«Era um sonho chegar à Primeira Divisão com o FC Alverca» – Entrevista BnR com Rafa Castanheira

    Palavras do capitão depois da vitória
    Fonte: FC Alverca

    BnR: Já nos disseste que o objetivo da equipa é a subida à Segunda Liga, mas depois da surpresa frente ao Sporting CP, não fica no ar o sonho da Taça?

    RC: Sim, isso está sempre presente. Temos sempre a esperança de passar mais uma eliminatória e todos os jogadores que estão no FC Alverca acreditam que podem passar, seja contra quem for. No entanto, temos sempre em mente que será sempre muito difícil e, nesta altura, já perdemos o fator surpresa. Eliminámos um grande, a partir de agora as equipas vão olhar para nós com outros olhos, vão ter uma melhor noção do que somos capazes de fazer. Mas claro que acreditamos que é possível.

    BnR: Sentes que têm equipa para alcançar o objetivo da subida?

    RC: Claramente. Temos todas as condições, desde a equipa à estrutura. Agora temos de trabalhar muito, não basta querer. Temos de mostrar porque é que o queremos.

    BnR: O Campeonato de Portugal (CP) é conhecido por ser bastante equilibrado. Achas que a luta será até ao fim?

    RC: Sem dúvida. É um campeonato extremamente competitivo, mas ingrato também. As duas primeiras equipas de cada série passam, mas têm ainda que “enfrentar” os playoffs.  cada jogo torna-se uma final. Acaba por ser outro campeonato à parte. O que foi feito para trás perde toda a significância. Sabemos, à priori, da dificuldade do campeonato, se não fosse tão competitivo não seria desafiante para nós.

    BnR: Muitas pessoas consideram que é nas divisões inferiores que se vive o “verdadeiro” futebol. Concordas?

    RC: No nosso campeonato, o bairrismo e o amor ao clube da terra é algo muito presente nos adeptos. Isto nota-se muito no norte do país. Equipas como o SC Espinho ou o Lusitânia FC Lourosa têm os estádios permanentemente cheios. E, mesmo em jogos fora, tem uma forte falange de apoio. Isso é muito bom. Eu gostava que Alverca viesse toda assistir aos jogos e que estádio estivesse sempre assim. É um ambiente totalmente diferente. O verdadeiro futebol joga-se em todo o lado, desde que a paixão esteja presente. Quando o dinheiro está demasiado envolvido, a situação já é diferente.

    BnR: Como é que vês o recente crescimento do campeonato? Em termos de transmissões televisivas ou a revelação de variadíssimos jogadores de qualidade, por exemplo.

    RC: Nota-se uma grande diferença do ano transato para este. O Canal 11 tem contribuído imenso para esse crescimento. Falar do campeonato como se tem feito cada vez mais, irá impulsionar o seu crescimento. A diferença está na cobertura mediática que pode promover muito mais este campeonato. A revelação de vários jogadores que por aqui passaram, alertou os clubes de divisões superiores para a qualidade do campeonato e dos seus jogadores, que começam a pensar no porquê de ir buscar jogadores ao estrangeiro se as divisões inferiores têm tanta qualidade.

    BnR: Achas, então, que os clubes de divisões superiores deveriam olhar com mais atenção para o CP e para os seus protagonistas?

    RC: Acho que isso vai acontecendo com o tempo. Cada vez mais vemos jogos competitivos ou mesmo surpresas nos jogos entre equipas do CP e divisões superiores. Temos o nosso caso com o Sporting CP, o Club Sintra Football eliminou o Vitória SC. Isto tudo faz com que os clubes “grandes” respeitem mais o nosso campeonato.

    BnR: Falando agora sobre outro interveniente no futebol, muitas das vezes mal visto: os investidores. Consideras que a ação que desempenham é benéfica ou prejudicial para o crescimento do futebol português? Achas que os casos de sucesso de clubes com investidores, que se vêm no CP e mesmo na Segunda Liga, podem contribuir para uma mudança na mentalidade “anti-investidores” que se sente em Portugal, contrariamente ao que se vive, por exemplo, em Inglaterra?

    RC: Acho que tem dois lados. Tudo que envolve dinheiro tem dois lados. No FC Alverca, temos um exemplo claro. A antiga SAD deixou o clube repleto de dívidas. Eu acho que o que tem que existir é sobretudo seriedade. Se as pessoas forem sérias a mentalidade irá certamente mudar. Em Inglaterra raramente ouvimos notícias duma SAD que deixa o clube em dificuldades financeiras ou deixa o clube em divisões inferiores. Acho que devia haver maiores punições em Portugal para penalizar os investidores que abandonam os clubes em situações precárias.

    BnR: Para ti, qual é o fator mais importante para um clube ser bem-sucedido no CP? Temos vários exemplos de clubes que investem muito todas as épocas, mas falham sempre a promoção.

    RC: Lá está, a estrutura é um fator fundamental no desempenho de um coletivo. Não basta ter bons jogadores, não basta pagar “mundos e fundos”. Há equipas que o fazem e nunca sobem. A estrutura tem que ter sobretudo mão no clube, tem que estar presente e proporcionar condições que permitam aos jogadores sentirem-se bem. A união do grupo é outro fator decisivo para o sucesso duma equipa.  Por exemplo, o UD Leiria ou o FC Vizela, que tem sido eliminado nos playoffs, fazem sempre grandes investimentos, mas têm falhado o objetivo. Conseguem fazer o mais difícil: estar o ano inteiro nos primeiros lugares das suas séries, mas nos playoffs tudo pode acontecer. É isso que diferencia o nosso campeonato. Jogas praticamente dois campeonatos.

    BnR: Achas que o modelo em que o campeonato está concebido é injusto para os clubes?

    RC: Pessoalmente, acho que é um pouco ingrato para quem luta por subir.  O modelo das ligas superiores é completamente distinto. Há quem diga que o CP é o campeonato mais difícil.

    BnR: Para terminar, que ambições tens para o futuro?

    RC: Acho que todos sonhamos em atingir outros patamares. É claro que tinha um enorme gosto em chegar à primeira divisão com o FC Alverca, isso sim era um sonho, mas depois é ver no que dá. Sempre com muito trabalho, tentar chegar a patamares de topo. Eu gostava muito de ser jogador profissional e de jogar, ao mais alto nível, numa Premier League.

     

    Foto de capa: Guilherme Martins / Bola na Rede

    Entrevista feita por Beatriz Marques e Gonçalo Batista

    Artigo revisto por Joana Mendes

     

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