-Os anos na Academia e o jogo que levou o Liverpool a assegurar a sua contratação-
«Sabia que ele ia ser jogador de futebol de certeza absoluta»
Bola na Rede: Permanecendo em Portugal e recuando uns bons anos no tempo, com cerca de 10/11 anos trocas a cidade de Braga por Lisboa onde chegas à Academia do Sporting CP. Calculo que para uma criança essa adaptação deva ter sido complicada.
João Carlos Teixeira: Sim, lembro-me que quando eu me mudei para lá foi em finais de agosto/ inícios de setembro, era Verão e ainda estava muito calor nessa altura. Numa primeira fase era tudo muito bom porque tínhamos bom tempo, treinávamos, acabava o treino, íamos comer, jogar PlayStation e voltávamos para jogar no campo de 7. Basicamente baseava-se tudo em futebol, conviver, jogar snooker, ping pong… Mas de repente, começou a escola, veio o Inverno, as saudades, o Natal estava a aproximar-se e aí sim, foi a fase mais difícil que eu tive na Academia. Com 12 anos as saudades começaram a apertar.
Bola na Rede: Durante aproximadamente dez anos vestes a pele de leão e divides a Academia com grandes nomes que se afirmaram no futebol nacional e europeu: William Carvalho, João Mário, Bruma, Dier e muito mais. A quem reconhecias mais potencial nessa altura?
João Carlos Teixeira: Tem um jogador que eu gosto muito. Era alguém que eu sabia que ia ser jogador desde o primeiro momento que eu o vi: o João Mário. Desde o primeiro dia que eu o vi, eu sabia que ele era ia ser um grande jogador no futuro, era impossível isso não acontecer. Pelo perfil dele, por tudo o que já fazia na altura e pela sua personalidade. Todo esse conjunto, de personalidade e qualidade como jogador, faziam com que eu olhasse para o João Mário e soubesse que era impossível haver erro ali. Sabia que ele ia ser jogador de futebol de certeza absoluta.
Bola na Rede: À medida que vais representando o Sporting CP foste também somando internacionalizações em todos os escalões da seleção portuguesa, e chegas até a atuar no Campeonato da Europa de Sub-17 de 2010. Representar a seleção principal continua a ser um objetivo realista na tua carreira e um desejo teu?
João Carlos Teixeira: Realista é porque eu estou no ativo e estou numa equipa grande na Holanda e na Europa, como disseste, é um clube com história. Sei que não é fácil, sei que em Portugal a concorrência é muito grande principalmente na posição em que jogo, mas é sempre um sonho e continua a ser uma realidade.
Bola na Rede: Destacaste-te no meio-campo do Sporting CP frente ao Liverpool durante a NextGen Series em 2011/12. Ainda tens bem presente na memória o que fizeste nesse jogo para captar a atenção de um gigante como o Liverpool?
João Carlos Teixeira: Lembro-me perfeitamente do jogo e do que aconteceu. Lembro-me sobretudo porque íamos jogar contra o Liverpool. íamos jogar em Anfield e para nós, miúdos de 17 e 18 anos que ainda estávamos a começar, era uma grande motivação.
Bola na Rede: E uma boa montra…
João Carlos Teixeira: Exatamente, eu na altura até nem pensei nisso como uma montra, mas tinha aquela motivação de jogar num grande palco como aquele, contra uma grande equipa como o Liverpool e isso sim seria a montra. Sentíamos quase como se estivéssemos a jogar a Champions League porque na altura ainda não tínhamos tido uma experiência assim e, de repente, estávamos a jogar em Inglaterra contra o Liverpool, com a motivação no máximo.
Bola na Rede: Depois de te teres desenvolvido no SC Braga e no Sporting CP, chegas a Anfield em janeiro de 2012 e representas os sub-21 do Liverpool ao lado de jogadores como Luís Alberto da Lázio e Sterling. Quais são as grandes diferenças da formação em Inglaterra para Portugal?
João Carlos Teixeira: O futebol em si já é diferente. No início a adaptação não foi fácil porque o nosso futebol é muito técnico e em Inglaterra é mais agressivo, com maior contacto e eu tive de me habituar nesse sentido.
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— João Vilaça Teixeira (@Joao_Teixeira17) February 5, 2016
Bola na Rede: A verdade é que a transferência para o Liverpool teve em risco de cair devido a uma lesão nas costas que te obrigou a parar durante 7 meses. Como viveste essa fase difícil longe de casa?
João Carlos Teixeira: Essa lesão eu descobri no momento em que ia assinar. Estava a fazer os testes médicos e foi quando eu descobri, mas o Liverpool assinou na mesma comigo. Na altura, o Dier estava no Everton emprestado, então basicamente vivíamos juntos no mesmo prédio. Eu tinha o meu apartamento, ele tinha o dele, mas passávamos o dia juntos e foi aí que encontrei o meu apoio, ele sempre me ajudou muito, principalmente nessa fase. O Eric [Dier] é inglês e obviamente que não houve dificuldade nenhuma para ele, já conhecia a cidade, já falava um inglês perfeito e por isso foi muito mais fácil para mim a adaptação do que se estivesse ali sozinho.