Lamento, o futebol não gera extraordinárias respostas emocionais

    Os fãs do futebol devem protegê-lo, antes mesmo de proteger o seu clube, porque só assim estarão a zelar pelo futuro dos dois. Não consigo deixar de sentir que todo este tempo longe do estádio foi um bocadinho a prova do nosso veneno. Nós provamos do nosso veneno de cada vez que não conseguimos despir a camisola e defendemos coisas como: “foi para aquele sector estava à espera do quê?” (Sim, eu também já o disse). Na verdade, este pensamento não anda muito longe da tão antiga teoria das calças justas ou dos decotes: “Foi com aquela roupa e estava à espera de que não a apalpassem?”. Coisa estranha esta de pedir que as pessoas cumpram as regras que regulam a vida do ser humano em sociedade, independentemente do sítio onde estão ou do que trazem vestido.

    Reparem, com isto não estou a dizer que é aceitável alguém numa bancada incitar ou provocar chamando nomes a quem os rodeia ou com atitudes do género. Não é. Pode até ser também criminoso. Mas o que é provocar?

    Se levar a minha mãe ao estádio e ela vestir cores diferentes das minhas, temos de ir para sectores diferentes e aceitar a possibilidade de uma agressão? Podemos ficar juntas e aceitar que nos atemorizem?

    Se deixarmos os cachecóis ou camisolas dos clubes em casa, terei de lhe pôr fita cola na boca porque instintivamente grita golo ou diz “ai ai” de cada vez que a bola passa a uns metros da baliza? O que é provocar? O conceito de provocação muda a cada jornada mediante a cor?

    Fonte: Sebastião Rôxo / Bola na Rede

    Em 32 anos fui duas vezes com a minha mãe ao estádio. Cada vez tenho mais dificuldade em argumentar com pessoas que legitimamente não conseguem perceber todo o investimento público que se faz no futebol, agarrando-se às inúmeras situações infelizes que acontecem nos estádios ou à sua volta.

    Por tudo isto e porque somos nós que habitamos o estádio, que o vivemos e sentimos com tudo o que de bom e mau tem para oferecer, sinto que temos também de ser os primeiros a dar o passo. Os primeiros a dizer aos nossos colegas de bancada que não é ok o que está a acontecer. Os primeiros a exigir mais ao nosso clube. Exigir que se posicionem. Não adianta fazerem campanhas incríveis contra o racismo ou a favor da igualdade, quando sistematicamente semeiam o ódio como forma de fidelizar adeptos. Não vão nessas conversas. Lembrem-se que quando pega fogo, os incendiários estão num qualquer sítio seguro a assistir, enquanto vocês têm de sair do estádio com os vossos filhos pelas mãos ou zelar pelos vossos pais ou amigos. Exigir de um clube é querer fazer dele melhor.

    Quando digo que temos de ser os primeiros, digo que temos de estar na fila da frente, não sozinhos. Clubes, entidades organizadoras de provas profissionais e não profissionais e governo têm obrigação de fazer mais e melhor. Atrevo-me a dizer que não há em Portugal nenhuma outra atividade desportiva, artística ou cultural que tenha a atenção mediática, social, política e económica que o futebol tem. A exigência tem de estar a par e lamento, está a anos-luz! Era bom também que estas entidades entendessem que críticas ou opiniões contrárias não são necessariamente um ataque, que é no diálogo entre todos que poderão surgir ações e soluções mais inclusivas, mais justas para todos.

    Comecei por dizer que não estava a tentar vestir o papel de reguladora de emoções. Quem me lê e ouve sabe que o futebol me comove, que o que mais me atrai é precisamente a sua capacidade de agregar pessoas, de criar boas memórias, o seu lado afetivo. Parece que este texto não passa então de uma grande contradição.

    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Quereremos nós adeptos a emoção como a principal estrela do jogo? Uma espécie de jogadora sem marcação capaz de atuar em qualquer parte do terreno, imune a foras de jogo? Ou quereremos impor-lhe limites? Se sim, quais serão os limites das “emoções do jogo”?

    Quanto um treinador, diretor ou qualquer outro elemento do banco, enceta uma competição de empurrões ou mesmo agressões ao ponto de ter de ser separado pelos seus jogadores e no fim do jogo diz: são as emoções do jogo, as pessoas têm de compreender.

    É aceitável?

    Quando um adepto atira objetos para o relvado ou uma pedra a um autocarro ou se envolve em confrontos com outros adeptos depois de um jogo e se justifica com: Estava muito nervoso. Deixei-me levar pela emoção do jogo.

    É aceitável?

    Quando uma mulher agride uma menor à saída de um café. Um dia depois pede desculpa dizendo: Desculpa lá, estava muito nervosa com o jogo de ontem. A partir de hoje se me vires na rua e precisares de alguma coisa, diz-me. (exemplo verídico)

    É aceitável?

    Conseguem perceber o ponto?

    Se constantemente dizemos que é normal, que tudo se deve à emoção, digam-me, onde é que param as emoções do jogo? Quem é que as regula?

    No fim do dia, lembrem-se que o futebol existe para nos divertir. Para ser um escape da monotonia dos dias. Para nos fazer sofrer um bocadinho também, é certo, mas para ser um sofrimento apaixonado que nos distrai de dores mais profundas.

    Disfrutemos e zelemos por ele.

    Artigo de opinião de Márcia Ribeiro Pacheco,
    atriz e produtora de conteúdos

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