Ljubomir Fejsa: a muralha sérvia do Benfica

    No começo da temporada de 2013/14 circulavam os rumores da saída de Nemanja Matic para a Inglaterra, e o Benfica de Jorge Jesus não tinha outra opção óbvia para tapar o possível buraco no meio campo defensivo. Apesar de Matic só ter saído no mercado de janeiro dessa época, chega, oriundo do Olympiacos, Ljubomir Fejsa. Uma contratação talvez decidida apenas pela precaução e para dar maior profundidade ao plantel, Fejsa chegava como segunda opção para a sua posição, mal sabendo que se ia tornar num jogador chave do plantel.

    De segunda via para titular indiscutível:

    A contratação de Fejsa não causou grande furor nos adeptos benfiquistas. Vinha de um campeonato relativamente mais fraco, de um clube onde tinha estado apenas duas épocas e só numa delas foi titular. Antes disso, tinha jogado em dois clubes distintos no seu país de origem, o Partizan de Belgrado e o Hajduk Kula.

    Dada a saída de Matic no mercado de inverno de 2014, no plantel do Benfica só restava uma opção possivelmente viável para a posição de médio defensivo. Antes da saída do seu conterrâneo, Fejsa já tinha conquistado o lugar no 11 titular e ainda chegou a jogar ao lado de Matic em várias partidas, até porque na altura ambos jogavam como titulares na seleção da sérvia. Mourinho leva Matic e o meio campo defensivo fica entregue a Fejsa.

    Desde então Fejsa só teve de lutar pelo lugar no 11 contra dois fatores distintos: Andreas Samaris, e as lesões musculares.

    Samaris chegou no verão de 2014 para aprofundar o plantel e teve a “sorte” de Fejsa se ter lesionado gravemente no final da época anterior (quando André Gomes teve de tapar esse mesmo buraco, até na final da Liga Europa) e de ter de ver praticamente toda a temporada de 2014/2015 e a conquista do bicampeonato sentado na bancada. Na verdade, existe um padrão entre a titularidade de Samaris e as lesões de Fejsa. Depois dessa temporada vista pela janela do “hospital”, Fejsa ainda teve algumas lesões ao longo da sua carreira no Benfica, e foram precisamente nessas alturas que Samaris surge para ocupar o seu lugar. O ponto fraco de Fejsa é mesmo esse, as lesões, e na minha honesta opinião tem sido nos momentos em que o plantel do Benfica perde Fejsa que deixamos de ter a mesma eloquência defensiva ao longo dos jogos.

    Os números e a consistência:

    E eis o porquê de Fejsa ser tão valorizado no plantel do Benfica, porque se há algo que não engana são as estatísticas de jogo. Desde a época de 2015/16 que Fejsa faz exibições consistentes e de alto nível.

    Primeiro de tudo, é um médio defensivo que se mantém em campo todo o jogo, ou seja, faz os 90 minutos de quase todas as partidas (tem uma média de 85 minutos jogados desde 2016) e, para mim, no decorrer de uma partida, é pecado ter de substituir o médio defensivo que tem o meio campo e o próprio ritmo do jogo controlado. É muito importante o trinco ter a resistência física para aguentar jogar todos os 90 minutos de quase todas as partidas.

    Para além da resistência, há que ter eficácia. Fejsa mantém uma média de eficácia de passes de 90% desde a temporada 2016/17, tanto na Primeira Liga como na Liga dos Campeões. O número fala por si.

    Quando não está lesionado, Fejsa é quem segura o meio campo do Benfica, e protege a zona defensiva
    Fonte: Carlos Silva /Bola na Rede

    E no desarme? Não é por qualquer motivo que Fejsa bate todos os jogadores da Liga Portuguesa no ranking estatístico. Tal como o site do Sport Lisboa e Benfica noticiou (e é possível confirmar), Fejsa “foi o médio com mais desarmes e interceções na época 2017/2018”. Numa época em que o Benfica nem saiu com o título de campeão, não houve qualquer outro médio na Liga Portuguesa que igualasse a mestria defensiva de Fejsa. Foram 101 desarmes executados e 64 interceções de passe (com uma média de 2,29 interceções por jogo). Os números não enganam, nem as exibições do plantel. Arrisco-me a dizer que quando não há Fejsa, não há Benfica. Também costuma ser Fejsa dos jogadores que mais distância percorre do plantel do Benfica, sendo superado apenas por Pizzi.

    Nos últimos anos o único médio que ainda bate alguns números de Fejsa, mais especificamente, os passes realizados no meio campo defensivo, é o português Danilo Pereira, jogador do Futebol Clube do Porto, detentor de inegável qualidade, e comparável à de Fejsa que não só realiza passes na zona mais recuada, como também faz passes no meio campo ofensivo.

    Já são seis épocas ao serviço das Águias, e foi apenas no ano passado que Fejsa não foi campeão. Aliás, foi no falhanço da conquista do pentacampeonato do Benfica que Fejsa deixou de ser campeão seguidamente desde o início da sua carreira profissional como jogador de futebol. Foi tricampeão com o Partizan, bicampeão com o Olympiacos, e tetracampeão com o Benfica. No ano de transição entre o Olympiacos e o Benfica, foi campeão com os dois. Dá que pensar.

    Com 30 anos de idade, Ljubomir Fejsa ainda tem contrato com o Benfica até 2021. Espero eu que a consistência performativa do sérvio não se altere, e que se deixe ficar por estes lados pois faz cá muita falta.

    Foto de Capa: SL Benfica
    Artigo revisto por: Vanda Madeira Pinto

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    Jorge Baptista Laires
    Jorge Baptista Laireshttp://www.bolanarede.pt
    Adepto do Sport Lisboa e Benfica, do clube da sua terra, e, principalmente, da verdade desportiva. Despreza fanatismos clubísticos, tendo sempre uma opinião formada no que vê do próprio jogo jogado.                                                                                                                                                 O Jorge escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.