Anton Mitryushkin – A nova Cortina de Ferro do futebol russo

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    Se tivesse seguido as pisadas do seu pai, o jovem prodígio do Spartak Moscovo Anton Mitryushkin seria hoje jogador de hóquei no gelo, um desporto altamente popular em toda a federação russa e na ex-União Soviética, onde Vladimir se afirmou na modalidade durante a década de 1980.

    Anton, por seu lado, já afirmou por diversas vezes nutrir pouco encanto pelo desporto que fez do seu pai um dos heróis soviéticos há mais de 30 anos e, brincando um pouco com a situação, deu como desculpa o tamanho da bola (ou melhor, disco) para a sua falta de interesse pelo hóquei no gelo.

    Anton Mitryushkin nasceu em Krasnoyarsk, a terceira maior cidade da Sibéria, mas aos sete anos de idade mudou-se para Rostov, onde viria a dar os primeiros passos no futebol ao serviço do FC SKA Rostov-on-Don. Quatro anos mais tarde, Anton mudou-se para o outro clube da região, o FC Rostov, e foi durante a sua curta passagem por esta equipa que o jovem guarda-redes foi chamado para representar uma espécie de selecção local num torneio promovido pela DFL (uma organização pública que promove vários torneios com vista ao desenvolvimento de jovens jogadores no futebol russo). Foi nessa mesma competição que o jovem Anton conseguiu despertar a atenção dos olheiros do Spartak Moscovo, que estavam presentes no torneio, e, como consequência, com apenas 14 anos de idade, mudou-se de malas e bagagens para a academia do clube (Tarasovka), na capital russa.

    A vida em Moscovo era bem diferente daquela que tinha em Rostov, mas isso não impediu que Anton continuasse o seu desenvolvimento como guarda-redes e também como homem. A academia do Spartak, uma das melhores do antigo bloco de Leste, proporciona aos jogadores todo o acompanhamento de que necessitam quer na vida pessoal, quer na vertente desportiva e isso possibilitou a Mitryushkin tornar-se num jogador com uma maturidade e uma verticalidade impressionantes, especialmente para alguém que conta apenas com 19 anos de idade.

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    Anton ao lado do seu ídolo de infância Rinat Dasaev
    Fonte: sports.ru

    O trabalho desenvolvido no e pelo Spartak Moscovo proporcionou a Anton a possibilidade de representar o seu país primeiro na selecção de Sub-17 e mais recentemente ao serviço dos Sub-19 e dos Sub-21. Em 2013, no Campeonato Europeu de Sub-17, que teve lugar na Eslováquia, com apenas 17 anos de idade, Anton liderou e capitaneou a sua selecção com distinção, levando-os à vitória na final contra a poderosa formação italiana. Mitryushkin foi considerado o melhor jogador do torneio e teve um papel preponderante na meia-final e na final, defendendo uma mão cheia de grandes penalidades e marcando ele próprio o penúltimo penálti no jogo contra a Suécia na meia-final.

    O talento do jovem Anton não está, no entanto, circunscrito à defesa de grandes penalidades. Mitryushkin possui uma agilidade notável para alguém com 1,89 m de altura e é também detentor de um posicionamento absolutamente fantástico, que lhe permite um controlo quase total do jogo aéreo e das bolas junto ao chão, que são na grande maioria das vezes o calcanhar de Aquiles dos guarda-redes com a sua envergadura. O estilo de Anton confunde-se não poucas vezes com o do seu ídolo de infância, o lendário Rinat Dasaev. A extraordinária frieza que demonstra, algo muito pouco comum para alguém com a sua idade, e os seus movimentos dentro da pequena área trazem-nos à memória o homem que em 1988 foi considerado o melhor guarda-redes do Mundo pela IFFHS e que ficou conhecido no velho continente como “A Cortina de Ferro” ou simplesmente como o “Gato”.

    Mitryushkin tem a felicidade de poder treinar actualmente com o seu ídolo de infância, uma vez que Rinat Dasaev faz parte da equipa técnica do Spartak Moscovo, acompanhando muito de perto o desenvolvimento de todos os guarda-redes do clube. Dasaev, por seu lado, teve também curiosamente a mesma possibilidade que hoje em dia proporciona a jovens como Anton, já que privou durante muito tempo com o seu mentor, o inconfundível e incomparável Lev Yashin.

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    Uma das muitas defesas de Anton na final do Euro Sub-19, contra a Espanha
    Fonte: Página de VK de Anton Mitryushkin

    A nível internacional, o sucesso de Anton Mitryushkin não se ficou apenas pelo Campeonato Europeu de Sub-17, uma vez que foi também a estrela maior da sua selecção no Campeonato Europeu de Sub-19 que recentemente terminou na Grécia. Sob a batuta de Dmitry Khomukha, a equipa russa, da qual faziam parte muitos dos jogadores que já se haviam sagrado campeões na Eslováquia em 2013, chegou de forma algo surpreendente à final do torneio, mas caiu frente à poderosa armada espanhola, diga-se de forma inteiramente justa. Mitryushkin, por seu lado, voltou a demonstrar toda a sua qualidade e, durante a final, fez de tudo o que era possível e impossível para adiar os golos da selecção espanhola.

    Ao serviço do seu clube, no entanto, as coisas não têm corrido tão bem ao jovem Anton e muitos peritos na matéria questionam quando terá ele a oportunidade de mostrar todo o seu valor na primeira equipa do Spartak. A chegada de Dmitri Alenichev ao comando do histórico emblema moscovita poderá proporcionar a Anton uma oportunidade de ouro para lentamente poder ganhar o seu espaço na equipa, já que é sabido que um dos objectivos do novo treinador e do renovado departamento de futebol é dar lugar aos jovens que são formados na academia do clube. Actualmente na baliza do Spartak está Artem Rebrov, um guarda-redes experiente e capitão de equipa, cuja carreira demonstra alguma inconsistência e não faz, nem fez nunca, esquecer outros grandes nomes que defenderam as redes do clube, como Rinat Dasaev e Stanislav Cherchesov. Anton, que já afirmou ter como objectivo de carreira tornar-se o dono da baliza do Spartak, terá, por isso, de ser paciente e aguardar serenamente pela sua oportunidade, que irá certamente surgir mais cedo do que aquilo que todos esperam.

    Foto de capa: redwhite.ru

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    Joel Amorim
    Joel Amorimhttp://www.bolanarede.pt
    Foi talvez a camisola amarela do Rinat Dasaev que fez nascer, em Joel, a paixão pelo futebol russo e pelo Spartak Moscovo. O futebol do leste da Europa, a liga espanhola e o FC Porto são os tópicos sobre os quais mais gosta de escrever.                                                                                                                                                 O Joel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.