«Acho uma injustiça que o Paulinho e o Horta não sejam sequer convocados» – Entrevista BnR com Barroso

    – O dinheiro não é tudo –

    BnR: Após concluir a formação no Braga, como é que surge a ida para a equipa principal?

    JB: Hoje em dia, chega-se mais rápido à equipa principal. No meu tempo, saíamos dos juniores e passávamos na equipa satélite, portanto, só cheguei à equipa principal com 23 anos. Comecei no Maximinense da distrital de Braga, que era a equipa satélite do Sporting de Braga. Subimos essa equipa, ganhámos tudo. Entretanto, fui para o Arsenal de Braga e subimos à Segunda Divisão B. Depois fui para a equipa principal do Braga, com o técnico Carlos Garcia. Fiz alguns jogos e acabei por ser emprestado ao Rio Ave, onde fiz uma grande temporada. Agora, com 19 ou 20 anos os miúdos já fazem parte das equipas principais. Se eu tivesse começado nessa altura podia ter muitos mais jogos na Primeira Liga.

    BnR: O empréstimo ao Rio Ave mostra que as coisas ao início não correram muito bem?

    JB: Até dezembro eu estava a jogar a titular. Depois houve pressões da direção do Braga para jogar um jogador que tinha sido contratado e eu fui encostado. Estava chateado, porque sentia que ia sair da equipa. O treinador adjunto disse-me para ter calma, que ainda era novo, e eu respondi-lhe que, se fosse a pensar assim, aos 30 anos ainda era novo. Nunca perguntei aos treinadores porque é que jogava, também não ia perguntar porque é que não jogava, mas fiquei desiludido, pois não merecia sair da equipa na altura.

    BnR: Entretanto conseguiu singrar no Braga e acabou por ser internacional A. Conte-nos essa experiência.

    JB: Foi maravilhoso. Estava no Sporting de Braga, como já disse. Enquanto estive no Porto, fui à seleção várias vezes, mas nunca joguei nem jogos particulares, nem oficiais, porque é muito difícil. Há muitos interesses. As pessoas não falam muito, mas para quem não tiver um currículo pelas seleções jovens, torna-se difícil. Eu acho que quem está em forma devia ir à seleção. Eu não tinha sido internacional pelas camadas jovens e, portanto, é o que eu disse, mais mérito dá ao meu trabalho.

    BnR: É treinado por Manuel Cajuda que é conhecido pelos episódios caricatos. Tem alguma história caricata com ele?

    JB: Tenho. Trabalhei seis ou sete anos com ele. Foi o Manuel Cajuda que me tornou capitão do Sporting de Braga. Normalmente, quem tem anos de clube é que é nomeado capitão, mas eu fui nomeado por ele quando ainda tinha pouco tempo como sénior no Sporting de Braga. Ele achou que eu tinha perfil para isso. Conhecendo a minha maneira de ser ele achou que eu devia ser o capitão de equipa. Houve uma altura em que o presidente [Nuno Cunha] me chamou ao seu gabinete e eu percebi que ele queria que eu metesse o balneário contra o Manuel Cajuda e eu disse-lhe que isso eu nunca faria e que, a partir daquele momento, eu deixaria de ser o capitão de equipa. Ele disse-me: “Tu és maluco, tu és maluco! Se deixares de ser capitão de equipa toda a gente te vai perguntar porquê!”. “Então, ó presidente, não me peça uma coisa dessas. Eu não queria trair o treinador. Eu estou aqui para ajudar o clube, o treinador, os adeptos, não estou aqui para trair ninguém”. Sou uma pessoa de gente humilde. O dinheiro, hoje em dia, compra tudo, mas a mim não me compra. A mim ninguém me tira o caráter e a dignidade.

    Fonte: Facebook de José Barroso

    BnR: Como é que o Barroso era enquanto capitão?

    JB: Se houver um bom balneário, há bons resultados. Sempre gostei de acolher os novos jogadores. Ajudei muitos jogadores que chegaram longe no futebol profissional. Achei que tinha que os ajudar. Nunca gostei de fazer aos outros o que me fizeram a mim. Quando eu comecei a carreira, não era fácil. Não senti grande apoio de muitos ex-colegas.

    BnR: Achou que tinha que conquistar estatuto no balneário?

    JB: “O respeito não se impõe, conquista-se”. Fui conquistando o respeito das pessoas e dos meus colegas com atitudes, não com palavras. “Palavras leva-as o vento”.

    BnR: Irritava-o quando os seus colegas não jogavam com amor à camisola?

    JB: É difícil de falar. O amor à camisola também se conquista com os anos de clube, sendo um jogador competitivo. Muitos jogadores têm qualidade técnica, mas não são muito competitivos. Um grande jogador tem que ser competitivo. Antigamente, o futebol era mais agressivo, agora, joga-se mais à vontade, as equipas saem facilmente a jogar. São outros tempos, outros ordenados, outras condições.

     

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.