Duas vezes campeã olímpica. Campeã do mundo. Melhor jogadora do mundo dois anos consecutivos. Segunda jogadora de sempre (homem ou mulher) a marcar um hat-trick numa final de um campeonato do mundo. 240 jogos pela selecção dos Estados Unidos. 90 golos. Ladies and gentleman, Carli Lloyd.
Ainda é complicado – para alguns – imaginar que todos os títulos referidos no parágrafo acima são de uma mulher. Mas é verdade. A actual capitã da selecção americana de futebol feminino já tem o nome escrito nas páginas da história. Com 35 anos, Carli Lloyd é uma das melhores de sempre.
Nasceu em New Jersey. Nunca quis brincar com as meninas e intrometia-se no meio dos rapazes para poder jogar à bola. Começou a jogar mais a sério no liceu e nunca mais passou despercebida: ganhou prémios atrás de prémios, desde jogadora do ano a melhor médio-centro do país. Continuou a jogar na universidade e foi considerada a melhor atleta do ano na Rutgers University por quatro anos consecutivos – a primeira aluna a conseguir este feito.
Fez toda a carreira nos Estados Unidos e nunca precisou de grande alarido para se tornar a instituição que é hoje. Partilhou o relvado com muitas caras mais conhecidas do público, jogadoras que se tornaram uma referência do futebol feminino: Alex Morgan, Abby Wambach ou Hope Solo, por exemplo. Passou muitos anos atrás das camisolas mais famosas e demorou a atingir o estatuto de estrela. Até ao dia em que tudo mudou.
No dia 5 de Julho de 2015, os Estados Unidos defrontavam o Japão na final do Campeonato do Mundo de futebol feminino, no Canadá. Lloyd era a capitã de equipa, a líder, e tinha feito uma fase final absolutamente brilhante. Mas as coisas iam melhorar. Em 16 minutos, Lloyd marcou três golos. Um deles da linha do meio-campo. Este terceiro golo foi considerado pela Reuters “um dos golos mais incríveis alguma vez visto num Campeonato do Mundo”. Valeu-lhe a nomeação para o Prémio Puskas. Para além disso, foi considerada a melhor jogadora do torneio e levou para casa a Bota de Prata (tinha os mesmo golos de Celia Sasic, mas a alemã jogou menos minutos e ficou com o primeiro prémio.)
A partir deste dia, o nome Carli Lloyd nunca mais vai ser esquecido. E eu, que fiquei acordada até de madrugada para ver aquele jogo, nunca me vou esquecer da vitória dos EUA por 5-2 e da exibição da n.º 10.
Lloyd joga actualmente no Houston Dash e esteve emprestada ao Manchester City de Fevereiro a Junho (onde ganhou uma Taça de Inglaterra.) No fim da passagem por terras de Sua Majestade, disse que gostava de voltar e tentar ganhar a Liga dos Campeões. Aos 35 anos, as chances já não são muitas. Mas era uma prenda para os fãs de futebol feminino no mundo inteiro – Lloyd merece estar numa equipa que participe nas competições europeias e, acima de tudo, merece juntar uma dessas competições ao seu palmarés.
Escreveu um livro, em 2016, a que deu o nome “When nobody was watching”. Porque when nobody was watching, ultrapassou as críticas que diziam que perdia muitas bolas e tornou-se uma jogadora cheia de segurança. Porque when nobody was watching, intrometeu-se no meio de Morgan e Wambach e tornou-se a jogadora mais popular da selecção norte-americana. E porque when nobody was watching, tornou-se na melhor jogadora de futebol do mundo.
Foto de Capa: Facebook Oficial de Carli Lloyd