À mulher de César não basta querer, é preciso assumir

    eternamocidade

    A semana que agora termina foi possivelmente uma das mais difíceis em termos emocionais para o FC Porto. Penso que a melhor forma para sustentar esta argumentação se baseia na capacidade com que os adeptos portistas subiram ao céu e desceram à terra em breves momentos. Por outras palavras, para o universo portista, esta semana foi carregada de emoções: desde a vitória sofrida frente ao Arouca ao sorteio maldito da Liga dos Campeões, passando pela derrota do rival em Vila do Conde até ao empate amargo na Choupana.

    Assim de repente, os quatro argumentos acima descritos podiam dar origem a um filme brilhante de Manoel de Oliveira. Bem vistas as coisas, quem é que poderia arriscar há uma semana que o FC Porto iria ter tantas dificuldades para ganhar ao Arouca, que iria ter a “sorte” de apanhar a melhor equipa do mundo, de ver finalmente o rival perder pontos e de, mesmo assim, só conseguir aproveitar esse deslize de forma tão agridoce? Bom, os quatro argumentos da semana portista mostraram bem aquilo que é o futebol e a forma como os estados de espírito podem mudar num instante. Enquanto adepto, não me preocupou ir às redes sociais e ter visto, depois do sorteio da Liga dos Campeões, comentários a preverem uma sentença humilhante para o FC Porto na Champions ou mensagens de esperança de um apuramento épico para as meias finais. Enquanto adepto, não me preocupou, depois do desaire do Benfica em Vila do Conde, ver portistas a acharem que finalmente tinha sido dado o passo de que precisávamos para chegar ao primeiro lugar. Enquanto adepto, o que me preocupa é que estes estados de alma – encaixados de forma tão perfeita naquilo que representa ser um adepto – passem de uma forma tão irracional para uma equipa como a de Lopetegui.

    Não, não pense que venho para aqui com o argumento de que o FC Porto só empatou na Choupana porque soube do resultado do Benfica e por isso os jogadores acusaram a pressão. Desculpe-me o termo, mas a hipótese de sequer pensar que isso poderá ter acontecido, para mim, não passa de ficção. E infelizmente o digo. Aliás, o problema da equipa portista esta temporada tem sido completamente contrário a isso. Durante várias jornadas, com a equipa a ver o Benfica a não ceder, sinceramente nunca me pareceu que o FC Porto fosse a jogo mais pressionado por entrar a sete pontos da liderança. Talvez tenha sido impressão minha, mas sinceramente nunca me pareceu que esse fantasma tenha pairado nos jogadores. As sete vitórias seguidas para o campeonato – sem um único golo sofrido – e o apuramento brilhante para os quartos de final da Liga dos Campeões demonstravam uma equipa na plenitude dos seus recursos e ainda com muito para disputar até ao final da temporada.

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    O belo golo de Tello não apaga uma exibição fraca do FC Porto na Choupana
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Contudo, inexplicavelmente, os problemas que afetaram a equipa no primeiro terço da temporada voltaram a atacar na Madeira. Tal como já havia acontecido no Estoril, em Alvalade, no Bessa ou nos Barreiros, a falta de intensidade e dinâmica da equipa voltaram a aparecer. Esse sim é, no meu entender, o principal problema do FC Porto esta temporada. Mais do que andar ao sabor dos resultados que os adversários fazem, o que me parece é que a equipa tem dificuldades em ter um passo firme e seguro. Quando falamos numa prova de regularidade como é o campeonato nacional, a pedra fulcral para ser bem sucedido tem a ver com a sua capacidade de ser regular e consistente. Ao olhar para os portistas, dificilmente consigo encontrar essas caraterísticas que não apenas de forma momentânea.

    Como é que se explica que se façam exibições tão brilhantes, como contra Sporting e Basileia, e depois se façam jogos tão pobres, como frente a Marítimo e Nacional? Não estará a existir um foco excessivo na Liga dos Campeões, quando o campeonato deveria ser o objetivo mais importante, por ser o mais realista? Penso que é relativamente a esta última questão que reside um dos principais problemas da equipa ao longo da época. Se bem se recorda, caro leitor, na primeira volta o FC Porto perdeu pontos com Boavista e Estoril, depois de ter vencido Bate Borisov e Atlético de Bilbau, respetivamente. Esses foram apenas os dois exemplos mais flagrantes desta falta de regularidade e, sobretudo, de capacidade de treinador e jogadores terem bem presente aquilo que deve ser a prioridade da época portista: o campeonato.

    Bem sei que não devemos ter o pensamento provinciano de achar que a Champions é apenas uma competição para fazer “boa figura”; ainda assim, e porque considero que a racionalidade deve estar acima de tudo o resto, creio que tem sido pela falta de realismo que o FC Porto tem deixado fugir o pássaro que está mais à sua mão, ou seja, a Liga Portuguesa. De facto, ao olhar para os portistas e para o seu maior rival, o Benfica, cada vez mais fico com a sensação de que, se não acabarmos este campeonato em primeiro lugar, será muito mais por demérito nosso do que por mérito do adversário. Com esta expressão possivelmente estarei a ser injusto para com o nosso rival, mas esta é uma afirmação que sustento em virtude daquilo que tenho visto em alguns momentos e que sei que o FC Porto desta temporada pode fazer.

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    O sorteio da Champions ditou um confronto com o Bayern de Munique. 
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Para os mais otimistas, o empate na Choupana foi um “mal menor”, pois permitiu, ainda que de forma (algo) ilusória, considerar que, a partir de agora, só dependemos de nós próprios para chegar ao título. Sim, essa é uma afirmação verdadeira, mas considerar razoável uma vitória por pelo menos dois golos na Luz é uma hipótese utópica que o treinador e os jogadores não podem sequer considerar. Provavelmente não será essa a mensagem que sairá para fora, mas penso que está à vista de todos que ficar a um ou a três pontos do rival não é a mesma coisa. É claro que o mais provável é que, estando a um ou a três pontos de distância, teríamos sempre que ganhar na Luz. O problema é que agora não basta ganhar na Luz, é preciso fazê-lo com autoridade. E isto porque, como já aconteceu em outras ocasiões deste campeonato, fiquei com a impressão de que a cabeça dos jogadores estava bem longe do terreno de jogo.

    Enquanto portista, sempre soube que um plantel com tanta qualidade teria sempre os dois lados da moeda. Por um lado, era evidente que a qualidade de jogo iria aumentar, porque os artistas são significativamente melhores. Por outro lado, fiquei sempre com a impressão de que um dos principais riscos que o FC Porto corria ao ter tantos jogadores “com mercado” era o de, em vários momentos da temporada, perder o norte daquilo que verdadeiramente era importante para o clube: a conquista do campeonato. Com um treinador jovem, que se quer mostrar ao país de onde saiu, e com jogadores de inegável qualidade que querem voltar igualmente de onde vieram, para mim era óbvio que esta ilusão pela Champions, em detrimento do campeonato, podia acontecer. O meu medo é que, com o monstro Bayern a bater à porta, este deslumbramento ainda venha a ser pior. A cerca de dois meses de terminar a época, acho que o melhor seria mesmo alguém entrar no balneário e pôr a equipa com os pés na terra. Sonhar será sempre permitido, e o melhor sítio para o fazer é sem dúvida na Champions. Mas, por favor, não se esqueçam do ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Não deixem o campeonato fugir. Basta acreditarem que é possível. E, claro, sempre com racionalidade e cabeça.

    Foto de capa: Página de Facebook do FC Porto

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