Agentes desportivos: vilões ou benfeitores?

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    Por entre as muitas discussões que têm assolado o tempo de antena futebolístico no nosso país, havendo sempre foco, obviamente, nas questões relacionadas com a arbitragem, houve uma que pode ter passado mais despercebida aos leitores e adeptos portugueses: a discussão entre Catio Baldé e José Fouto por causa de dividendos da transferência de Ruben Semedo para o Villarreal. Aproveitando o tema, Catio Baldé revelou que o presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, “retirou” comissões na transferência de Bruma.

    Por entre tantas questões e discussões, há que clarificar e tentar fazer uma análise sobre o papel destes agentes desportivos no Futebol português. Afinal, têm ou não uma ação benéfica para o nosso Futebol? Contribuem de alguma maneira ou apenas se usam do nosso Futebol para tirar lucro? É tendo por base algumas destas questões que vou tentar fazer uma introspeção dos agentes desportivos no Futebol nacional.

    Os agentes desportivos foram uma “consequência” dos próprios tempos que o Futebol viveu – apareceram no Futebol em Inglaterra, com o crescimento das competições europeias e da necessidade das diferentes equipas estabelecerem contactos para transferências. Os primeiros agentes desportivos eram ingleses e viram no Futebol uma nova maneira de negócio, uma nova maneira de fazer lucro. Mas foi com a introdução da Lei Bosman, em 1995, que os agentes desportivos tiveram, definitivamente, a sua explosão no Futebol, fazendo hoje em dia parte desta indústria que é o Futebol. Com os agentes vieram os direitos de imagem dos jogadores, contratos de patrocínio individual, etc…

    Qual terá sido, então, o impacto da entrada desta nova classe no Futebol português? Eu diria que não foi um impacto imediato, mas hoje podemos verificar que os agentes desportivos a curto prazo melhoraram o Futebol português; já a longo prazo,  pioraram-no. Confuso? Eu esclareço.

    Os agentes desportivos não tiveram um impacto imediato no Futebol português, pois os dois só tiveram, de facto, uma grande ligação, quando se deu o crescimento de Jorge Mendes, que se tornará um dos mais influentes agentes desportivos do mundo. Sendo Jorge Mendes português, o dirigente desportivo  sempre olhou para o agente desportivo português como uma mais-valia, alguém com quem se deveriam privilegiar a ter boas relações, e foi isso que aconteceu, em certa parte. Clubes como o FC Porto e o Benfica privilegiaram de uma boa relação com Jorge Mendes no inicio desta década e Jorge Mendes trouxe consigo os fundos de empresários, tais como a Doyen, que permitiram aos clubes portugueses contratar jogadores que anteriormente não estariam ao seu alcance ou precisariam de um grande esforço financeiro para o conseguir.

    Mas nem só nos grandes clubes portugueses se fez sentir a importância da influência de Jorge Mendes, o Rio Ave é um desses melhores exemplos. O clube vila-condense cresceu e, desde que começou a sua estreita ligação com o empresário português, deixou de ser um clube que lutava para não descer para passar a  ser um clube que luta pelas taças e pelas competições europeias. Isto tudo graças ao relacionamento com Jorge Mendes, que permitiu que melhores jogadores viessem para o Rio Ave, melhorando também a qualidade do Futebol português.  Diego Lopes, Bebe e Felipe Augusto foram alguns dos jogadores que Jorge Mendes acrescentou no plantel do Rio Ave ao comando do treinador também agenciado por si, Nuno Espírito Santo.

    Outro exemplo desportivo terá que ser o Sporting de Braga: o clube bracarense melhorou muito o seu poder negocial com as boas relações que mantém com Jorge Mendes. Danilo é um caso flagrante disso, capitão da seleção de sub-20 brasileira e com muitos interessados em si, acaba por chegar ao Sporting de Braga pelas mãos do agente desportivo português.

    Jorge Mendes liderou a entrada dos fundos de empresários no futebol português Fonte: Gestifute
    Jorge Mendes liderou a entrada dos fundos de empresários no Futebol Português
    Fonte: Gestifute

    Os clubes melhoraram significativamente os seus plantéis, muito graças aos bons relacionamentos com agentes desportivos, principalmente com Jorge Mendes. Benfica e Porto tiveram os seus melhores plantéis dos últimos anos e Portugal teve das melhores prestações europeias. Tudo isto coincidiu com a altura em que os fundos de empresários estavam mais presentes do que nunca no Futebol Português. Coincidência? Eu penso que não.

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    Rui Pedro Cipriano
    Rui Pedro Ciprianohttp://www.bolanarede.pt
    Nascido e criado no interior, na Covilhã, é estudante de Ciências da Comunicação, na Universidade da Beira Interior. É apaixonado pelo futebol, principalmente pelas ligas mais desconhecidas, onde ainda perdura a sua essência e paixão.                                                                                                                                                 O Rui escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.