Quatro anos após o Mundial da Nova Zelândia, que consagrou pela segunda vez a equipa da casa, a Inglaterra veste-se de gala para receber as vinte melhores selecções a nível mundial – Nova Zelândia, Austrália, País de Gales, África do Sul, Irlanda, França, Argentina, a própria Inglaterra, Escócia, Fiji, Japão, Tonga, Itália, Geórgia, Samoa, Estados Unidos, Roménia, Canadá, Uruguai e Namíbia. Com a ambição de vencer o seu segundo Campeonato do Mundo, igualando a Nova Zelândia, a Austrália e a África do Sul, com dois títulos cada, a equipa de Stuart Lancaster tinha em mãos não apenas a organização da competição, mas também a responsabilidade de fazer História no seu próprio território, sendo inclusivamente apontada como a principal favorita a arrecadar o troféu.
Logo a abrir, a primeira jornada do mundial exemplificou bem a razão pela qual o rugby é considerado um desporto mais justo e imprevisível do que o comum: a África do Sul foi batida pelo Japão numa partida que marcará para sempre a História do rugby nipónico. A partir daí, o mundo ficou de olhos postos nos comandados de Eddie Jones, que ainda venceram Samoa e Estados Unidos, tendo ficado muito perto do apuramento para os quartos-de-final. Já os Springboks não desmoralizaram com a surpreendente derrota na jornada inaugural e venceram os restantes jogos da fase-de-grupos confortavelmente, demonstrando que a derrota frente ao Japão foi apenas um lapso que não deixou qualquer tipo de mazela. A juntar-se à África do Sul no Grupo B, também a Escócia se classificou para os quartos-de-final.
Para lá da derrota contra os sul-africanos, os Highlanders não encontraram quaisquer dificuldades para vencer Japão e Estados Unidos, e contra a Samoa, no jogo decisivo para concretizar as suas aspirações, venceram dramaticamente numa partida disputada em intensidade frenética. Na segunda ronda, o pesadelo da Inglaterra começaria a desenhar-se: após uma entrada convincente frente às Fiji no primeiro jogo, um equilibradíssimo duelo com o País de Gales – que se viria a resolver nos detalhes – ditava aquela que seria a primeira derrota para os homens de sua majestade.
Os ingleses viam-se, dessa forma, obrigados a derrotar a Austrália por forma a manter intacto o sonho de serem campeões do Mundo em casa. Mas, o que se seguiu foi a depressão inglesa: a Austrália superiorizou-se em tudo no embate de gigantes e venceu a Selecção da Rosa com algum à-vontade desconfortante para os admiradores do rugby inglês. A quarta partida serviu apenas para cumprir calendário e a Inglaterra venceu, por larga margem, a frágil selecção do Uruguai.
A selecção da casa fez História pela negativa, ao tornar-se na primeira selecção organizadora a ser derrotada na fase-de-grupos de um Campeonato do Mundo. Azar de uns… Sorte de outros! Os Wallabies foram a selecção mais compacta da fase-de-grupos, saldando por vitórias todos os duelos.
O ”grupo da morte” não intimidou os australianos, que apenas tiveram que se preocupar no último encontro frente ao País de Gales – quem ganhasse a partida venceria o grupo e evitaria confrontar a África do Sul já nos quartos-de-final da prova. O jogo entre as duas selecções revelou-se o mais táctico (até ao momento) da competição e, mesmo sem qualquer ensaio marcado em toda a partida, os pupilos de Michael Cheika cantaram vitória no final do jogo. Para além de derrotar a equipa organizadora e ser derrotado pelos australianos, o País de Gales assumiu-se como uma equipa assertiva, o que lhe garantiu o apuramento para a fase seguinte. Fiji e Uruguai foram presas fáceis para os galeses, que não deixaram créditos por mãos alheias e escaparam, à semelhança da sua congénere australiana, sãos e salvos do ”grupo da morte”.
No Grupo C, todas as expectativas estavam voltadas para o que a selecção neo-zelandesa poderia fazer, e a verdade é que, com maior ou menor esforço, os All Blacks não defraudaram e cumpriram com o que era expectável: quatro jogos, quatro vitórias incontestáveis – ainda que a selecção argentina tenha assustado logo na primeira jornada. Os Pumas, depois de uma boa réplica frente à Nova Zelândia, cerraram os dentes e foram à luta, vencendo os três posteriores jogos (versus Geórgia, Tonga e Namíbia), sempre com mais coração do que cérebro.
Finalmente, a Irlanda liderou o único grupo composto apenas por países do hemisfério norte, com quatro países europeus – a própria Irlanda, França, Itália e Roménia – e o Canadá. Os homens de Declan Kidney não apresentaram um rugby brilhante – para já – mas demonstraram-se eficazes e venceram todas as partidas desta fase. A França acompanha os irlandeses até aos quartos-de-final, após um percurso que parecia inatacável – ao qual a Irlanda viria a colocar um ponto final na última jornada.
A primeira fase está concluída, mas o Mundial não pára e os quartos-de-final do Campeonato do Mundo arrancam já no próximo fim-de-semana, e, numa fase já a eliminar, prometem trazer (ainda) mais emoção à competição.
A África do Sul defrontará o País de Gales, naquele que será o jogo grande desta fase. Ainda que tenham surgido muitas lesões e problemas físicos pelo meio, os galeses têm dado conta do recado e os Springboks já demonstraram que, quando não estão nos seus dias, são capazes do pior. Jogo com prognóstico difícil, mas que deverá pender para os sul-africanos.
Os All Blacks irão medir forças com os gauleses, naquele que se perspectiva ser o duelo mais desequilibrado dos quartos-de-final. Os franceses contam com uma das principais ligas de rugby profissional do mundo – o Top-14 – e nacionalizaram atletas de origem neo-zelandesa, sul-africana e fijiana que estão no mundial. No entanto, teimam em descurar o seu jogo – o seleccionador Philippe Saint-André tem culpas no cartório – e demoram a afirmar-se como uma selecção forte e constante. Mas a França saiu do último Campeonato do Mundo como vice-campeã mundial, exactamente por ter perdido a final para a… Nova Zelândia – e tem agora uma oportunidade soberana para se redimir.
Irlanda e Argentina irão protagonizar mais um duelo que promete ser bastante disputado. Ambas deram boa conta de si na primeira fase, sendo que a Irlanda soube controlar e dominar os seus jogos, enquanto a Argentina foi conquistando ponto a ponto ”na raça”. A selecção europeia parte com alguma vantagem… Mas pouca!
A selecção australiana terá pelo caminho os escoceses comandados por Vern Cotter. Se a Austrália se mostrou implacável na fase-de-grupos, os Highlanders apenas perderam com a África do Sul. No entanto, e tendo em conta a qualidade e resistência mostrada pelos Wallabies ao derrotar duas das melhores selecções do mundo, enquanto a Escócia apenas derrotou – para já – selecções secundárias do rugby mundial, a vitória não deverá escapar aos australianos.
Imagens retiradas do site do mundial