«Houve contactos tanto do SL Benfica como do FC Porto» – Entrevista BnR com Filipe Teixeira

    -Fim de carreira, balneários de luxo, referências e conselhos para as gerações mais jovens- 

    “Não apoio nenhum dos “grandes”, pelas más experiências que tive com eles. Permitiu-me ver qual era a realidade do futebol e que mexe com muitos interesses”

    BnR: Terminas a carreira com 38 anos no FCSB. Era isto que tinhas planeado ou preferias ter terminado em Portugal?

    FT: Não, eu sinceramente não tinha nada pensado nem planeado. As épocas corriam-me bem e eu não pensava muito no assunto. Mas se calhar há dois clubes que eu poderia ter vindo para Portugal e dizer que eram aqueles onde queria terminar a carreira: a Académica e o Felgueiras. O primeiro foi porque foi um clube especial, onde fui acompanhado por excelentes profissionais, onde fiz boas épocas e vivi lá dois bons anos com a minha família, foi a cidade onde nasceu o meu primeiro filho. O segundo porque foi o clube que me formou, o clube da minha terra e terminar onde tudo começou seria muito especial.

    BnR: Nunca houve contactos nesse sentido?

    FT: Houve alguns, mas da parte da Académica não senti aquela vontade e empenho na contratação por parte dos dirigentes e do treinador, então decidi não ir. Do Felgueiras houve convites, mas nada de especial. Tive também ofertas de contrato de dois anos de clubes da Roménia, com opção de ocupar funções nos clubes depois de terminar carreira, mas não aceitei, nunca tive interesse de ficar lá a viver. Em conversa com a família e por causa da escola dos meus filhos, optei por terminar na Roménia. Por mim, sentia-me bem e tinha continuado a jogar futebol.

    BnR: Sempre foste um jogador que, com o passar dos anos ficou cada vez melhor. Quando se pensava que estavas a entrar em idade de pendurar as botas, surpreendias toda a gente com mais uma grande época. O seu último golo pelo FCSB mostra bem isso. Um jogador de 38 anos marcar um golo assim de pontapé de bicicleta tem de estar muito seguro da sua forma física?

    FT: Foi o meu último golo no meu último jogo. Estava confortável com a minha forma física e sempre tive esse cuidado com o meu corpo desde muito novo. Nunca fui um jogador que saía muito à noite, que bebia, sempre tive essa preocupação e não cedia a vícios. O golo acaba por demonstrar que estava bem e que apesar da idade continuava em grande forma. Sempre gostei de me sentir útil.

    BnR: Ao longo da tua carreira partilhaste o balneário com grandes nomes do futebol atual e mundial, como Ronaldinho, Heinze, Pochettino, Yepes, Pauleta (PSG); Borja Valero e Scott Carson (West Brom), Trippier (Barnsley); Mkhitaryan (Metalurh) e Adrian Mutu (Petrolul), são apenas alguns exemplos. Sempre lhes reconheceste esta qualidade?

    FT: Sim sem dúvida. O Trippier não me lembro bem, sinceramente já nem sabia que fazia parte do plantel, estava no início da carreira não deve ter jogado muito (risos). O Mkhitaryan lembro-me muito bem. O tempo que estive na Ucrânia passávamo-lo praticamente sempre juntos, íamos muitas vezes durante a tarde, quando não tínhamos nada para fazer, treinar livres para o centro de treinos. Entendíamo-nos bem, ele sabia falar português do tempo em que esteve no Brasil e já se notava a sua qualidade, aliás, ele a seguir assina por um grande da Ucrânia, o Shakhtar Donetsk. O Borja Valero tinha muita qualidade naqueles pés, o Scott Carson era um grande guarda redes, muito seguro. O Mutu, já estava em final de carreira, mas continuava um craque, muito inteligente …

    BnR: Houve algum que te impressionou mais?

    FT: Sem dúvida o Ronaldinho. Ainda hoje brinco com o meu filho e digo-lhe que ele foi o melhor do mundo. Tinha uma alegria enorme a jogar e acho que é o que falta ao futebol atualmente. Era uma qualidade incrível, nunca vi um jogador com tanta técnica, passe e finalização. Era muito bom!

    BnR: Ao longo da tua carreira, quais foram as tuas referências?

    FT: O Rui Costa, que era praticamente da minha posição e o Figo pela qualidade e forma que geriu a sua carreira e naquilo que se tornou nos dias de hoje. O Figo é um senhor.

    BnR: Atualmente há algum jogador que te impressione?

    FT: Os dois que “dominam o futebol atual”: o Cristiano Ronaldo e o Messi. O Ronaldo pelo trabalho e tudo aquilo que conquistou e o Messi, pronto é de outro planeta, não há muito a dizer (risos).

    BnR: Em toda a tua carreira quem foi o teu “melhor amigo” no futebol?

    FT: O Geraldo Alves. Foi dos poucos jogadores que consegui jogar durante quatro anos seguidos (Petrolul e Astra). Fazíamos viagens juntos, íamos para o treino juntos, nos estágios acho que acabei por dormir mais com ele do que com a minha esposa (risos). Tenho também o Peçanha, jogamos três anos juntos e partilhei muita coisa com ele. Ainda hoje mantenho relação com os dois.

    Fonte: Facebook de Filipe Teixeira

    BnR: Há algum treinador que te tenha marcado?

    FT: Tive alguns, desde os da formação que me ajudaram muito e que apostaram em mim, como o Rui Luís e o Diamantino Miranda (Felgueiras). Nesse aspeto tive alguma sorte, tive o Nelo Vingada, Manuel Machado, Vitor Pontes…

    BnR: O melhor plantel com quem trabalhaste? Não me refiro ao que tinha mais “estrelas”, mas aquele onde te sentiste melhor.

    FT: Provavelmente o do Petrolul e do Astra, era onde havia mais união. Se calhar destaco o Astra, porque foi o plantel que conseguiu ser campeão mesmo tendo passado por todas aquelas dificuldades.

    BnR: Em Portugal, tens algum clube que apoies e assistas aos jogos?

    FT: Tenho, a Académica e o Felgueiras. Estou a torcer para que brevemente subam de divisão. Não apoio nenhum dos “grandes”, pelas más experiências que tive com eles, permitiu-me ver qual era a realidade do futebol e que mexe com muitos interesses.

    BnR: Representaste as seleções jovens de Portugal, desde os sub-18, sub-20 e sub-21. Alguma vez te sentiste frustrado por nunca teres chegado à seleção principal?

    FT: Não. Só houve uma única vez que se falou disso e que cheguei a fazer parte de uma pré-convocatória, que foi quando estava na Académica. Era uma época muito difícil para ir à seleção, só eram convocados os jogadores que jogavam nos grandes clubes da Europa e nos “três grandes”. Partilhei balneário com alguns deles, como o Pauleta e o Hugo Leal  e olhava para eles e para mim e pensava: será que tens oportunidade de chegar à seleção? Se calhar não (risos).

    BnR: Em toda a tua carreira, partilhaste o balneário com muitas jovens promessas, mais recentemente no FCSB, com o Dennis Man e o Florinel Coman, que pelo que consta, têm muito mercado. Se pudesses, qual era o conselho que davas a estes jovens em inicio de carreira ou qual era o conselho que gostavas de ter recebido na sua altura?

    FT: Nunca esqueci de muita gente me dizer, “aproveita que passa rápido”, mas na altura não dei o devido valor e respondia “tu é que estás velho” (risos). O problema é que essa frase é bem verdade e adequa-se aos jogadores de futebol. Se calhar era o conselho que lhes dava, para aproveitarem, mas sempre com cabeça! Ter bem definido o que querem e para não se deslumbrarem. Acho que o futebol para as novas gerações está muito diferente do meu tempo! Está tudo muito modernizado e eles agora têm muitas oportunidades, precisam é de saber aproveitá-las. Antigamente o futebol era aquilo que jogávamos em campo, era o que viam na hora, agora não, os jogadores podem ter vídeos com os seus highlights e graças às redes sociais muita mais gente pode ver e ter acesso àquilo que fizeram num determinado jogo. Para não falar que atualmente há muitos jogos com transmissão televisiva, como por exemplo o Campeonato de Portugal. O conselho que se pode dar é não se acomodarem com o nível e o clube que atingirem ainda em idade jovem, trabalhar para não dar nada como garantido. É isso que jovens como o Dennis Man e o Coman têm de ter presente no seu crescimento. Acho que o Dennis, com a qualidade que tem, vai chegar a um clube bom da Europa e o Coman tem uma margem de progressão enorme, é muito bom, sei que já foi associado a um clube português porque me chegaram a ligar. É um jogador que se tiver cabeça pode atingir o topo.

    BnR: Para terminar, qual vai ser o futuro do Filipe Teixeira? Pretendes continuar no mundo do futebol?

    FT: Não sei, estou a ver. A única certeza é que quero continuar ligado ao futebol, mas ainda não sei a fazer o quê ao certo. Há funções no mundo do futebol que são um bocado frias e que vão contra a minha maneira de ser, por isso estou a estudar todas as possibilidades. Em princípio deve haver alterações nos anos que são precisos para tirar um curso de treinador. Acho um absurdo! Sete anos é demasiado tempo para quem conhece este mundo, a sua realidade e já viveu tudo de perto. Precisas de mais anos para ser treinador do que para ser médico. Se isso acontecer mesmo é uma possibilidade.

    BnR: Obrigado Filipe, votos de muito sucesso nesta nova etapa.

    Entrevista realizada por Flávio Fernandes

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