Está anunciado o fim de outro grande protagonista das campanhas ou do Valência, ou do Barça (e Atlético), mas também da Seleção de Espanha. Não vinha a ser verdadeiramente indiscutível na última, dada a concorrência de Fernando Torres, mas a partir do Mundial 2010 passou a ser diferente.
O seu ingresso no Barça aumentou a pressão para lhe ser dada a tarefa de homem golo nessa prova. Os já ditos candidatos à vaga única de homem área (função mais de pivot, na verdade) dos hispânicos vinham a ser a opção utilizada. Raúl abandonou depois de 2006, mas Torres, no auge da carreira, em grande no Liverpool, não lhe permitia, logicamente, alcançar um estatuto indiscutível.
No Valência foi figura de proa. Foi tido como um dos avançados mais rápidos e perigosos do futebol espanhol, beneficiando das assistências a pedir a desmarcação por parte de um outro David, que também teve a sua dose até conseguir figurar num meio campo tremendamente concorrido.
Uma Seleção de Espanha que realmente teve um leque alargado de opções a transbordar de qualidade. Um país que venceu três grandes competições consecutivas…
Esse ciclo partiu de outros. Cada qual tem o seu, que unidos por uma finalidade comum, permitem algo palpável. David Villa entrou no Barcelona para substituir Ibrahimovic. O sueco não foi compreendido por um técnico extremamente minucioso, seguríssimo de uma ideologia que já tinha reinado no velho continente. Um técnico que preferia o perfil de avançado dos quadros de Eto’o. David Villa ia, claramente, ao encontro desses traços.
Logo no primeiro ano, e indo à boleia do Mundial 2010, os blaugrana prolongaram uma senda de futebol em posse magistral. Como a posse, só por si, de pouco vale, a verdade é que a retenção do esférico até o incumbir num rasgue diagonal ou vertical para surpreender o adversário, encontrou em David Villa características multifacetadas e completamente compatíveis com o estilo. Mobilidade fugaz, combinação a primeiro toque, imprevisibilidade, e finalização diferenciada eram realmente com ele. Algo que, na minha visão, Suarez também possui.
Deixou de contar com a arquitetura de alto gabarito de David Silva, para ser servido não apenas devido à arte incumbida pelos geniais Xavi e Iniesta, mas pelo estilo de jogo que envolvia os onze jogadores. O futebol total idealizado e preconizado por Cruijff, “remasterizado” por Pep.
David Villa, após colaborar em grande plano e ser mesmo decisivo em tais ciclos, é embaixador, como muitos o tendem a ser. Esteve na MLS, e agora na Ásia. Craques como Iniesta e Villa foram ao Japão colher a sua receita legítima, e propagar de igual forma o intento de “La Masia”.
Estamos a pouco mais de um mês do encerramento do campeonato japonês, será mais um jogador da geração que cresci a acompanhar, a abandonar. Será seguramente uma lenda que serviu e servirá de exemplo em realidades diferentes da europeia. Em primeiro lugar, do futebol jogado, de igual maneira como o tratou de executar. Um jogador que ostenta um legado de glória, e não de luxos desmedidos. Um jogador de uma escola cada vez mais longínqua: a do futebol das ruas, cujos ídolos a também evidenciavam… Gracias, David Villa!
P.s.: Apesar da brilhante campanha individual no Mundial 2010, o golo a Portugal com recurso ao VAR podia ter conduzido a um desfecho diferente, pois Eduardo nessa prova encontrava-se a um nível “Ochoa”.
Foto de Capa: FIFA
Artigo revisto por Joana Mendes