Da Venezuela para Portugal – Entrevista a Homero Calderón

    BNR: A um nível puramente futebolístico, o que acha que o futebol português exige de um médio centro?

    HC: Penso que, em Portugal, a maioria dos médios da primeira divisão é fisicamente muito forte, mas poucas equipas têm tecnicamente bons jogadores. Existem quatro ou cinco equipas, se calhar, que têm médios centro que, tecnicamente, são muito bons, mas a maioria opta por jogadores que sejam fisicamente mais fortes. Acredito que o futebol português é muito tático e muito físico ao mesmo tempo. Eu, por exemplo, comparo-o muitas vezes com o futebol espanhol e a diferença é muito grande. Qualquer clube de Espanha pode bater o Porto ou o Benfica.

    Fonte: Arquivo pessoal de Homero Calderón

    BNR: Portugal é campeão europeu no futebol, a equipa é quarta no ranking da FIFA, as selecções mais jovens costumam destacar-se nos torneios europeus e mundiais. Qual acha que é a razão do fracasso dos clubes portugueses nas competições europeias?

    HC: A diferença é muito grande quando se compara as equipas portuguesas com as equipas de fora. Por exemplo, o Porto pode ter (Iker) Casillas, que é um jogador bem conhecido no mundo, mas jogadores desse nível somente consegue ter um ou dois. E quando se joga contra o Liverpool… Eles têm nove ou dez jogadores que estão no topo do mundo. Então pensa-se: qual é a diferença? A diferença é sobretudo o poder económico dos clubes portugueses, que não têm a possibilidade de pagar os salários que os grandes clubes Europeus têm.

    BNR: Que diferenças destaca entre o futebol sul-americano e o europeu?

    HC: Eu acho que existem muitas. Os relvados, as estruturas, a primazia da tática. Na Europa o jogo é mais tático do que físico. O futebol sul-americano é mais físico. A palavra de ordem é ter garra. E essas são diferenças muito simples mas que influenciam muito o jogo.

    BNR: A organização do campeonato neste ano obrigará alguns clubes a não competirem por períodos de tempo muito longos, até ao início da próxima temporada. Como  é que o facto de ficar parado três ou quatro meses afecta o jogador?

    HC: Eu acredito que cada jogador chega a um ponto em que é responsável. Pode ter dois ou três meses sem treino, mas tem a possibilidade e o dever de treinar sempre por conta própria.

    BNR: Mas sem competir?

    HC: Bom, eu acho que é muito tempo para se ficar sem atividade, mas, bem, se é assim que o campeonato está montado, não se pode fazer nada.

    BNR: O Homero ocupa áreas centrais no terreno de jogo. Em que outras posições atua bem?

    HC: Na Venezuela sempre joguei no meio. Eu joguei a 8 ou a 5, e no ano passado em Vizela joguei vários jogos como extremo. O treinador disse-me que eu era um extremo. Desde criança que era um jogador que marcava muitos golos e jogava como segundo avançado. Eu tenho mais características de ataque do que defesa, mas posso jogar em qualquer posição a partir do meio.

    Fonte: Arquivo pessoal de Homero Calderón

    BNR: Estamos habituados a idealizar a figura do jogador de futebol e acreditamos que os futebolistas levam uma vida de luxo. Como é realmente o dia-a-dia de um jogador de futebol da 3.ª divisão portuguesa?

    HC: A vida do jogador de futebol é, acima de tudo, uma ilusão. Acham que o jogador de futebol está sempre habituado a ganhar bom dinheiro, ter bons carros, bons relógios, bons telefones, mas tudo isso é mentira. Pessoalmente, a situação que se vive na Venezuela é muito difícil. A vida que levo aqui é uma vida normal, sem complicações.

    BNR: É inevitável tocar no assunto da Venezuela. Como encara a sua família a realidade que existe no seu país?

    HC: A situação na Venezuela é crítica. Eu posso dizer muitas coisas, mas não estou lá. Pelo que a minha família me conta, a realidade é muito má. Graças a Deus, a minha família está a deixar a Venezuela e a ir para os Estados Unidos da América. Mas a família da minha esposa permanece lá. A situação é realmente muito crítica. Muitas vezes não consigo encontrar palavras para explicar o que está a acontecer na Venezuela.

    BNR: Eu li numa entrevista sua que tem uma admiração especial por Cristiano Ronaldo. Também é do Real Madrid?

    HC: Desde pequeno que gosto do Real Madrid. Mas eu admiro o Cristiano, não por ele marcar 40 golos por ano mas por causa da maneira como ele trabalha. Eu revejo-me muito nele porque as coisas que ele conseguiu foram graças ao seu trabalho, à sua dedicação e ao seu desejo de atingir mais, e é por isso que o vejo como uma referência.

    Foto de Capa: Arquivo pessoal de Homero Calderon

    Artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Esteban David Navarrete
    Esteban David Navarretehttp://www.bolanarede.pt
    O Esteban é um apaixonado pelo futebol do Real Madrid e Arsenal. Distrai-se a escrever sobre o desporto rei e segue de perto o dia-a-dia da União de Leiria, o clube da sua cidade.                                                                                                                                                 O Esteban escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.