Adrien Silva esteve impedido de jogar, fazer o que mais gosta. Provavelmente, pior do que uma lesão, já que aí não há mesmo nada a fazer, mas no âmbito em que decorreram as negociações entre Sporting e Leicester e o atraso das mesmas, problemas burocráticos (atraso de 14 segundos) ditaram a paragem competitiva de um jogador no pico das suas capacidades enquanto futebolista.
Tive a oportunidade de ver, há algumas semanas, a entrevista que deu à RTP1 e Adrien não considera de jeito algum a possibilidade de não ir ao Mundial da Rússia. Ano novo, existem sempre novos objetivos, novas metas, e juntando isto a uma fome de bola, que vão ser precisos muitos jogos para saciá-la. De Setembro a Janeiro treinou nos foxes, para no dia do jogo ir preparado não para a arena, mas para o camarote. Os colegas que sabes que podes ajudar, quando tens os meios para tal mas não podes. Com certeza não é algo fácil de lidar. Manter-se motivado e persistente até chegar o momento, momento esse que já se sucedeu.
Logo no primeiro dia do ano, Adrien foi chamado por Puel e entrou aos 86’. Pouco tempo em campo, bastante aplaudido aquando da sua entrada, mas esses aplausos não se ficaram por aí! Entrou e pegou logo na bola, esteve bastante interventivo, fez excelentes desarmes, deixou qualquer pessoa que o conheça e aprecie o seu trabalho orgulhoso e feliz! Ficou a certeza que será titular já no próximo jogo, que o meio campo do Leicester vai ficar melhor vigiado, e que é um elemento que fazia falta à equipa. Os adeptos já ficaram convencidos!
Esta situação faz-me lembrar um pouco o que aconteceu no nosso Europeu de 2016. Na fase de grupos, e antes nos jogos de preparação, Adrien não entrava no onze. Escolhas como João Moutinho, Wiliam e André Gomes, num plano tático 4-3-3, retiravam o ex-leão das escolhas iniciais. Não foi necessário a mudança desse plano, mesmo que tenha acontecido (para um 4-4-2), mas a inclusão de Adrien foi mesmo determinante em França. Um João Moutinho muito aquém, um André Gomes algo passivo, permitiram não só ao Adrien, mas também ao Renato marcarem presença, e ajudarem à existência do inédito troféu na nossa nação. Adrien tornou-se um jogador determinante, pois as suas características não são encontradas em muitos jogadores na nossa Seleção…
Box-to-box, porém ataca, defende, e sobretudo equilibra a equipa: pode pegar na bola em terrenos recuados e transportá-la, seja por passe, seja levá-la ele mesmo, jogando e trocando a bola com os seus companheiros; e sabe bem pressionar, estar sempre em cima do adversário e ir sempre com ele. O melhor que faz é a ocupação do espaço, é capaz de preencher muito bem a sua zona de ação, penso que a Liga Inglesa é a ideal para o seu jogo, vai retirar o melhor de si enquanto jogador.
Em ano de Mundial, os seus índices motivacionais não poderiam ser mais altos, já que joga numa montra como é a Premier, e é legítimo que possa pensar em chegar a um colosso, pois a sua qualidade, pelos menos para nós portugueses, não passa despercebida.
Foto de Capa: Leicester City FC