– Velhos são os trapos –
“Se não tivéssemos vencido a Taça e se o clube quisesse, continuava mais uma época”
BnR: O ingresso no Desportivo das Aves foi encarado como um passo atrás para dar dois à frente ou deveu-se apenas ao prazer de continuar a jogar?
Q: De maneira alguma. Tinha possibilidade de continuar a jogar na Primeira Liga depois de sair do Braga, mas a partir do momento em que apareceu o Desportivo das Aves disse “É isto!”. A idade já era um bocado avançada e queria ficar em “casa”, estar próximo da família; da Vila das Aves até onde moro são 15/20 minutos. O Aves era um clube com o qual me identificava, um clube humilde e que me abordou de uma maneira de que gostei. O objetivo era ajudar o clube a subir de divisão e conseguimos. Nunca me irei arrepender desta decisão.
BnR: Nos anos que antecederam a subida de divisão, foste eleito o melhor guarda-redes a atuar na Segunda Liga por duas ocasiões. Sentias que ainda tinhas capacidade para estar na primeira divisão?
Q: Posso dizer-te que, no final do primeiro e segundo ano no Aves – e, se calhar, no final do terceiro ano, também – tive propostas para voltar à Primeira Liga. O objetivo não era jogar na primeira ou na segunda divisão, mas sim jogar onde me sentia bem e onde as pessoas gostassem de mim. Vi no Aves esta oportunidade e preferi continuar no clube, mesmo sendo numa segunda liga, porque mantinha a paixão de jogar futebol e o clube deu-me a possibilidade de fazê-lo até aos 42 anos.
BnR: Tocaste num marco histórico. Qual é o significado de bater o recorde de jogador mais velho de sempre a competir na Primeira Liga, ainda mais contra o Benfica e com a exibição que fizeste?
Q: É um como tantos outros. Nunca procurei jogar para bater esse recorde. Aconteceu. Procurava, sim, jogar e sentir-me bem.
BnR: Se não tivesses ganho a Taça de Portugal, tinhas-te reformado?
Q: Pergunta difícil (risos). Se não tivéssemos vencido a Taça e se o clube quisesse que continuasse, se calhar continuava mais uma época. Nesse ano, o último de contrato, o Aves praticamente disse-me para fazer o que eu quisesse.
BnR: Qual a memória mais forte dessa altura?
Q: A semana seguinte a termos conquistado a Taça de Portugal. Estamos a falar de uma vila com poucas pessoas, mas que mereciam tanto aquela vitória que eu não consigo salientar um momento… foi a semana antes, a semana depois (…) o que as pessoas vibraram! Foi uma alegria imensa para as gentes da Vila das Aves, que continuam, ainda, a sentir esse jogo. Quer queiramos, quer não, o Aves foi apenas o 13.º clube a ganhar uma Taça de Portugal e isto não é para qualquer um.