O campeonato dos contos de fadas

    E o que dizer do Tondela? A 14 de Março de 2015 via a 2.ª Liga como uma realidade inevitável para a próxima época. Acabara de perder com o Benfica, por 4-1, e a distância para a linha de água, com oito jogos por disputar, era de 11 pontos. O Belenenses veio ao distrito de Viseu na jornada seguinte, e esteve a vencer por 2-0, mas, mesmo sabendo da precariedade da situação, os jogadores tondelenses não baixaram os braços e, aos 90+2 minutos, o herói inesperado, João Pica, fez o golo da igualdade depois de Nathan Júnior ter reduzido.

    No fim, o Tondela sorriu, depois de estar condenado Fonte: CD Tondela
    No fim, o Tondela sorriu, depois de estar condenado
    Fonte: CD Tondela

    Seguiu-se a pausa para as selecções, havia um adversário para ultrapassar na própria linha de água, a distância para a zona segura era de dez pontos, e havia 21 em disputa. Era dificílimo alcançar esses lugares, ainda por cima com uma deslocação ao Dragão, um obstáculo maior até ao final da temporada… Foi devidamente ultrapassado com uma vitória por 1-0, que virou, completamente, o estado anímico do conjunto tondelense, que teve, ainda, em Setúbal e em Paços vitórias históricas. A primeira por ter acontecido nos minutos finais, com Pica a voltar a ser protagonista, e a segunda pelos números (4-1!).

    Chegou-se à última jornada e a esperança manteve-se viva. Setúbal e União da Madeira eram alcançáveis e a Académica já tinha descido. Pois, bem, o Tondela derrotou a Briosa e o União deixou-se cair perante o Rio Ave. Resultado final: depois de ter estado condenado por análises subjectivas e pelo facto de algo tão objectivo como a matemática não lhe augurar um grande futuro (as probabilidades de “se safar” eram mínimas), o Tondela garantiu a permanência na Primeira Liga. E isso só pode ser inspirador.

    Por fim, a luta pelo título. Uma luta magnífica, que muitos quiseram branquear com comunicados irresponsáveis e brejeiros, fosse em redes sociais ou em conferências de imprensa, mas que não conseguiram. Os protagonistas foram os jogadores, e estes deram muito espectáculo. Tornaram o campeonato numa coisa entretida, mesmo para os leigos. A justiça do campeão não se pode colocar em causa. Esse é sempre um dado sujeito à graduação clubística dos olhos de cada um. Os meus agradecem a ambas as equipas pelo futebol praticado e pelos bons momentos que me proporcionaram. Benfica ou Sporting, qualquer um seria justo campeão. E isso só pode ser inspirador.

    Nas próximos tempos, muita gente olhará para o que fizeram estas quatro equipas e pensarão que, mesmo quando tudo parece perdido e até a matemática nos condena, há algo que ninguém nos pode tirar. A esperança. E tê-la é meio caminho andado para que se atinjam objectivos que julgámos inatingíveis. Foi um campeonato de contos de fadas. E isso só pode ser inspirador.

     

    Artigo revisto por: Manuela Baptista Coelho

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