4x3x3 ou 4x4x2?

    O Benfica acelera para a nova temporada, o plantel ganha forma e há poucos retoques a fazer. E em relação ao esquema tático, será que Rui Vitória vai manter o 4x3x3 com que terminou a época ou irá voltar ao 4x4x2?

    Antes de mais nada, é preciso perceber que o sistema tático não é o mais importante numa equipa. Já o escrevi aqui antes, o sistema é um dos vários aspetos do modelo de jogo que, para alguns, integra ainda outro parâmetro, a identidade da equipa. Ou seja, há um conjunto de variáveis numa equipa que faz com que o sistema tático seja o produto final de toda uma forma de estar e jogar. A identidade está relacionada com o incutir de uma mentalidade única aos jogadores, uma força ganhadora, uma matriz de jogo fiel aos seus princípios. Depois vem o modelo, que pode ser considerado como o comportamento dos jogadores em campo: como e para onde se movem, que soluções têm de dar ao colega, que tipo de opção tomam – recorrer ao chuto para a frente; cruzar ou ir por dentro; procurar tabelas, etc-, entre outros.

    Por fim, chega o sistema. Que é nada mais nada menos que o posicionamento “base” da equipa no campo. Um exemplo extremado daquilo que se pretende demonstrar é olhar para Mourinho e Guardiola. Ambos, desde o início da carreira, trabalham o 4x3x3 como sistema predileto. Apresentam três médios, um mais recuado e outros dois à frente, dois alas e um goleador (Guardiola colocou Messi como ‘falso’ nove no Barcelona mas antes teve Eto’o, chegou a ter Ibrahimovic, e no Bayern e Man City jogou com Lewandowski e Aguero/Gabriel Jesus, respetivamente). O modo de jogar, porém, é do mais antagónico que há. Mourinho prescinde da bola, Guardiola só quer saber dela. O sistema de jogo não é, então, determinante para se aferir a qualidade de jogo de uma equipa.

    O ano passado, Rui Vitória mudou o sistema com que havia trabalhado nas duas épocas anteriores e passou a contemplar apenas Jonas na frente, retirando o outro avançado e colocando mais um médio. A opinião geral foi a de que o Benfica potenciou o seu futebol e passou a ser uma equipa mais segura e mais criativa por causa dessa mudança.

    Mas o Benfica melhorou o seu futebol não por causa da alteração de sistema. Ou, melhor dizendo, não por isso, mas também por isso. O Benfica alavancou para melhores exibições porque Krovinovic entrou na equipa e porque Luisão saiu. Krovinovic mostrou criatividade, qualidade técnica e inteligência, atributos que faltavam à equipa e a saída de Luisão, que resultou na entrada de Rúben Dias, fez com que o Benfica passasse a defender de um modo mais arrojado.

    Esta ideia seria perceptível olhando para o comportamento da equipa em campo mas até se pode provar com resultados: quando Krovinovic se lesionou o Benfica perdeu pontos no jogo imediatamente a seguir. O croata, sozinho, trouxe coisas à equipa que antes não se havia visto.

    Esta temporada, mais do que sistemas, é inevitável olhar para o plantel para se perceber qual a melhor opção. O Benfica irá possivelmente encontrar em campo as mesmas dificuldades apresentadas desde que Rui Vitória chegou ao clube: encontrar soluções para quem do outro lado pressiona alto; ter mais variações de jogo diferentes de tabelas nas faixas; pressão coordenada e transição defensiva menos entregue a Fejsa. Por isso recomenda-se a Rui Vitória fazer aquilo que sabe fazer melhor desde que chegou: escolher o melhor onze. E se o melhor onze contemplar dois avançados e por consequência um 4x4x2 que assim seja. Ainda não se conhece verdadeiramente o valor de Ferreyra mas o currículo inspira confiança. O argentino foi o melhor marcador de uma equipa que chegou aos oitavos da Champions, e das que melhor jogou na Europa. Terá certamente qualidade para fazer parelha com o intocável Jonas.

    O currículo de Facundo Ferreyra impressiona. Chega para o Benfica voltar ao 4x4x2?
    Fonte: SL Benfica

    Este cenário faz com que um dos médios mais adiantados, Pizzi ou Zivkovic, tenha de cair. Ou então, pode significar o arrastamento do jovem sérvio para uma das alas, o seu território natural. Também pode ser considerada a saída de Pizzi, embora não concorde com esta premissa.

    O que Vitória pode seguramente fazer é mudar o sistema, isto é, voltar ao 4x4x2. Isso não vai influenciar a qualidade de jogo. O que influencia é o modelo e a capacidade dos intervenientes. Se no modelo Vitória já provou que não é mais do que banal, na escolha dos jogadores pode deixar os equívocos e meter os melhores: com Krovinovic demorou meia época; este ano, com Ferreyra, terá de demorar menos.

     

    Foto de Capa: SL Benfica

    Artigo revisto por: Beatriz Silva

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    Pedro Manuel Magalhães
    Pedro Manuel Magalhãeshttp://www.bolanarede.pt
    Mal sabia andar e já ia ao estádio ver os jogos do Gil Vicente, clube da terra natal. A paixão pelo relvado, pelos golos e pelas fintas, agarrou-se como uma doença e não mais saiu. Depois aprendeu a ler e a escrever e como não tirava más notas nas composições, aventurou-se na criação de blogues de bola. Mais tarde, na inconsciência dos seus dezoito, frequentou Ciências da Comunicação. Mantém vivo o sonho de ser jornalista desportivo, de derrubar chavões e fazer parte de uma nova era que pensa o futebol como um jogo para os criativos e inteligentes.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.