– Globetrotter –
“Zivkovic talvez tenha de mudar de clube”
BnR: O golo à Eslovénia no Euro 2000 teve um sabor especial?
D: Muito! Foi um golo importante para mim e para a equipa, porque conseguimos passar de 0-3 para 3-3; foi o segundo, ainda fiz a assistência para o terceiro, acabámos com um jogador a menos e ainda podíamos ter marcado o quarto. Fui um dos melhores jogadores da fase de grupos e recordo-me de que La Gazzetta dello Sport me pôs entre os seis melhores da competição até àquele momento. Foi a confirmação do meu valor junto de uma seleção que tinha muitos craques.
BnR: Atualmente, a Jugoslávia seria candidata ao título em qualquer competição que participasse?
D: Não tenho dúvidas disso! Com um bom selecionador, tinha qualidade para ser campeã do mundo e da Europa. Alguns interesses sobrepunham-se às opções dos técnicos que tivemos e impediram-nos de chegar mais longe. Aliás, continua a ser um problema para o futebol sérvio hoje em dia. Quando fui selecionador, tentaram condicionar-me, mas tens de ser uma pessoa com caráter e com valor e meter a jogar quem merece.
BnR: Conduzes a Sérvia ao título no Euro sub-19 em 2013, eliminando o Portugal de Cancelo e Bernardo Silva nas meias-finais e a França de Laporte e Martial na final. Esta conquista abriu-te as portas da seleção principal demasiado cedo?
D: O grande problema daqui é que qualquer treinador que faça um bom resultado nas camadas jovens tentam “sacá-lo” logo. Se fosse em Portugal ou noutro país, teria passado para os sub-21. Estou muito orgulhoso do que conquistámos, até porque foi o primeiro “ouro” no futebol sérvio, e não deixei que se metessem no meu trabalho; eu senti estas interferências quando era jogador e disse para mim mesmo “se um dia estiver naquele lugar, farei as coisas de maneira diferente”. Sete jogadores dessa seleção são hoje jogadores da seleção principal.
Já agora deixa-me dizer-te o seguinte: quando mais tarde assumi a seleção principal e só fiz quatro jogos, tive pena de não continuar, porque tinha a certeza que teríamos ido ao Euro 2016 e faríamos uma grande competição. Tenho a certeza absoluta! O Presidente da Federação Sérvia tinha-me dado a palavra de que ia continuar à frente da seleção, mas não valeu de nada; várias pessoas fizeram tudo para que isto não acontecesse.
BnR: Aleksandar Mitrovic teria sido um bom reforço para os clubes portugueses?
D: Posso dizer-te que em relação ao Mitrovic falei com algumas pessoas que são ligadas aos clubes grandes de Portugal. Disse que era um grande jogador e um grande negócio futuro; recordo-me que depois do Campeonato da Europa saiu para o Anderlecht por quatro ou cinco milhões, que para Porto e Benfica não era nada, e que se jogasse um ano ou dois em Portugal saía por 50 milhões. Acredito que este ano vá proporcionar uma grande transferência para uma das melhores equipas da Europa.
BnR: Apesar de não conseguir o apuramento para o Mundial 2014, a Sérvia disputou até à última uma vaga com a Croácia. Em último lugar do grupo ficou a Macedónia, seleção com a qual acabaste por assinar.
D: Tinha contrato com a Federação Sérvia até dezembro de 2014, mas, como já disse, acabei por não ficar; o Presidente ainda me propôs voltar aos sub-19, mas queria ir-me embora. É quando surge o convite da Macedónia, onde trabalhei com o Luís Diogo como treinador adjunto, e fizemos um bom trabalho. Mas a Macedónia é um país com apenas dois milhões de habitantes e muito menos potencial que a Sérvia, apesar de termos feito grandes jogos, como contra a Espanha e Ucrânia. Foi um trabalho muito positivo e tinha mais dois anos de contrato, só que apareceu o Partizan…
BnR: É em Belgrado que orientas Andrija Zivkovic. Como explicas o seu recente apagão?
D: Em relação ao Zivkovic, é difícil de perceber e de explicar. Ele foi o nosso melhor jogador naquele ano, o nosso craque. Li que Bruno Lage disse que o Zivkovic desistiu de lutar (…) não sei, mas esta situação não é boa para ele e talvez tenha de mudar de clube. Parece-me que perdeu a ambição de vencer no Benfica. Muitas vezes falo com jogadores que vão jogar em Portugal e digo-lhes aquilo que têm de fazer, porque a concorrência é muito grande. É muito diferente do que acontece aqui na Sérvia, em que os jovens jogadores são mais mimados.
BnR: Já este ano, ao serviço dos sub-23 do Uzbequistão, alcançaste o 4.º lugar no Campeonato da Confederação Asiática. A Ásia Central é um mercado para o qual o campeonato português devia olhar?
D: O Uzbequistão, por exemplo, tem muitos jogadores talentosos. Penso que se as equipas europeias se virarem para lá, vão encontrar um país de futebol e de muito talento. Existem muitos que jogavam à vontade na Primeira Liga Portuguesa.
BnR: Por onde passa o teu futuro?
D: Depende das propostas que receber, mas de certeza que se não houvesse a pandemia já tinha voltado a trabalhar. Tenho várias situações em aberto.
BnR: Treinar o Gil Vicente é um objetivo?
D: Enquanto lá estiver o Vítor Oliveira, não! [risos] Se um dia tiver proposta, gostava de voltar, porque é um clube e uma cidade muito importantes para mim. Se não, noutro clube português.
Obrigado, Drulo.