– Pés no chão –
“João Alves disse a Rui Vitória para não me ir buscar”
BnR: No teu primeiro ano de sénior és emprestado ao Fátima. Foi Jorge Jesus quem te dispensou?
DS: Foi o Benfica. Não me perguntaram, disseram-me que ia ser emprestado e eu também não achei que fosse má ideia. Lá está, eu acabei a fase final de juniores sem jogar, as expectativas não eram muitas. Não tendo aparecido nenhuma equipa de Primeira Liga – e hoje digo felizmente, porque se calhar tinha ido e não tinha jogado – acho que foi um passo certo e seguro na minha carreira, onde acabei por me cruzar com o mister Rui Vitória.
BnR: Foste, aliás, para o clube e para a cidade do Santuário pela mão dele. Como tens visto a sua carreira?
DS: É uma carreira muito boa. Não vou dizer que já perspetivava, porque no futebol o que hoje é verdade, amanhã é mentira. Rui Vitória já era conhecido por ter eliminado o FC Porto, mas nessa época jogávamos um futebol muito atrativo, apoiado, vistoso e que promovia os jogadores. O passo seguinte, o de ir para a primeira divisão, foi um passo natural, mas não vou dizer que já sabia que iria para o Benfica, ser campeão nacional e tudo mais. Via nele condições técnicas e, sobretudo, humanas – ele e a equipa técnica eram de um trato incrível. Quer no Fátima, quer no Paços de Ferreira, conseguiu criar um ambiente muito familiar.
[Pausa para ligar à mulher, com quem não está desde fevereiro por força da pandemia. Não atendeu e retomamos]
BnR: Quem e porque é que lhe disseram para não te ir buscar porque eras um “grande maluco”?
DS: O que me foi dito foi que que tinha sido o meu treinador de juniores, o mister João Alves, porque, segundo ele, eu era um rapaz que ia causar problemas; que eu era maluco e que havia lá um melhor para levarem, o Leandro Pimenta. O Rui Vitória teve uma expressão muito curiosa “Ainda bem que me disseste isso, João. Porque eu estava mesmo à procura era de um maluco”. Assim se estragam carreiras e assim surgem oportunidades. Se calhar não tinha arranjado um clube de segunda divisão e, hoje em dia, já nem jogava. Por um comentário infeliz. A verdade é que tive dois anos com o mister Rui Vitória e nunca tive problema algum com ele.
BnR: Antes de acompanhares Rui Vitória para Paços de Ferreira, tinhas esperança de integrar o plantel do Benfica na nova época?
DS: Não. Sabia à partida que não ia acontecer, nem eu estava pronto. Quando surgiu a hipótese de ir para o Paços, fez-me todo o sentido: pensei “Ok. Fiz a formação no Benfica, passei para a Segunda Liga e agora Primeira; eventualmente, depois, um regresso”, que acaba por acontecer. Paços de Ferreira foi um passo natural e sustentado.
BnR: Nessa equipa jogava um extremo franzino com nome de craque argentino. Surpreendeu-te o protagonismo que Pizzi atingiu no Benfica?
DS: Via-se que era bom jogador, mas à imagem do Rui Vitória não lhe adivinhava tal futuro. Até porque, durante o ano não, se falou muito do Pizzi: jogava bem, fez alguns golos, mas, se se falasse, era para o Guimarães ou assim.
BnR: Falava-se mais do Nélson Oliveira.
DS: Muito mais, como é óbvio. E o Nélson acaba por nem ter um grande ano em Paços, porque quem jogava mais vezes na posição de avançado era o Mário Rondon.
BnR: [Volta-se ao Pizzi]
DS: Durante o ano não se fala muito nele – muito bom jogador, com muita qualidade, claro -, mas quando olho para o nome Benfica, acho que é sempre preciso algo mais, algo muito diferente dos outros. A verdade é que o último jogo é o coroar de uma época boa do Pizzi, que ali passa a ser muito boa: o 3-3 no Dragão, com três golos dele. Se até então o Jorge Mendes nunca o tinha contactado, no fim do jogo tinha várias chamadas dele; já era da agência, mas até lá nunca haviam tido contacto.