– Gratidão a Fernando Santos no Sporting –
“Luisão era chato p’ra caramba”
BnR: Que memórias tens do primeiro dia no Sporting?
ES: Cara, é um clube que eu não tenho muita lembrança porque era um clube grande mas naquela época era mal gerido. Eu tenho um carinho muito grande e agradeço muito ao sr. Fernando Santos, foi um treinador que me deu uma força muito grande. É um grande senhor, estou-lhe muito grato porque foi das únicas pessoas no Sporting que não me deixou largado lá como muitos jogadores que foram contratados nessa época, como eu, Clayton, Wender e mais alguns. Quando cheguei ao Sporting eu me machuquei feio, coloquei uma platina na cabeça e estive um tempão de fora. E não regressei ao meu nível. Mas o Fernando Santos, para mim, para a minha esposa e para a minha família foi essencial. Não dei sorte no Sporting, a verdade foi essa.
BnR: O primeiro golo demorou a chegar, só ao 10º jogo, vs. Rio Ave. Foi difícil adaptares-te à realidade do Sporting?
ES: Você sabe que avançado vive de golo. Eu vinha procurando esse golo há muito tempo, a bola não entrava, pegava na trave ou pegava de raspão. E aquela ansiedade que todos os avançados têm atrapalhava muito e, quando chegou o meu primeiro golo, eu já estava muito pressionado para sair da equipa. O Fernando Santos continuou a segurar-me porque ele sabia que eu tinha potencial para fazer aquilo que ele queria só que os golos, que não apareciam, fazia com que a pressão sobre mim fosse enorme. Mas eu acho até normal ele ter-me tirado da equipa, porque um avançado vive de golos. Depois chegou o Liedson, aí eu joguei muito tempo com ele na frente.
BnR: Liedson, que craque.
ES: É. Tínhamos uma boa intimidade dentro de campo e fora. Era um jogador inquieto, não parava, raçudo como eu. O Liedson jogava mais fora da área, saía mais, tínhamos uma dupla legal. Ele quando chegou, acho que veio do Corinthians, demorou também a adaptar-se porque quando chegou muita gente não dava nada por ele por ser um jogador muito leve…
BnR: A alcunha era essa mesmo, “Levezinho”.
ES: Exatamente. Mas ele começou a ganhar o espaço dele, era um excelente jogador. Até nos treinos era muito difícil derrubar o Liedson, era magrinho mas ninguém derrubava o Liedson. Foi um jogador que fez história no Sporting, fez história no Porto por ser campeão e foi craque também na seleção portuguesa.
BnR: Depois, marcas ao SC Braga e ao Boavista. Festejaste esses golos?
ES: Festejei. Os adeptos do Boavista não gostaram na altura mas cara, sinceramente, é um momento único na carreira de um jogador, os golos. Eu optei por comemorar, com todo o respeito pelos clubes em que passei, por exemplo no Guimarães fiz golo contra o Sporting e comemorei do mesmo jeito. Eu acho que é uma coisa normal, vem de cada um. Não comemorei para magoar ninguém, comemorei porque é um momento que temos que festejar porque é uma coisa única no futebol.
BnR: Lembras-te do golo ao Benfica?
ES: [Silva sorri com ar matreiro] Lembro, lembro sim. Sinceramente, eu esperava muito fazer o golo naquele jogo, não era daquela maneira em específico [de cabeça]. Eu vim lutando muito com Luisão durante o jogo, Luisão era muito grande, era chato p’ra caramba. Nesse momento do golo eu antecipei-me, foi a única bola que eu ganhei de cabeça do Luisão. E nesse jogo aí eu ainda sofri um penalty.
BnR: Pois foi. Mas se fosse hoje, se calhar o VAR anulava o penalty…
ES: Ehehe não dava não. Ele tocou-me mas acho que não foi um toque para penalty. Mas às vezes a gente é malandragem… o golo do título do Boavista, por exemplo, eu fiz o golo de mão.
BnR: As câmaras apanharam uma conversa tua e do Pedro Barbosa no aquecimento. É ele quem faz a assistência para o teu golo. Recordas-te do que falaram?
ES: Eu aquecia muitas vezes com o Pedro Barbosa. Era um jogador excelente. Por incrível que pareça, nesse dia ele disse “Tenta antecipar-te, porque o Luisão além de ser grande é lento”. E eu fiz o golo antecipando-me. Eu falava sempre com o Pedro Barbosa, porque ele era muito inteligente.
BnR: Do que é que tens mais saudades dos tempos de jogador?
ES: Tenho saudades daquela adrenalina dos jogos difíceis. Havia jogos que estávamos aflitos para ganhar, aquela pressão de vencer os jogos. Mas esta saudade é normal, são já muitos anos desde que deixei de jogar.
BnR: Representaste SC Braga, Boavista, Sporting e Vitória SC. Mas o teu coração acabou por “ficar” no FC Porto.
ES: Como eu falei antes, foi sempre um sonho jogar no FC Porto. É um clube que quando eu cheguei a Portugal ganhava tudo e eu passei quase nove anos em Portugal. É um clube que eu via que quando não era na bola era na raça, ganhava tudo. Tinha um presidente que cobrava muito mas tinha resultados e os jogadores eram “à moda do Porto”. Eu lembro-me que a minha estreia no Porto foi nas Antas, Porto-Braga. Eu ia voando naquele jogo.
BnR: Literalmente?
ES: Eu dou duas ou três tapas na frente do Jorge Costa e o Jorge Costa era muito lento. Naquela época ele era um bocado lento e ele tinha a mania de ser mau demais. Eu rodei duas bolas nele e na terceira bola ele deu-me no meio e passou por cima ainda. E disse “Brasileiro, na próxima vou-te matar”. Eu gostava muito da maneira do Porto jogar, porque os jogos nas Antas eram complicados. Quando íamos lá normalmente sabíamos que íamos perder por três ou quatro. E tinham lá o Jardel que fazia golo até debaixo de água.
BnR: Qual a melhor lição que o futebol te ensinou?
ES: Acho que a disciplina. É essencial no futebol, porque o futebol lá na frente cobra-te muito. Eu tentei ter disciplina ao máximo, o descanso e isso, mas nem sempre a 100%.