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Liga Inglesa: Uma estreia sem brilho do Manchester United

cab premier league liga inglesa

A Premier League começou este fim-de-semana e já provoca chamadas de capa, inúmeras notícias no interior dos jornais desportivos e o habitual alarido. É o melhor campeonato do mundo, hands down. Com um futebol muito particular, transições e tácticas exímias e a agravante das várias contratações de encher o olho, a liga inglesa continua a despertar as habituais paixões.

Por terras de Sua Majestade, há uma dessas – paixões, repita-se – que me acompanha, mesmo com o passar dos anos pouco frutíferos. Apoio e sofro pelo Manchester United. E foi com pequenos rasgos de alegria mas, principalmente, com algum receio, que vi este sábado a estreia dos red devils nesta edição da Premier League. Os rapazes de Van Gaal venceram o Tottenham por um magro 1-0, sem sequer terem precisado de marcar; um auto-golo de Kyle Walker decidiu a partida. Foi uma vitória sofrida, com os adeptos a terminarem a partida “com o credo na boca”.

Acho que não preciso de explicar o porquê do pouco entusiasmo que ostento. O United realizou apenas um remate na direcção da baliza, por intermédio de Ashley Young; em 90 minutos, a equipa de Manchester rematou por apenas 10 vezes. É pouco, para quem se diz, invariavelmente, candidato ao título. É pouco, para quem investiu mais de 100 milhões no reforço do plantel. É pouco, para quem pode contar com Rooney, Depay, Schweinsteiger, Mata e companhia.

Ainda assim, e como já disse, há vários pontos positivos que ainda me garantem uma réstia de esperança na luta pelo título 2015/16. Os reforços preteridos por Van Gaal estão a funcionar,  e as suas pequenas “invenções” também. Matteo Darmian, o lateral que o técnico holandês tanto quis, cumpriu o seu dever defensivo e mostrou bons lances de ataque no meio-campo dos spurs. Foi, quase indubitavelmente, o melhor em campo. O internacional italiano mostrou-se uma boa extensão do treinador em campo, tendo Van Gaal, inclusive, afirmado que “quando precisar de pensar num jogador, é ele”.

Matteo Darmian foi dos melhores em campo Fonte: Facebook do Manchester United
Matteo Darmian foi dos melhores em campo
Fonte: Facebook do Manchester United

Já o holandês Depay, que também havia dado boas indicações na pré-época, mostrou-se bastante proactivo nas investidas atacantes e revelou um bom entendimento com Rooney. A confirmar-se, esta será uma dupla mortífera e perigosa para as defesas adversárias. As estreias dos médios Schneiderlin e Schweinsteiger deixaram, também, um desejo de meio-campo edificado sobre estas duas torres; o United precisa de médios experientes mas rebeldes, que partilhem a ousadia do veterano Carrick ao servir os atacantes. Espero que, este ano, veja por fim um meio-campo estável, sem passes errados e com transições ofensivas certeiras.

Quanto às criações de Van Gaal, protagonismo para uma. O técnico colocou o habitual lateral Blind na posição de defesa central. Assumindo uma colocação que lhe é estranha, o holandês mostrou-se seguro e não cometeu erros. Van Gaal tenta assim solucionar um problema que já advém de outras épocas: a falta de centrais de raiz.

Sem ser reforço, nota muito positiva para o jovem central Chris Smalling. O jogador realizou uma exibição sem erros, tendo garantido a vitória da sua equipa através dos inúmeros roubos de bola que conseguiu, na fase mais sufocante do Tottenham.

A polémica na baliza continua, tendo sido o recém-contratado Romero a ganhar a titularidade. Na bancada, Victor Valdés, David De Gea e Lindegaard observavam a partida. Rio Ferdinand disse esta semana que o clube “pode esquecer os títulos” se efectivar a transferência de De Gea. Uma novela que não tem fim à vista…

Sem ter sido brilhante (longe disso…), o Manchester United conseguiu uma importante primeira vitória na Premier League, e diz “presente” quanto à conquista do título. Segue-se o Aston Villa, no campeonato, e uma imprevisível pré-eliminatória da Champions, frente ao Club Brugge.

Foto de capa: Facebook do Manchester United

Masters 1000 Canada: Djokovic procura quinto Masters da temporada

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cab ténis

Um mês após o fim do torneio de Wimbledon, os melhores tenistas do mundo voltam a estar em acção no Canadá para o sexto torneio Masters 1000 da temporada. O campeão em título é Jo Wilfried Tsonga, que teve uma campanha absolutamente sensacional em 2014, batendo Djokovic (#1), Murray (#9), Dimitrov (#8) e Federer (#3) consecutivamente, com a perda de apenas um set.  De então para cá, o francês tem sido fustigado por constantes lesões, que o tiraram do top 20 e o obrigarão a outra campanha heróica se quiser revalidar o título: Coric e Bautista Agut nas duas primeiras rondas e depois muito possivelmente Cilic, Murray, Nadal/Nishikori e Djokovic.

O grande favorito ao título é, sem dúvida, Djokovic, que ganhou todos os 4 Masters 1000 que disputou esta temporada e 2 dos 3 Grand Slams. O seu quadro afigura-se bastante acessível, com um Dimitrov que está a rubricar uma péssima temporada e um Berdych que o sérvio sempre dominou. Nas meias-finais, Wawrinka seria um adversário muito complicado mas o suiço é tudo menos consistente; não espantaria ninguém se víssemos Gasquet, Kyrgios ou especialmente o homem da casa, Milos Raonic, atingir as meias-finais nesta parte do quadro.

Será este o 5º masters do ano para Djokovic? Fonte: Facebook de Djokovic
Será este o 5º masters do ano para Djokovic?
Fonte: Facebook de Djokovic

Na primeira parte da metade inferior do quadro, um confronto entre Nadal e Nishikori nos quartos-de-final parece inevitável. Nadal venceu o torneio de Hamburgo em terra batida de maneira muito pouco convincente, não parecendo estar ainda de volta ao seu melhor; Nishikori venceu Washington este domingo e parece ter aqui uma oportunidade de ouro para finalmente vencer Nadal, o único jogador de topo (além de del Potro) que ainda não conseguiu levar de vencido.

Na última parte do quadro, Murray é o favorito – apesar da surpreendente derrota contra Gabashvili em Washington – mas temos vários jogadores que podem ser muito perigosos se jogarem perto do seu melhor nível: o campeão em título, Tsonga, o vencedor do US Open, Martin Cilic ou Gael Monfils… na metade superior do quadro, Djokovic é o claro favorito para chegar à final, mas a metade inferior parece bem mais aberta, com vários candidatos a chegar à final.

No que toca à participação portuguesa, João Sousa tem uma primeira ronda complicada mas longe de ser impossível contra o recente campeão de Bogota, Bernard Tomic, seguindo-se Cilic na segunda ronda em caso de vitória. Não se espera um grande resultado de João Sousa neste torneio, mas o quadro podia ter sido pior.

Previsões a partir dos quartos-de-final:

Djokovic 2-0 Berdych

Raonic 2-0 Kyrgios

Nishikori 2-1 Nadal

Tsonga 2-0 Monfils

Semi-Final:

Djokovic 2-0 Raonic

Nishikori 2-0 Tsonga

Final:

Djokovic 2-1 Nishikori

Foto de capa: Facebook de Rafa Nadal

SL Benfica 0-1 Sporting CP: “Rui Vitória, a sua equipa tem um atraso no desenvolvimento”

cabeçalho benfica

As identidades demoram a formar-se. É um processo normal da vida e, por isso, de uma equipa de futebol. No início, é normal que exista mais inseguranças e que a personalidade seja menos vincada. Assim foi com o Benfica da Supertaça 2015/16, em pleno processo de crescimento e transição.

Uma equipa completamente diferente da última que os adeptos tinham visto pela última vez em jogos “a doer”. Desde logo na linha defensiva, ocupada por três nomes que não eram habituais titulares na época passada e que, portanto, não “tocaram” no mesmo tom. Algo expectável, ainda para mais tendo em conta que o diapasão habitual (Luisão) não estava apto para afinar uma orquestra onde abundava o desacerto que a inexperiência traz à tona. Cenário fielmente ilustrado na permeabilidade do conjunto e na figura de um miúdo sem grande experiência nestas andanças (Nelson Semedo), e que colocou um adversário em jogo numa altura em que a ordem era para subir a linha defensiva, dando origem a um golo… mal anulado.

As coisas, até aí, (23 minutos) foram algo caóticas para o lado encarnado, nomeadamente lá atrás, mas a pouco e pouco, foi-se ganhando lampejos de segurança e estabilidade e a equipa conseguiu manter uma coesão defensiva razoável até ao final da primeira parte. Isso espalhou-se ao resto do onze, e Jonas teve o golo na cabeça por duas ocasiões, porém, o processo ofensivo, pela falta de assimilação de processos em 3×1, com Jonas sozinho na frente, embora fosse, na prática, um vagabundo, deambulando pelas alas e recuasse, amiúde, para vir buscar jogo… um esforço incompreendido pelos seus colegas e sem correspondência no talento (?) dos seus companheiros de sector, sobretudo Talisca, apagadíssimo e frequentemente desposicionado, quer na primeira fase de pressão, quer na zona de construção no meio-campo contrário.

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Júlio César foi o melhor elemento do Benfica em campo
Fonte: Página de Facebook do Benfica

A segunda parte começou como a primeira- com um Benfica em processo de desenvolvimento, bastante permeável na zona defensiva e sem capacidade para sair, com sucesso, do seu meio-campo. O desacerto e o desentrusamento eram evidentes, e o adversário ia crescendo…. até que marcou, num lance fortuito, e em que não se pode apontar o dedo à defesa.

O Benfica tentou responder, mas ainda precisa de ganhar roinas e assimilar processos. Pizzi entrou para o lugar de Talisca e conseguiu fazer melhor que o companheiro, introduzindo assertividade e dinâmica ao processo de criação ofensiva, mas isso, sem um último passe letal ou um disparo perigoso de fora da àrea, é inútil.

Rui Vitória ainda colocou Mitroglou (substituiu Samaris, colocando a equipa em 4x4x2) e Gonçalo Guedes (saiu Ola John) em campo. Ganharam-se mais bolas aéreas, e houve maior frescura nos flancos, mas faltava o essencial – a criatividade, a imaginação… o último passe.

O que fica deste jogo é que este Benfica está a crescer, a formar uma identidade, uma ideia de jogo, mas isso tem sido feito muito lentamente (uma pré-época cheia de viagens e num fuso horário diferente não ajudou, mas o marketing no futebol assume importância cada vez maior e um clube não se pode desviar dessa realidade).

Nestes primeiros “jogos” de vida, a águia de Rui Vitória já é uma criança, mas vai relevando atraso no desenvolvimento.

A Figura do jogo
Júlio César – Sempre que foi chamado a intervir, não vacilou, exibindo-se a um nível altíssimo, tactica, posicional e tecnicamente. E não foi pouco, o trabalho que teve. Revelou-se a peça mais consistente do xadrez encarnado, e evitou que o resultado se avolumasse. No golo sofrido, nada podia fazer.

O Fora-de-jogo
Talisca – Não seria a mesma coisa tê-lo ou não em campo, mas só mesmo pelo facto de o Benfica ficar em inferioridade numérica. O brasileiro esteve apagadíssimo. A dinâmica ofensiva do Benfica não foi nula durante o tempo em que ele esteve em campo, mas sê-lo-ia não fossem os rasgos de Gaitán e o sacrifício e a qualidade de Jonas.

Foto de capa: Página de Facebook do Benfica

SL Benfica 0-1 Sporting CP: A sorte esteve do lado dos audazes

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O Sporting venceu hoje a Supertaça e, na minha opinião, a vitória nem sequer é o ponto mais positivo da noite. Os “leões” estiveram muito bem em campo, com alguns destaques, como João Mário, Naldo, Paulo Oliveira e Slimani.

O Benfica entrou mal nas duas partes, e nunca foi uma equipa perigosa no ataque. Lembro-me apenas de um cabeceamento de Jonas na primeira parte e pouco mais. No final, ainda tentaram o tradicional “chuveirinho”, mas sem sucesso. Não se pode dizer que os “verde e brancos” tenham tido mais oportunidades, mas foram sempre mais ofensivos e o jogo foi mais jogado no meio campo “encarnado” do que no leonino.

Apesar de se apresentar sem William Carvalho, o Sporting esteve muito bem, com Adrien e João Mário a não sentirem problemas perante Talisca (será que ele soube que o jogo era no Algarve?) e Samaris. Islam Slimani fez um jogo fantástico, em que faltou apenas a cereja no topo do bolo, diga-se, o golo. O argelino comanda os colegas nos momentos de pressionar a defensiva contrária, corre por todo o lado e até já sabe jogar bem com os pés, coisa que não acontecia quando cá chegou. Muito mérito também para Leonardo Jardim e Marco Silva, que não devem ser esquecidos neste momento. Em suma, Slimani foi um quebra-cabeças constante para os dois centrais sul-americanos do Benfica, ao contrário de Teo Gutiérrez que, ainda assim, foi o homem-golo da partida. O colombiano marcou um golo limpo na primeira parte (mais uma vez aconteceram “coisas esquisitas” no Estádio Algarve entre Benfica e Sporting) e desviou o remate de André Carrillo, que só parou no fundo das redes. Contudo, Gutiérrez parece ainda um pouco preso de movimentos, não tendo ganho um “sprint” a Jardel e a Lisandro López, que foi um dos melhores na equipa do Benfica.

Nas alas, Bryan Ruiz e Carrillo estiveram bem na circulação de bola e nas movimentações em frente da grande área benfiquista, mas, naturalmente, estarão a um nível ainda mais alto com o decorrer da temporada. Para já, as movimentações e trocas posicionais perto da linha defensiva adversária fazem crescer água na boca dos sportinguistas. Prova disso é o golo que foi válido, e que nasceu de uma incursão de “La Culebra” no espaço deixado entre Fejsa e a dupla de centrais do Benfica. No meio campo, como já disse, Adrien esteve muito bem a nível defensivo, mas João Mário é que fez um jogo monstruoso. Receção e controlo de bola, visão de jogo, maturidade, inteligência na posse de bola foram predicados mostrados com grande classe pelo jovem formado em Alvalade.

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Bryan protagonizou uma exibição repleta de inteligência
Fonte: fpf.pt

A nível defensivo, Naldo e Paulo Oliveira estiveram gigantes, tanto na marcação a Jonas e Mitroglou, como nas “dobras” aos companheiros quando estes eram ultrapassados pela velocidade de Ola John ou pela magia de Gaitán. Pelo que vimos até agora, estão resolvidos os problemas na defesa do Sporting, que tanto atormentaram o clube na época passada. Continuo a acreditar plenamente que, se houver justiça, Paulo Oliveira terminará a época em França, no Europeu com a seleção portuguesa. Jefferson, sempre em alta rotação e com cruzamentos venenosos, é garantia de qualidade e João Pereira, apesar de ainda não estar na melhor forma física, também não nos deixou ficar mal hoje.

Em relação ao Benfica, penso que faltam soluções, principalmente para as alas, tanto a nível defensivo como ofensivo. Nélson Semedo não comprometeu mas não é solução para agarrar desde já a titularidade e Sílvio mostrou alguma fadiga e falta de concentração. Se tivesse sido João Pereira a ter cartão amarelo e pisar Slimani como fez Sílvio no início da segunda parte, seria um escândalo… No ataque, Ola John até esteve bem, mas quando o holandês é titular e Gonçalo Guedes é a primeira opção que sai do banco para aquele lugar, alguma coisa está errada nas “águias”.

A equipa de arbitragem falhou, principalmente em três lances. O golo mal anulado a Gutiérrez, a expulsão perdoada a Sílvio e um penálti claríssimo a favor do Benfica, cometido por Carrillo sobre Gaitán, que também não percebo como Jorge Sousa não assinalou.

O Sporting mostrou já ter as garras bem afiadas neste princípio de época, onde poderá efetivamente lutar por títulos. Carlos Mané (que entrou bem na partida, com alguns dos seus raides característicos), Alberto Aquilani, William Carvalho, Ewerton ou Fredy Montero são elementos que também acrescentarão qualidade e competitividade ao onze preferido de Jesus no início de época. Afinal de contas, está aí também o início do campeonato e o “play-off” da Liga dos Campeões contra o CSKA Moscovo.

Nota final para Jorge Jesus: continua a ser demasiado vaidoso e até “gabarolas” nas vitórias, coisa que lhe poderá sair cara numa altura mais adiantada da época. Está a trabalhar muito bem a nível técnico, mas deverá ser mais contido a nível de discurso, apesar de manter este polémico e duvidoso estilo de há seis anos para cá.

A Figura
Slimani – Já o disse acima, mas repito: Slimani está feito um jogador de alto gabarito. Já o tinha visto nas bancadas de Alvalade frente à Roma, e novamente hoje. O argelino corre, serve, é a verdadeira referência atacante dos “leões”. Até já faz assistência de calcanhar… A luta pela titularidade só poderá ser entre Fredy Montero e Teo Cutiérrez, porque Slimani, a jogar assim, é intocável.

O Fora-de-Jogo
Luís Filipe Vieira – Poderá ser estranho colocar aqui o presidente do Benfica, mas Rui Vitória não tem as mesmas soluções que os seus antecessores tiveram, como Vieira tinha prometido. O plantel está notoriamente mais fraco e Rui Vitória terá tarefa mais difícil. Este é um duro golpe em Luís Filipe Vieira e na estrutura “encarnada”.

Foto de capa: Página de Facebook do Sporting Clube de Portugal

A resposta dos acéfalos

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Depois de quase dois meses sem partilhar a minha opinião sobre o estado das coisas futebolísticas, assim regresso a este meu espaço no Bola na Rede. Nova época e novos desafios surgem, com a promessa dita por quase todos de que esta será uma das temporadas mais interessantes a nível competitivo no nosso futebol. Como não poderia deixar de ser – e creio que neste ponto estarão de acordo comigo – as últimas semanas têm demonstrado aquilo que é o típico “defeso”: rumores e mais rumores; contratações e mais contratações; vendas e mais vendas. Umas supostas, outras possíveis e outras concretizadas. Assim se faz a história do futebol e do mercado de verão por esta altura, sendo que em Portugal a situação não é diferente.

No que a esta “silly season” diz respeito, obviamente que o campeonato nacional não poderia ter começado de melhor forma: na 2ª circular, o todo poderoso Jesus decidiu abandonar a casa onde tinha feito história durante seis anos. De forma inesperada ou nem tanto, o rival Sporting recebia um dos melhores treinadores portugueses da atualidade. Assim se mudam os protagonistas das histórias que fazem o nosso campeonato. No Benfica, veio da cidade onde nasceu Portugal o treinador que promete continuar a colocar o bicampeão nacional no trilho das conquistas. Rui Vitória, um homem que em Guimarães fez omeletes sem ovos e que agora se perceberá se tem mãos para os ovos que Luís Filipe Vieira lhe prometeu. Em Alvalade, o “efeito Jesus” passa pelos jornais, pelas redes sociais, pelas conversas de café e pelos estados de ânimo que nunca foram tão exacerbados para a massa adepta leonina. Afinal de contas, o todo poderoso Jesus veio ali parar depois de seis anos a provocar desgostos no seu clube de sempre. De forma inesperada, parecia que com a mudança de Jesus o defeso tinha lançado para a mesa a sua melhor carta. Nada disso, pois a notícia da mudança do técnico para Alvalade foi apenas o primeiro capítulo de um livro que tem sido rescrito diariamente pelos jornais, televisões e rádios.

Contudo, e como este espaço de opinião aponta mais para a atualidade portista, não poderia pois, no meu regresso ao “Eterna Mocidade” deixar de analisar o que tem sido a pré-temporada portista. Mais do que falar dos resultados – que valem o que valem – parece-me importante refletir sobre as entradas e saídas do plantel que claramente sofreu mais alterações quando comparado com o dos dois rivais. Talvez por isso, seja eu, entre os portistas, um dos poucos que não me tenho deixado iludir com as “luzes da ribalta” que parece terem pairado sobre a nação portista. Aliás, como analista atento, não deixo de achar curioso tudo aquilo que tenho lido e ouvido sobre a época que se avizinha. Durante os últimos dois meses, existe um denominador comum quando se fala sobre o FC Porto: a necessidade obrigatória de ganhar, sob pena de ver um terceiro campeonato consecutivo fugir das mãos. É óbvio, e importante não esquecer, que o FC Porto tem construído um legado recente que faz com que um interregno de dois anos sem vencer o título nacional seja um escândalo a que a esmagadora maioria dos adeptos portistas não está habituada. Talvez por isso, em toda e qualquer análise que se faça ao plantel de Julen Lopetegui está lá sempre presente a premissa de que, com aqueles jogadores, o treinador espanhol tem obrigação de ganhar.

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Casillas é uma das principais figuras do novo FC Porto
Fonte: footazo.com

Todas estas declarações de intenção feita por portistas é algo que me intriga. Bem sei que a pré época é aquela fase em que diariamente nos enchem os ouvidos com rumores de entradas no plantel e desconfianças de saídas que ninguém quer que sejam verdade. Basta olhar para as novelas Lucas Lima ou Alex Sandro para perceber do que falo. Numa fase da temporada onde o futebol jogado praticamente não existe quando comparado com o “futebol falado”, é a realidade dos rumores que se sobrepõe a tudo e que faz com que, muitas vezes para os adeptos, a ilusão acabe por se superiorizar a uma realidade que deve ser analisada.  Chego a este ponto pois creio que é disso que falamos quando nos referimos ao plantel atual do FC Porto. Ao longo das últimas semanas, tenho lido inúmeras opiniões de que os portistas têm uma forte vantagem para com os dois principais rivais lisboetas. Essa é uma visão que se centra sobretudo do facto da equipa manter o seu treinador – algo que Benfica e Sporting não fazem – e na “suposta” qualidade superior que este plantel tem quando comparado com os adversários.

Relativamente a estes dois fatores, creio que no caso da premissa do treinador ela é, porventura, a mais válida. Apesar de Jorge Jesus e Rui Vitória serem já profundos conhecedores do futebol português – bem mais do que Lopetegui – a mudança de realidades, sobretudo no caso de Vitória, acaba sempre por ter alguns efeitos. Aliás, basta ler a entrevista de Jorge Jesus de antecipação à Supertaça para perceber as inúmeras dificuldades que supostamente ele enfrenta no novo desafio em Alvalade. Afinal de contas, Jesus tem agora que mudar a realidade no futebol leonino, como se o passado de Leonardo Jardim e Marco Silva não tivessem existido e como se só agora o Sporting tivesse “acordado” para a realidade. No Benfica, e de acordo com o mesmo Jorge Jesus, nada mudou: o esquema tático, o modelo de jogo, as bolas paradas defensivas e ofensivas; tudo é igual com Rui Vitória. De acordo com o treinador sportinguista, só falta na Luz uma coisa: o seu cérebro. Tenha sido falta de elegância ou a arrogância desmesurada que tão bem carateriza Jesus, porventura o técnico leonino tocou naquela ferida que levanta uma das questões mais pertinentes para o início da nova época: como será o Benfica sem Jesus? Será que finalmente iremos perceber se foi a estrutura do Benfica que fez mais por Jesus ou Jesus a fazer mais pela estrutura do Benfica?

Tudo resumido, parece-me óbvio que é num espírito de poker que a nova temporada se inicia. Refiro-me ao poker pois este “all-in” em que os três grandes entram para a época que começa acaba por ser a primeira pedra na engrenagem daqueles que acham que o FC Porto está absolutamente obrigado a ganhar o campeonato. Como adepto exigente, é óbvio que os portistas têm a obrigação de ganhar. Mas essa é uma premissa que não é de hoje, até porque a história do clube a assim o obriga. E se em relação à questão dos treinadores estamos conversados – assim Lopetegui tenha aprendido com os erros -, a outra falácia que se conta é a do “todo poderoso” plantel portista. Bom, a última temporada trouxe um novo paradigma à realidade portista: sem meias medidas, percebeu-se que Lopetegui procurou, desde cedo, funcionar como um verdadeiro manager no que a contratações diz respeito. Basta aliás olhar para o plantel da época transata para perceber que, como não poderia deixar de ser, muitos dos nomes que ali pairavam tinham o dedo de Lopetegui. Ainda assim, com um dos melhores plantéis da história portista, o treinador espanhol não conseguiu ser campeão. Por muitos erros próprios e por algumas interferências alheias, a verdade é que o principal objetivo portista não foi conseguido. Para alguns, e tendo em conta o investimento que se havia feito, a saída de Lopetegui era um ato natural. Pinto da Costa teve opinião contrária e acabou por não deixar cair uma das opções mais pessoais que teve enquanto presidente do clube.

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Lopetegui terá esta temporada um teste de fogo
Fonte: desporto.sapo.pt

A questão, e é tudo menos um pormenor, prende-se então com as armas que o treinador espanhol terá ao seu dispor para a nova época. Assim de uma assentada, rapidamente se chega à conclusão de que “revolução” é porventura o melhor termo para caraterizar o plantel portista. Do onze base da época passada, saíram nada mais nada menos que cinco titulares: Fabiano, Danilo, Casemiro, Oliver Torres e Jackson Martinez. Meia equipa titular abandonou o Dragão, fazendo do reforço do plantel uma obrigação imediata tais são os desafios com que a equipa de depara. No que a entradas diz respeito, já foram dez, entre regressos à casa mãe, contratações a custo zero e outras oportunidades de negócio inesperadas e tão bem aproveitadas. Contudo – mais do que analisar o “efeito Casillas” ao nível da publicidade que o clube terá no estrangeiro ou a contratação milionária de Imbula – aquilo que me parece realmente importante de ser analisado é o estado atual do plantel.

Relativamente a este ponto, e apesar de considerar que contratações como as de Casillas, Maxi, Danilo Pereira, Imbula, Sérgio Oliveira e Osvaldo serão muito boas mais valias ao longo da época, a verdade é que me parece óbvio que o FC Porto, tal como os dois rivais, parte quase do zero para a nova temporada. Apesar de manter o treinador e as rotinas que com ele estão já na equipa, não é possível dissociar a falta e a importância que nomes como os de Danilo, Oliver ou Jackson tiveram na última época portista. De forma simples, estes eram os jogadores de “nível acrescentado”, que davam à equipa um nível superior e que desbloqueavam jogos com a qualidade inegável que demonstravam. Apesar de considerar Maxi um jogador interessante para a realidade portuguesa, ele não tem nem nunca terá a qualidade de Danilo. Apesar de considerar Osvaldo e Aboubakar dois avançados de bom nível, nenhum deles sequer se aproxima da qualidade de Jackson Martinez. Bem sei que encontrar jogadores com a qualidade dos internacionais brasileiro e colombiano não é uma tarefa fácil. Também por isso é que não deixo de achar engraçadas todas aquelas falácias que apontam o FC Porto como o candidato mais forte à conquista do título nacional.

Desculpem-me os portistas mas, apesar de achar o plantel portista um plantel com qualidade – falta ainda um médio criativo e um central – a verdade é que, olhando para o plantel atual, não vejo essa “inegável” superioridade que todos veem. Digo isto não por desconfiar das contratações desta época mas sim por ver a diferença para com os jogadores que saíram. A meu ver, e oxalá eu esteja enganado, na diferença entre o deve e o haver, o FC Porto fica claramente a perder. E isto não por culpa da direção portista mas sim pelas leis do mercado que obrigam a deixar sair os melhores. Dito isto, parece-me óbvio que, por todas as condicionantes que cada um dos três grandes tem, nenhum sai à frente dos outros para o arranque da temporada. Seja pela mudança de treinador, pela mudança de estilo ou pela mudança de plantel, todos eles têm virtudes e defeitos antes do início da nova temporada. Por isso, espero que as “luzes da ribalta” que pairaram sobre alguns portistas acalmem e que acordem para a realidade dos factos. A realidade que demonstra que o FC Porto perdeu muitos titulares e que por isso precisa de refazer uma equipa. Lopetegui já o disse e creio ser importante que os adeptos também o percebam. É que, por muito que ver Casillas ou Imbula aterrarem no Dragão seja um motivo de histeria geral, isso não apaga a necessidade de criar uma equipa quase do zero. E isto não é arranjar desculpas prévias para uma possível fracasso. É ser realista, algo que falta e muito às mentes dos adeptos por alturas de pré época.

Foto de capa: fcporto.pt

O meu cérebro é melhor do que o teu

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Não há como fugir. Um Benfica-Sporting é um Benfica-Sporting. Em Lisboa, no Algarve e em qualquer sítio do planeta com relva, duas balizas e adeptos. Muito menos pode haver conversa fiada. Um Benfica-Sporting eleva a rivalidade para patamares que só benfiquistas e sportinguistas conhecem: há familiares que se zangam, amigos que dizem mais do que deviam, há gozo e sobranceria durante semanas a fio. A ideia de que “é só um jogo”, de que é um troféu com relativa importância – muita para quem o ganha, pouca para quem o vê fugir, é claro – não tem qualquer cabimento aqui.

A travessia da 2.ª Circular feita por Jorge Jesus tem, para além de muitas outras consequências, o condão de fazer efervescer de novo o eterno dérbi lisboeta. Muito por culpa do salto competitivo do Benfica nos últimos anos (para o qual o agora treinador do Sporting muito contribuiu), o qual o clube de Alvalade não conseguiu acompanhar, o ódio e a guerra do Benfica-Porto tomaram conta do primeiro plano no futebol por cá. De há uns anos para cá, regra geral, um Benfica-Sporting, não sendo apenas mais um jogo, era como que uma formalidade para confirmar a evidente superioridade do vermelho sobre o verde.

As atenções estão viradas para estes dois homens Fonte: Facebook do Benfica
As atenções estão viradas para estes dois homens
Fonte: Facebook do Benfica

Analisando todo o contexto, o jogo de hoje reveste-se de capital importância para os dois lados. O balão de confiança e arrogância com que Jorge Jesus e o Sporting aqui chegam pode ser esvaziado se forem para casa de mãos a abanar. Não admira esta postura, já que é exactamente a mesma que muitos reparos merecera durante a sua estadia na Luz. Muito menos admira o balão de confiança e boa-disposição que navega pela atmosfera do leão. A pré-época é, de há tempos para cá, a única altura do ano em que os sportinguistas podem fazer planos a longo prazo de maravilhosas e tituladas épocas.

A ilusão da pré-época costuma estender-se até ao Natal e a partir daí acabou e até para o ano. Acreditam os sportinguistas que com Jorge Jesus será forçosamente diferente. Eu também acredito. Sempre fui confesso fã do treinador bicampeão nacional e não duvido de que será capaz de colocar o Sporting a lutar novamente por títulos. O sangue que Jesus quis trazer para o jogo através do vital órgão do ser humano não teve resposta. E ainda bem. Além da deselegância para com Rui Vitória, também Marco Silva entra nesta equação. Se Jesus diz que mudou tudo desde a sua chegada a Alvalade é porque tudo o que Marco Silva construiu estava errado. E não me parece que as coisas sejam bem assim.

Rui Vitória chega aqui algo fragilizado. A frouxa imagem que o Benfica deixou na digressão americanizada não traz a confiança que um jogo desta dimensão sempre requer. Há as desculpas do clima, da altitude, das reduzidas condições de treino. Das baixas de Maxi, de Salvio e de Lima. Tudo isso se aceita, sim. Não se aceita é que fazer cinco passes seguidos tenha sido tarefa hercúlea em grande parte dos jogos de preparação. Principalmente numa equipa estruturada – e bem – ao longo de várias épocas. No entanto, lembremo-nos, pois, de que, hoje por hoje, é o Benfica que é bicampeão nacional e a mais forte equipa portuguesa.

Pelo que deu hoje a parecer, o discurso desgarrado e assente em lugares-comuns foi deixado para trás para assumir uma postura mais agressiva e directa. Positivamente agressiva, claro. Deixar Jesus a falar sozinho foi o melhor que o treinador do Benfica podia ter feito. Veremos com que efeitos em campo. Porque é aí que os Benfica-Sporting se jogaram, se jogam e se jogarão eternamente.

Foto de capa: Página de facebook “Ontem vi-te no Estádio da Luz”

FC Porto 0-0 Nápoles: Que não seja apenas um prenúncio

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Tal como na época passada, novo nulo na apresentação dos dragões aos seus sócios. Em 2014/2015 diante do St. Etienne, hoje frente ao Napoli. Antes do futebol propriamente dito, uma nota prévia: Adrián Lopez não foi apresentado e está, por isso, fora do plantel do FC Porto para 2015/2016, contrariamente a José Angel ou Hernâni. A festa pré-jogo contou com dragões, espadas e Lopetegui a formular um único desejo para a nova temporada: vencer!

Pois bem. Vencer foi algo que não aconteceu na noite do Dragão. Está longe de ser o mais importante nesta fase, é certo, mas um tónico desses nunca é desprezível. Para enfrentar os italianos, Cissokho foi titular, Herrera também jogou de início, ao lado de Imbula e Rúben, e Varela ganhou a corrida a Tello por um lugar inicial. O futebol apresentado pelo FC Porto não variou muito do habitual: muita posse de bola (e pressão quando sem ela), domínio do jogo (mas nem sempre controlo), exploração dos corredores laterais mas pouca objectividade e ainda menor propensão para o remate. E quando ele surgiu, nunca veio acompanhado da devida eficácia.

Viram-se algumas (não muitas) coisas diferentes, sem dúvida. De facto, pela primeira vez no reinado de Lopetegui, assistiu-se a um lance de bola parada estudado: Varela protagonizou-o e Marcano cabeceou pouco ao lado. (A)notou-se também a pressão (alta) constante do FC Porto  exercida logo na primeira fase de construção do Napoli, algumas das vezes numa forma geométrica interessante, com o recuo de Aboubakar (tampão à construção pela zona central) e com a subida dos dois extremos para junto dos centrais adversários, formando um (momentâneo) 4-4-2 losango.

Quanto aos reforços, Cissokho foi rei e senhor do lado esquerdo nos primeiros 20’, afirmando-se como uma locomotiva no transporte de bola (acabou por sair lesionado aos 39’ numa fase em que já estava a perder rendimento); Imbula é um monstro do meio-campo, a perfeita personificação de um box-to-box com poderio físico, passada larga mas semelhantes índices de qualidade técnica; Maxi já se apresentou próximo dos seus níveis habituais, com muito envolvimento no ataque (combina bem com Varela); Casillas apenas foi chamado a ir ao chão uma vez, sendo que foi muito mais interventivo com os pés, capitulo onde esteve melhor do que o habitual; por fim, Varela apresentou-se muito bem, sem se esconder ao jogo, sempre disponível, forte no 1×1, a chegar à linha e com critério na tomada de decisão – parece, assim, o velho Silvestre.

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Cissokho foi titular no titular no regresso ao Dragão
Fonte: fcporto.pt

A primeira parte ficou sobretudo marcada pelas lesões de Brahimi aos 15’ (entrou Tello) e de Cissokho (foi rendido por Angel) e por quatro oportunidades de golo. A primeira pertenceu a Mertens com um remate para defesa intranquila de Casillas. Todas as restantes três caíram para o lado do dragão: Herrera, completamente sozinho na área, foi docilmente servido por Maxi mas o mexicano, mesmo com espaço, limitou-se a cabecear a bola ao lado; aos 37’, foi Varela que protagonizou um grande lance individual, defeituosamente concluído por Tello; e finalmente ao cair do pano da primeira parte, na primeira vez em que teve espaço, Aboubakar sentou o central contrário mas o remate saiu muito frouxe, tudo isto depois de um belo passe de Maxi.

O intervalo trouxe consigo inúmeras substituições: saíram Casillas, Marcano, Rúben, Herrera e Varela, entrando, para os seus lugares, Helton, Indi, Danilo, André André e Bueno. O espanhol foi vítima de (mais) uma invenção do seu treinador, tendo sido colocado a jogar a partir de uma ala procurando movimentos interiores sem bola, na tentativa de dar outro tipo de soluções no último terço. A questão é que Bueno procurou sempre esses movimentos, deixando a equipa um pouco coxa com bola (mesmo descontando que Angel até foi expedito no capitulo ofensivo, ainda que nem sempre eficaz) e desequilibrada quando sem ela, uma vez que o ex-Rayo Vallecano não tem rotinas de acompanhamento do adversário. Em suma, em teoria a ideia até pode ser boa – finalmente surgir alguém a ocupar o espaço entre a linha média e defensiva contrárias mas Bueno é um jogador pouco explosivo e ágil, que deve ‘limitar-se’ a habitar sempre os espaços interiores (tem um timing de último passe fora do comum) e não esperar-se que ele vá lá chegar, tal como faz Brahimi com bola, por exemplo – mas o resultado prático bem pode ser uma versão actualizada de Ádrian Lopez, também ele mais vítima do que réu enquanto foi dragão.

A 2ª parte revelou ainda um André André com grande pulmão, enorme resiliência e espirito de luta. Aliado a isso, apresentou um enorme discernimento e capacidade técnica, com transporte de bola e saída de qualidade. Coincidência ou não, o Porto surgiu mais ligado, com um jogo mais impositivo mas sempre sem conseguir uma penetração assídua, ainda que os melhores momentos tenham sido protagonizados por Bueno e André André (sempre bem acompanhados por Aboubakar). Por outro lado, Danilo revelou-se algo lento – terá de ser mais rápido na rotação quando recebe de costas, sob pena de colocar sempre em risco a posse de bola numa zona delicada.

Aos 60’ nova tripla substituição: saíram Maxi, Imbula e Aboubakar, por troca com Ricardo, Sérgio Oliveira e Osvaldo. Nenhum dos três veio trazer nada em especial ao jogo. O primeiro tem apetências ofensivas mas continua a comprometer em termos defensivos, designadamente com um posicionamento deficiente. Osvaldo, por seu turno, está ainda muito alheado do que é o jogar deste Porto – o que é natural – e isso foi visível sobretudo no momento em que a equipa estava à espera que fosse o #10 portista a empreender a primeira fase de pressão.

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A força de Imbula
Fonte: fcporto.pt

Certo é que o italo-argentino até poderia ter mesmo facturado caso Tello não tivesse definido mal (há coisas que não mudam …) um lance muito favorável ao ataque portista (de assinalar o grande passe de André André a lançar o espanhol). Por fim, aos 83′ acabou por sair Maicon e entrar Lichnovsky. O chileno foi o último dos dragões a ser lançado, o que significa que Evandro e André Silva não foram opções.

Em suma, tratou-se de um teste de nível considerável para o FC Porto, até porque este Napoli vai dar que falar. A equipa de Sarri (que fez um grande trabalho no Empoli) tem já uma organização defensiva de grande categoria, com excelentes coberturas e qualidade na ocupação dos espaços. Está ainda um pouco debilitada em termos ofensivos mas é de crer que o potencial que os napolitanos aparentam em breve se comece a traduzir materialmente. No Dragão o 0-0 subsistiu até final. Que, ao contrário da época passada, não seja o prenúncio para o que aí vem.

A Figura
Público do Dragão – Se dúvidas houvesse, ficaram dissipadas. Estiveram 48 mil almas no Dragão, ávidas de vitórias e com amnésia do vazio que foi a época passada. As gargantas estão renovadas mas esperançosas: Lopetegui sabe que, desta vez, nenhuma desculpa lhe vai valer.

O Fora-de-Jogo
Incapacidade portista – Já esteve pior mas o futebol portista continua a ser carente de determinados aspectos. São eles: invasão do espaço central com colocação de homens entre as linhas; criação de jogo interior fluído e objectivo (Imbula veio atenuar); tentativa de meia-distância; aproveitamento de bolas paradas ofensivas (designadamente cantos). Há espaço para melhorar – resta saber se Lopetegui já percebeu e se tem capacidade (vulgo se é a sua ideia de jogo) para tornar a sua equipa realmente mais completa.

 Foto de capa: fcporto.pt

Volta a Portugal’15: Não há quem tire Gustavo Veloso do 1.º lugar

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Cabec¦ºalho ciclismo

Falta a última etapa (que terminará na capital do nosso país) mas, como essa é de consagração, é possível afirmar que o espanhol Gustavo Veloso é novamente o vencedor da Volta a Portugal! Depois de alguns problemas na Torre, no ano passado, este ano dominou completamente a corrida e conseguiu chegar ao contrarrelógio em posição mais do que segura para ficar no 1.º lugar. A verdade é que, não só segurou da melhor forma a camisola amarela, como ainda acabou por aumentar a vantagem, visto que venceu o próprio CR – mais à frente falarei melhor dessa etapa em específico. Uma Volta inesquecível para o espanhol da W52-Quinta da Lixa (os virtuais vencedores da classificação por equipas).

Na minha última “atualização”, tinha ficado pela quinta etapa. Portanto, avançando, a sexta etapa foi decidida ao sprint e com a vitória a sorrir, oficiosamente, a José Gonçalves. Digo oficiosamente porque o ciclista português foi desclassificado por uma irregularidade, e a vitória, oficialmente, foi para o 2.º classificado da etapa… pois claro, Gustavo Veloso. Grande ataque de José e, nos metros finais, houve uma aproximação entre ele e o líder da Volta, sendo que houve um desvio na trajetória do português e foi um pouco para cima do espanhol (de qualquer das formas, Gustavo nem protestou ao passar a meta). Não sei se terá sido a decisão mais correta, porque deveriam ter analisado todas as circunstâncias melhor. Mas a decisão foi tomada e não foi alterada. Mais bonificações nessa etapa para Délio (com o 3.º lugar), sendo que Ricardo Vilela e António Carvalho foram alguns dos homens que caíram nessa etapa mas, como a queda se deu dentro dos três quilómetros, não sofreram alterações no seu tempo na classificação geral.

Veio o dia de pausa e com isso uma boa oportunidade para descansarem do que se passou nalgumas etapas mais exigentes (como a da Senhora da Graça) e recuperarem para a etapa do dia seguinte, que seria a mítica subida à Torre na Serra.

Chegada a sétima etapa e o dia pelo qual muitos portugueses e todos os ciclistas ansiavam, era normal a tentativa de vários ciclistas serem protagonistas da jornada, mas foram os “dois do costume” a sair por cima no final da subida, sendo que Délio Fernandez voltou a vencer uma etapa e Gustavo Veloso conseguiu novamente segundos de bonificação importantes. Um dos destaques do dia foi mesmo o domínio da equipa W52-Quinta da Lixa. Chegaram a ter seis homens na subida final e conseguiram ter cinco no top12 final da etapa, incrível. Depois dos dois homens mais fortes da W52, chegaram os dois mais fortes da EfapelJoni Brandão e Alejandro Marque (pelo meio, também chegou Marcos Garcia, da equipa Louletano). O português Rui Sousa foi dos que mais tentaram vencer esta etapa – ele gosta imenso desta subida – mas desta vez não a conseguiu ganhar. As desilusões do dia (e da própria Volta a Portugal) foram os dois Ricardos: Mestre e Vilela. Perderam cedo o contacto com o pelotão e levaram da etapa cerca de nove e oito minutos, respetivamente, de perda para a frente da corrida. Acrescento que a subida é realmente desgastante, como se podia comprovar pelos ciclistas no final do dia – a maioria chegou completamente exausta. Para terminar, acho que poderia ter sido um dia mais espetacular do que o que foi. Apesar de não ter sido uma má etapa, não tenho quaisquer dúvidas em considerar que a etapa da Senhora da Graça foi a melhor desta Volta a Portugal 2015.

 

Délio Fernandez celebra com o seu colega Gustavo Veloso a vitória na Torre e a “dobradinha” da equipa nessa jornada Fonte: Facebook da Volta a Portugal
Délio Fernandez celebra com o seu colega Gustavo Veloso a vitória na Torre e a “dobradinha” da equipa nessa jornada. Fonte: Facebook da Volta a Portugal

Na oitava etapa tivemos o já mencionado contrarrelógio. Mais uma vitória para o espanhol Gustavo Veloso, virtual vencedor deste ano da Volta a Portugal! Não venceu o prólogo (esteve bem perto), mas venceu este CR mais longo de forma justa e “dizimou” a concorrência nesta penúltima etapa. A maior surpresa do dia foi mesmo o facto de Joni Brandão, não só ter-se mantido no pódio, como também ter conseguido chegar ao 2.º lugar, algo inesperado mas expectável depois do que se sucedeu com Délio Fernandez a meio do CR – avaria na bicicleta, sendo que perdeu uns 20 segundos só devido a esse momento (o resto dos segundos foram acrescentados pela possível desmotivação depois desse acontecimento). Enorme azar para o espanhol, que não merecia isto – foi responsável pela maior ajuda a Veloso e teve realmente uma grande prestação em toda esta Volta a Portugal. Beneficiou o português, que acabou por conseguir chegar, de forma imprevisível, à vice-liderança. Alejandro Marque, apesar de um CR aquém do que pode e deve fazer, também aproveitou isso e subiu ao pódio.

Destaco o enorme contrarrelógio por parte de José Gonçalves (2.º classificado na etapa), que, depois disto, acredito que tenha selado completamente a sua inscrição na Vuelta – será justíssimo que assim aconteça, já que foi o ciclista mais ativo de toda a Volta a Portugal. Rafael Reis, o 4.º classificado nos Mundiais de CR (sub23) do ano passado, foi 3.º classificado e redimiu-se do que lhe aconteceu no prólogo. Ricardo Mestre foi 4.º na etapa mas, apesar da boa imagem deixada neste CR, não consegue apagar a desilusão que foi o resto da sua Volta a Portugal. Rui Sousa, no alto dos seus 39 anos, conseguiu um muito bom 5.º lugar na etapa e, também, na classificação geral individual final. Mais uma boa Volta a Portugal para o ciclista da Rádio Popular Onda Boavista (poderá ter sido a sua última participação nesta prova).

Este domingo temos a última etapa desta nossa Volta a Portugal 2015 e a última oportunidade para os sprinters brilharem. A chegada a Lisboa proporcionará, em princípio, a luta final entre os mais rápidos deste pelotão. Resta saber quem sairá vencedor da etapa, porque a classificação geral está fechada e iremos ter Gustavo Veloso a subir ao pódio para vestir, por uma última vez, a camisola amarela – a camisola do grande vencedor da Grandíssima!

Foto de capa: Facebook da Volta a Portugal

A estratégia das contratações

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tinta azul em fundo brando pedro nuno silva

A análise a erros cometidos no passado é crucial em qualquer equipa mas perceber o que correu mal e ajustar o plantel não é tão fácil quanto possa parecer. O Porto apresenta uma estratégia de contratações diferente da do passado, apostando em jogadores emprestados e contratando jogadores experientes com provas dadas. É a busca pelo imediato, pela vitória urgente que teima em não chegar.

Contratações como Casillas, Maxi, Osvaldo, Cissokho revelam que a o clube procura jogadores com experiência que não precisem de tempo para crescer na Europa. Mesmo Imbula e Danilo Pereira – ainda bastante jovens – já têm experiência suficiente para entrar a titulares (como provavelmente o farão) na equipa portista. Parece-me então que buscamos algo que faltou nas épocas anteriores e que fui referindo várias vezes – responsabilidade. A responsabilidade passa por perceber as consequências da falta de resultados, por ter sentido de jogo sabendo quando e o que fazer e, acima de tudo, não claudicar nos momentos-chave, tal como fizemos na Madeira e em Lisboa na época transata.

Espero ver então um Porto mais matreiro, sem a ingenuidade que muitas vezes demonstrou. Até ver, parece que vamos ter uma equipa sólida, faltando ainda um criativo para encontrar espaços em estádios onde as defesas serão muralhas. Não vai ser um campeonato fácil e, até final de Agosto, vão fazer-se ainda muitos negócios – principalmente os nossos adversários directos. Mais uma vez apela-se à responsabilidade dos jogadores para encarar todos os jogos como cruciais – os campeonatos ganham-se em Agosto e Setembro quando a perda de pontos parece inconsequente.

O lado negativo destes negócios tem que ver com o balneário e o retorno financeiro que o Porto poderá ter. Não é fácil lidar com egos grandes; cabe a Lopetegui e aos mais maduros gerir a topo do balneário e apontar para o grande objectivo – vitória jogo a jogo (a curto prazo) e vitória do campeonato (a longo prazo).

Jogadores na casa dos 30 ou jogadores emprestados não garantem encaixe financeiro como jogadores ainda “por fazer”. Mas a estratégia passa agora pelo sucesso desportivo primeiro e financeiro depois. De resto, ainda há jóias que podem evoluir e mais tarde ser vendidas para garantir os indispensáveis euros. A única dúvida que fica é a percentagem dos passes de alguns jogadores possuída pelos Dragões, já que se tem valido da Doyen para fazer alguns negócios mais dispendiosos. Mas isso são contas para outra altura.

Os dados estão lançados, a tolerância é zero. Com grande poder vem uma grande responsabilidade e os olhos estão postos em Julen Lopetegui. Os portistas perdoaram uma, certamente não irão perdoar duas!

Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

Supertaça: Quando um dérbi é um mini-campeonato

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Já quase ninguém se lembrará das anteriores edições da Supertaça em quem SL Benfica e Sporting CP se encontraram. Tal ocorreu apenas duas vezes e já na há muito ida década de 80 do século passado. É verdade: apenas em 1980 e em 1987 os dois grandes rivais de Lisboa disputaram o troféu que tem o nome de Cândido de Oliveira, competição que foi instituída em 1979. Ora, este facto histórico vem acentuar ainda mais a importância e a atenção que se dedicará ao jogo deste fim-de-semana, que, sendo um dérbi, é também um jogo que valerá um título. Mas, como é óbvio, é a mudança de Jorge Jesus para o banco do lado oposto, após seis anos de banco a vermelho e branco, que está a potenciar ainda mais o carácter especialíssimo que os jogos entre os vizinhos e rivais sempre têm. É a partir daí que tudo o que aconteceu na chamada pré-época ganhou importância capital, sendo cada decisão, jogo e palavras escalpelizado ao detalhe.

Uma das análises mais recorrentes na antecâmara deste jogo tem sido a tentativa de determinar qual das equipas detém vantagem sobre a adversária, em função dos jogos realizados, contabilizando-se os resultados e a respectivas exibições. Ora, se atendermos à disparidade do que foram quer o número de jogos quer o dos adversários, depressa se conclui que chegar a uma conclusão pode ser pelo menos precipitado. Há, porém, dois dados que se podem retirar, acima de qualquer contestação: que  o SL Benfica não conseguiu estar à altura da responsabilidade e exigência que os adversários que defrontou lhe colocaram, e que é de duvidar as opções tomadas de forma quase transversal – as aquisições e as dispensas, o próprio modelo de pré-época, até lançar a pior das dúvidas: foi o treinador a escolha certa? Convenhamos que tal está longe de ser o espírito ideal para se enfrentar um dérbi e até mesmo iniciar uma época.

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Jorge Jesus vai reencontrar a sua antiga equipa
Fonte: vavel.com

O Sporting encontra-se num momento oposto. Há ainda no ar muita da euforia que, justificadamente, se viveu desde o momento em que se confirmou a chegada de Jorge Jesus. Os resultados da pré-época, que, pela qualidade e número dos adversários, não justificam alguns optimismos excessivos, deram indicações positivas e permitem vislumbrar uma melhoria competitiva significativa face até mesmo ao passado recente. Aqui, sim, parece clara uma supremacia evidente de estados de ânimo. Porém, esta só permanecerá até ao início do jogo. No decurso dele, esta vantagem só prevalecerá se os acontecimentos tiverem um rumo favorável, sendo rapidamente anulada se o oposto suceder.

É por isso que se dedica tanta importância ao título em disputa: além da elevada carga emocional e sentimentos exacerbados que um dérbi carrega, há, de forma muito evidente, um carácter de derradeiro teste de aferição de valor de cada uma das equipas. Neste dirimir de forças colectivo sobressairá certamente uma disputa muito particular, que, por razões óbvias, concitará todas as atenções: a que envolverá os dois treinadores. Ingredientes não faltam para tornar este próximo dérbi no jogo de todos os jogos. Porque é claro para todos que não se joga apenas um título e a possibilidade de ficar bonito na fotografia a erguer um troféu. Está em causa, como em todas as disputas directas, a possibilidade de ganhar vantagem sobre um rival, deixando-o entregue à dolorosa tarefa de lamber as feridas.