três prestações de seis contos.

    BnR: Lembras-te do que fizeste com o primeiro ordenado?

    JT: Não. O primeiro ordenado ganhava cinco contos por mês, no Arviscal.

    BnR: Para que é que dava cinco contos na altura?

    JT: Na altura, que foi quando eu tirei a carta, eu atestava o tanque do meu carro com quatro contos. Cuidado. O litro de gasóleo custava 70 escudos.

    BnR: Como foi a transferência para Académica?

    JT: Surge porque passei pelo Anadia, fui para lá porque o meu pai conhecia o treinador e eu fui lá treinar. Eu tinha um tio que era da Malaposta, ali ao pé de Mogofores, e que era dirigente da Académica. O caminho ficou mais próximo mas é evidente que eu estava a fazer um brilharete no Anadia, tinha 20 anos, foi uma consequência natural do meu trabalho. Fomos eliminados da Taça nesse ano pelo Boavista do Manuel José, levámos sete…

    A Académica subiu à Primeira Divisão em 1996/97. João Tomás é o segundo à esquerda, na 1ª fila
    Fonte: Museu do Futebol

    BnR: 7-2 não foi? Tu marcaste um golo não foi?

    JT: Sim, marquei um e começámos a ganhar. Depois levámos sete, mas começámos a ganhar (risos). Mas dizia, o meu tio permitiu abrir o “canal”, mas apenas para eu ir fazer os treinos de captação à Académica no final da época. O míster Vítor Oliveira marcou uma série de treinos e eu lembro-me de ter ido lá a Coimbra ao Estádio Universitário treinar à experiência. Depois a ideia era assinar, fazer a pré-época e depois voltar emprestado ao Anadia. Mas no fim da pré-época o Vítor Oliveira disse “Não, não, este já não sai daqui”. E fiquei.

    BnR: Quem era a equipa da Académica?

    JT: Pedro Roma, Miguel Bruno, Febras, Rocha, Abazaj, Mickey.

    BnR: Com qual dos treinadores tiveste melhor relação?

    JT: Com o Vítor Oliveira tínhamos uma relação boa, como era normal. Toda a gente conhece a sua personalidade, por isso não é difícil perceber que todos nos dávamos bem com ele. Agora, relação mesmo importante foi com o José Romão, ele que veio substituir o Henrique Calisto e foi com ele que garantimos a permanência na primeira divisão. Depois com o Carlos Garcia também, ainda hoje o vejo aqui em Braga.

    BnR: Quem é que te pôs a alcunha de “Jardel de Coimbra”?

    JT: Talvez os meus colegas. Foi quando o Jardel aparece em Portugal, logo a seguir. Diziam que a minha fisionomia era parecida com a dele e ficou.

    BnR: Qual a melhor memória dos tempos da Briosa?

    JT: Fiquei muito ligado à subida de divisão. Bem, não diria muito, porque isso foi papel dos meus colegas, eu joguei muito pouco, mas fiquei ligado a esse feito porque nós fomos ganhar a Felgueiras 0-1 e fui eu que marquei o golo, aos 89’. Foi um chapéu do meio-campo ao Boskovic e nesse jogo nós estávamos a três pontos e ficámos a seis. Acho que foi assim, e nós ficámos com vantagem direta, na altura subiam três. O Felgueiras estava quase atrás de nós e atenção que era o Felgueiras de Jorge Jesus.

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