Ferro: Um central de aço com um toque de porcelana

    Olhando de relance para o sucesso e para o bom futebol praticado pelo Benfica, desde a chegada de Bruno Lage, há certos executantes que se destacam e magnetizam assim para si toda a atenção do público. Rafa e toda a sua velocidade, Pizzi e o seu toque de bola e qualidade de passe, Gabriel e os seus passes típicos de quarterback, Florentino e a sua capacidade de posicionamento defensivo. Tudo isto capta a atenção dos adeptos encarnados e provoca aplausos em catadupa no Estádio da Luz. No entanto, para mim, há um jogador cuja importância para a equipa, tanto ofensiva como defensivamente, é claramente menosprezada, Ferro.

    Até dentro do próprio setor defensivo, Ferro acaba por ser algo desvalorizado face às exibições do seu companheiro no setor central da defesa, Rúben Dias. Em termos defensivos, Ferro é uma grande mais valia para o Benfica. Fazendo uso da sua boa estatura física (1.89 metros de altura), na época transata, Ferro ganhou 58,6%* dos duelos aéreos (*dados OptaSports trabalhados pelo Sofa Score), face aos 57% de Rúben Dias, jogador bem mais conhecido pela sua capacidade no jogo aéreo.  Já na questão dos duelos no solo, Ferro é também bastante eficaz ganhando 60% dos mesmos, mais 9% do que Rúben Dias que ficou pelos 51%.  Já em termos disciplinares, Ferro cometeu apenas 0,5 faltas por jogo, o seu compatriota Rúben Dias chegou às 1,6 faltas. Estes dados estatísticos, por muito relativos que possam ser, demonstram a capacidade que Ferro tem no posicionamento defensivo, na leitura do jogo e a sua eficácia no momento do desarme, eficácia essa que subiu para lá dos 75%.

    Ferro tem sido decisivo na equipa encarnada
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    Apesar de ser bastante competente defensivamente, é no momento ofensivo que o jovem central de 22 anos, se diferencia de grande parte dos centrais na Europa. A equipa de Bruno Lage aposta quase sempre na construção de jogo a partir de trás e com a recente mudança na regra do pontapé de baliza, que veio permitir a entrada dos defesas na área, a importância de ter centrais capazes de pensar e iniciar o jogo é cada vez mais fundamental. A perceção do jogo e a inteligência tática da qual Ferro dispõe, são características algo atípicas para um jogador de tão tenra idade. Ferro é capaz de ser decisivo no momento ofensivo em duas situações de construção diferentes:

    No caso da equipa encarnada enfrentar equipas com as linhas mais juntas e que não aposte na pressão alta, Ferro transporta o esférico, “invadindo” os espaços que se abrem pela inexistência de pressão, aproximando-se o mais possível do meio campo ofensivo e aí realiza passes verticais com a intenção de “quebrar linhas”, ou seja, que permitam que algum jogador do Benfica receba a bola mais perto da baliza adversária e que ao mesmo tempo esteja mais longe das primeiras linhas de pressão do adversário. Quando a equipa das águias enfrenta situações destas, quase sempre os laterais estão projetados dando “largura” à equipa e os extremos procuram espaço interior. Isto deixa a equipa algo vulnerável a um contra-ataque rápido do adversário, caso aconteça a perda da bola, tendo apenas os centrais recuados e possivelmente os médios na cobertura. Face a esta situação é absolutamente preponderante a ação e a qualidade de passe dos centrais. Ferro prospera nesta conjuntura tendo uns impressionantes 80% de passes completados para o meio campo ofensivo, números de elite a nível europeu. Os passes de Ferro não se limitam a ser direcionados para a zona correta ou para o jogador desmarcado, a bola sai quase sempre dos pés do internacional sub21 “com contrapeso e medida”, de forma a facilitar a receção orientada dos seus colegas, de forma a permitir a continuidade da jogada.

    Numa situação em que o Benfica sofra uma maior pressão na primeira fase de construção do jogo, em que o transporte de bola é dificultado, o camisola 97 das águias, opta quase sempre por passar o esférico aos laterais que, perante a pressão adversária, ajudam na construção, ou para um médio que baixe no terreno com a intenção de ligar o jogo. Neste capítulo, Ferro é igualmente eficaz, tendo uma taxa de acerto de 92% de passes dentro do seu próprio meio campo. Sobretudo nos jogos europeus, onde o Benfica terá que jogar necessariamente muitos minutos à procura de transições rápidas, a capacidade do passe longo torna-se um recurso fundamental na procura da baliza adversária. Esta será provavelmente uma das “melhores armas do arsenal” de Ferro. O jogador formado no Seixal, completa 63% dos passes longos, números incríveis em comparação com 90% dos centrais no mundo do futebol. Para que se tenha melhor noção, a eficácia de Ferro nas bolas longas é superior à de defesas centrais como Koulibally, Hummels ou Bonnuci, todos centrais de classe mundial e bastante elogiados pela sua qualidade de passe.

    Ferro ainda comete alguns erros defensivos e por vezes toma decisões erradas, mas estes erros apenas poderão ser reduzidos com a experiência dentro de campo. O que é certo é que o central do Benfica demonstra já muita qualidade, tanto defensivamente como ofensivamente, e tem ainda muita margem de progressão. Na minha opinião, o que mais diferencia Ferro dos restantes é a enorme maturidade tática e emocional da qual o jovem já dispõe. A manter o trajeto de progressão que já tem sido seu apanágio, não ficará muito mais anos em terras lusas.

    Foto de Capa: Carlos Silva/Bola na Rede

    artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Gonçalo Batista
    Gonçalo Batistahttp://www.bolanarede.pt
    O Gonçalo é atualmente aluno da Escola Superior de Comunicação Social, onde persegue o seu sonho de ser jornalista. Descobriu a emoção do desporto quando assistiu, juntamente com o seu pai, ao clássico entre o Glasgow Rangers e o Celtic. A partir desse momento o desporto tornou-se uma parte fundamental da sua vida. Apaixonado pela prática desportiva, segue o futebol em geral e a NBA religiosamente. Tem dois clubes de coração o Benfica, e o Clube Atlético de Queluz clube da terra, no qual é atleta desde os 6 anos.                                                                                                                                                 O Gonçalo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.