«Houve contactos tanto do SL Benfica como do FC Porto» – Entrevista BnR com Filipe Teixeira

    –  Da Ucrânia ao Dubai, até à consagração no futebol romeno –  

    “Sempre que havia os sorteios da Liga Europa, torcia para que nos calhasse uma equipa portuguesa”

    BnR: Terminas assim a aventura em “terras de sua majestade” e surge a Ucrânia. Assinas pelo Metalurh Donetsk. Um novo campeonato e uma nova realidade. Como foi a experiência?

    FT: A maldita Ucrânia. Foi a pior experiência que tive em toda a minha carreira, em todos os aspetos. Um idioma complicado, pessoas um bocado frias, rotinas diferentes, tudo diferente daquilo que estava habituado. A minha família nunca quis ir para lá e depois a nível desportivo não correu bem e quando assim é, dificilmente te vais dar bem num clube. Fiz muito poucos jogos, ainda hoje não percebo muito bem o que aconteceu. Durante duas semanas recusei as suas propostas, eles continuaram a insistir e a insistir para que eu assinasse e, no entanto, depois de aceitar, senti-me desvalorizado o que não fazia sentido devido a toda a insistência na minha contratação. Não sei bem o porquê, quer dizer se calhar até sei, mas pronto….

    BnR: O que aconteceu?

    FT: Chegou-me aos ouvidos, mas nunca tive a certeza absoluta se era verdade, que o treinador recebia dinheiro dos jogadores para jogarem.  Se foi por isso que joguei pouco ou não, não sei, mas na altura foi um jogador ucraniano que me contou. Foi uma experiência para esquecer.

    BnR: Surge o seu primeiro contacto com a Roménia, um dos campeonatos onde tiveste mais sucesso. És emprestado ao Brasov e juntas mais uma nova liga no currículo.

    FT: Na altura o que tinha mais em mente era um regresso a casa depois daquela má experiência. Ia assinar pela Académica, mas por umas horas eles não conseguiram inscrever-me a tempo. Infelizmente não aconteceu. Entretanto, naquela época o António Conceição treinava o Brasov, viu a notícia e como lá o mercado fecha uns dias mais tarde ele ligou-me. Aceitei e foi uma adaptação muito fácil. Achei um país muito parecido ao nosso, com pessoas muito simpáticas, parecido connosco em todas as coisas boas. Joguei por isso correu bem. (risos)

    BnR: Consegues despertar interesse na Liga Romena e surge o interesse de um grande: o Rapid Bucareste. Uma equipa que lutava para ser campeã e assim,  disputar a Liga Europa.

    FT: Um dos maiores clubes da liga, tendo talvez os melhores adeptos da Roménia. Tínhamos condições de trabalho muito boas, um bom coletivo e disputávamos a Liga Europa, que é uma das grandes montras no mundo do futebol e era mais uma conquista pessoal para a minha carreira.

    BnR: Contudo, passados dois anos no Rapid, surge uma mudança repentina para o Dubai, em que assinas pelo Al-Shaab. O que é que origina esta mudança para os Emirados Árabes Unidos?

    FT: Na altura houve uma possibilidade de ir para o Steaua de Bucareste (atual FCSB). Os dois clubes chegaram a acordo, a notícia saiu na imprensa, só que eu não sabia de nada e quando fomos discutir os termos de contrato acabou por correr mal e preferi ficar onde estava. Porém o Rapid entrou em insolvência financeira, já não nos podia pagar e foi isso que originou a minha ida para o Dubai. Tinham um treinador romeno e foi a solução encontrada.

    BnR: Um país com temperaturas muito elevadas e com uma realidade desportiva completamente diferente da Europa. Foi difícil a adaptação?

    FT: Foi muito difícil. A minha família veio comigo, como é óbvio, era o Dubai (risos). Mas a nível desportivo e profissional custou muito. É um clube que só tem direito a contratar três estrangeiros, a maior parte do plantel é constituído por jogadores locais e todos eles ou são policias ou militares. Devido a este facto e de ser um país muito quente os nossos treinos eram só à noite, porque quase todo o plantel trabalhava durante a manhã, à tarde iam dormir e depois vinham treinar. Foi esta a grande complicação a que tive de me adaptar, tive que alterar todas as minhas rotinas de trabalho, descanso …

    FT: E a nível financeiro, foi o melhor contrato que tiveste?

    FT: Não, não foi. Eu percebo que as pessoas associem esta minha saída para um país árabe ao fator financeiro, mas no meu caso não foi verdade. O clube pelo qual assinei estava a subir pela primeira vez à primeira divisão, pagava dentro das possibilidades que tinha, mas não rondava os valores exorbitantes que os outros clubes da primeira divisão ofereciam.

    BnR: A tua carreira foi feita de regressos e depois do Dubai acontece mais um e voltas à Roménia, desta vez para jogar no Petrolul. A nível estatístico (jogos, golos, assistências) foi onde tiveste das melhores épocas se não a melhor da tua carreira.

    FT: É verdade, mais um grande da Roménia, mais uma vez a lutar pelo título e a disputar a Liga Europa. Um clube muito bom a todos os níveis, com uma cidade inteira a apoiá-los, assim como acontece com o Vitória de Guimarães aqui em Portugal. Tínhamos estádio novo, condições excelentes, adeptos incríveis que enchiam sempre o estádio, treinador e equipa técnica muito boa, coletivo espetacular e foi talvez devido a estes fatores que realizei as melhores épocas da minha carreira.

    BnR: Outra mudança na Roménia, desta vez para o Astra Giurgiu, onde finalmente foste campeão e ganhas a Supertaça Romena. Que melhorias encontrou e quais os fatores chave para finalmente conseguires conquistar estes títulos?

    FT: E foi aquele em que tive menos condições para ser campeão (risos). Digo isto, mas não a nível de equipa, é mesmo em relação às condições de trabalho. Eram muito inferiores às dos outros clubes que representei na Roménia. É um clube com pouca história e poucos adeptos. Festejamos o título e a Supertaça com pouco menos de 400/500 adeptos. Mas foi um clube incrível, eliminamos dois anos seguidos o West Ham nos playoff’s da Liga Europa.

    Fonte: Facebook de Filipe Teixeira

    BnR: No segundo ano até és tu que marcas o golo em Inglaterra que os elimina.

    FT: Sim, é verdade, sou sim senhor. Apesar de todas as dificuldades que tivemos ao longo das duas épocas que estive no Astra, fomos sempre, plantel e equipa técnica, muito motivados e unidos. Estivemos sem receber durante quatro meses, mas o presidente sempre garantiu que mal entrasse o dinheiro no clube que nos ia pagar e foi o que aconteceu. Nada disso abalou a confiança do grupo e conseguimos conquistar o que ninguém esperava. Foi um espírito de equipa incrível. Só não fomos campeões no ano a seguir porque o presidente não quis, não melhorou as condições de treino e preferiu manter aquilo que tinha.

    BnR: Entretanto o FCSB (antigo Steaua de Bucareste), volta a sondá-lo e faz mais duas épocas até aos 38 anos ao mais alto nível, a lutar pelo título e a marcar presença nas competições europeias.

    FT: O caso deles da mudança de nome e símbolo é idêntico ao do Belenenses aqui em Portugal. O Steaua teve que começar de novo na quarta divisão e o FCSB ficou na primeira liga, mas perdeu os direitos ao nome e emblema. O pior foi que os adeptos decidiram apoiar os da quarta divisão e nós ficamos com muito poucos apoiantes. Em relação à minha mudança, sempre foi um desejo antigo do presidente a minha contratação. Em todos os anos que estive na Roménia demonstrou sempre interesse, desta vez concretizou-se. É um grande clube, fisicamente o meu corpo continuava a responder da melhor maneira e foi uma grande experiência com um nível competitivo muito bom.

    BnR: Chegas até a regressar a Portugal para defrontar o Sporting CP na Liga Europa.

    FT: Sim, sempre que havia os sorteios da Liga Europa, torcia para que nos calhasse uma equipa portuguesa (risos). Em primeiro lugar porque tinha uma desculpa para regressar a Portugal e ver a minha família e em segundo para ser visto no meu país para quem sabe depois poder regressar e terminar carreira cá.

    Fonte: Facebook de Filipe Teixeira
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